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Bolsonaro critica 'pressa' por vacina contra a covid: 'Não se justifica'

Do UOL, em São Paulo

19/12/2020 19h08Atualizada em 20/12/2020 11h49

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a dizer que a pandemia está "chegando ao fim", ainda que os números indiquem o oposto, e questionou a "pressa" pela aprovação de uma vacina contra a covid-19. A declaração é semelhante à do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que recentemente sugeriu não entender por que há tanta "ansiedade" pelo imunizante.

"A pressa pela vacina não se justifica, porque você mexe com a vida das pessoas", disse o presidente durante entrevista conduzida por seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). "Não há guerra, não há politização da minha parte. Nós esperamos uma vacina segura. Parece que a Inglaterra começou a vacinar agora. Por que a gente tem que ser o primeiro?"

O Brasil só apresentou seu plano nacional de imunização contra o coronavírus nesta semana, e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ainda não recebeu nenhum pedido de empresas ou laboratórios para uso emergencial da vacina. Países como Estados Unidos, Reino Unido e Israel já começaram a imunizar sua população.

Bolsonaro ainda disse haver interesse por parte de governadores nos R$ 20 bilhões liberados pelo governo federal para a compra da vacina. Ele não citou nomes, mas a declaração foi uma resposta à pergunta de Eduardo que mencionava o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com quem o presidente vem travando embates públicos.

"Aguarda um pouco mais, você mexe com a vida das pessoas. Alguns estão afoitos para tomar, eu entendo que o cara está preocupado, quer se imunizar. Mas às vezes um pouquinho mais de paciência... Acho que a prudência é importante neste momento. Governador, não estamos com pressa em gastar dinheiro, nossa presa é salvar vidas", afirmou.

Liberdade a estados

A ausência de pressa por parte do governo federal pode, na prática, nem influenciar o início da imunização no Brasil. Isso porque o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu uma liminar permitindo que estados e municípios distribuam vacinas mesmo se a Anvisa não autorizá-las em até 72 horas, desde que os imunizantes tenham sido aprovados por autoridades estrangeiras.

A permissão também é válida caso o plano nacional de vacinação contra a covid-19 seja descumprido ou "não proveja cobertura imunológica tempestiva e suficiente contra a doença", definiu Lewandowski. Neste caso, estados e municípios podem distribuir e aplicar as vacinas das quais disponham, se aprovadas pela Anvisa.

O diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, prometeu cumprir a decisão do STF. Ele explicou que, em função do volume de informações envolvidas, pode ser "difícil" cumprir prazos, "mas nem por isso deixaremos o plano de tentar esse cumprimento".

"Tão logo ela [a decisão] chegue para nós com as suas determinações, nós faremos todo o possível para o acatamento integral do que está ali preconizado", disse Torres à CNN Brasil. "Aguardamos obter formalmente essa definição para que possamos fazer os ajudes necessários. Nossa conduta está sempre pautada na legalidade."

Números em alta

De ontem para hoje, o Brasil registrou 678 novas mortes pela covid-19, chegando a um total de 186.365 óbitos desde o início da pandemia. As informações foram levantadas pelo consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.

Nos últimos sete dias, a média de mortes foi de 746 — o que representa variação de 27% em relação à taxa de 14 dias atrás. São 16 dias seguidos em que o Brasil apresenta alta na média móvel de mortes, o que contradiz a tese de Bolsonaro de que a pandemia estaria "chegando ao fim".

Todas as regiões apresentam aceleração na taxa. Entre os estados, 18 deles e o Distrito Federal registraram alta, seis permanecem estáveis e somente o Piauí e o Tocantins apresentaram queda.

Ainda segundo o consórcio, foram confirmados 48.758 novos testes positivos de covid-19 entre ontem e hoje. Desde o início da pandemia, 7.212.670 pessoas foram infectadas.