Com discurso ufanista, Pazuello diz que cobrança por vacina é 'ansiedade'
Pressionado pelo impasse relacionado às vacinas em estudo contra a covid-19, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, questionou hoje o que chama de "angústia" e "ansiedade" para que o Executivo deixe de lado as disputas políticas e apresente resoluções quanto ao processo de imunização.
Enquanto países como Estados Unidos e Reino Unido já estão em fase de vacinação, o governo brasileiro avalia questões como a marca da vacina a ser investida e se ela será ou não obrigatória para a população. Detalhes logísticos também ainda não foram esclarecidos, mas o ministério afirmou que acredita que no final de fevereiro pode começar a campanha.
"Somos os maiores fabricantes de vacinas da América Latina. Somos referência e estamos trabalhando", declarou Pazuello durante a apresentação do Programa Nacional de Imunização, no Palácio do Planalto, na manhã de hoje.
Na avaliação do ministro, o governo federal não fez nada de errado até agora no combate à pandemia e, especificamente, no plano de vacinação.
"Temos 300 milhões de doses negociadas, algumas com recursos para isso. Temos provisão de MP [Medida Provisória] a ser assinada de R$ 20 bilhões. Temos capacidade de transcender e superar desafios. E ao final, toda vez sai mais forte, confiante e mais unido", avaliou.
Não vejo, e coloco aqui um pouco da minha história, não vejo nada errado. Se tivesse visto teria corrigido. Estamos no caminho certo e juntos, não podemos abrir mão de tratar como país.
Eduardo Pazuello
Defesa do PNI
O ministro adotou tom ufanista e buscou repetidamente passar uma mensagem de confiança na qualidade do sistema público de saúde. Na visão dele, existiria "desinformação" a respeito da "capacidade do Brasil para conduzir essa missão".
"Quando a gente tem noção do tamanho do PNI [Programa Nacional de Imunização], vê quanta desinformação corre a respeito da capacidade do Brasil para conduzir essa missão. Vamos nos orgulhar da nossa capacidade. Não foi feita por mim. Isso é o planejamento", disse.
"Foram nossos antecessores que criaram o SUS [Sistema Único de Saúde], organizaram o PNI. Então vamos levantar a cabeça. Acreditem: o povo brasileiro tem capacidade de ter o maior sistema único de saúde do mundo."
O governo Bolsonaro tem sido criticado pela demora para dar encaminhamento aos processos referentes a vacinas em estudo.
A lentidão é resultante de um contexto de disputa política entre o presidente — que já declarou publicamente não ser um entusiasta da imunização contra o coronavírus — e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O estado aposta nas pesquisas com a vacina de origem chinesa, a CoronaVac, que está sendo fabricada no Instituto Butantan.
Ontem à noite, em entrevista à "Band", Bolsonaro afirmou que "não tomará a vacina e ponto final".
"Minha vida está em risco? O problema é meu", disse o presidente, que já contraiu a covid-19, em março. Além de pessoalmente não aderir à imunização, o governante tem dito ser contra a obrigatoriedade da vacinação.
Apesar de seus posicionamentos, Bolsonaro ressaltou ontem que dará sinal verde à compra e aplicação de todos os imunizantes que forem autorizados pela Anvisa.
Papel da Anvisa
No discurso de hoje, Pazuello também fez questão de destacar o papel da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, pasta independente que tem a atribuição de chancelar ou não os estudos científicos sobre vacinas.
Não podemos colocar em dúvida a credibilidade da nossa Anvisa. Cuidado com quem fala da nossa Anvisa. É nossa referência mundial. É independente. É agência de estado. Tudo está sendo feito com critérios técnicos e de segurança para todos."
Eduardo Pazuello
O ministro disse ainda garantir que "todos os estados serão tratados de forma igualitária e proporcional".
"Todas vacinas produzidas no Brasil, por Butantan ou Fiocruz, terão prioridade do SUS. Isso está pacificado. Está discutido. Está muito bem tratado e acompanhado. Qualquer fumaça ou discussão anterior ficou na discussão. Estamos afirmando que todos brasileiros receberão vacina de forma grátis, igualitária e proporcional nos postos. Vacinas registradas e garantidas na segurança e eficácia. Não podemos brincar com saúde da população."
De acordo com ele, é preciso esperar o trâmite regulatório da Anvisa antes de implementar a campanha. "Se nós conseguirmos manter o planejado do Butantan e do Fiocruz, de apresentar fase 3 de estudos, e toda documentação ainda em dezembro e solicitar registro, teremos janeiro para análise da Anvisa, e possivelmente em meados de fevereiro pra frente estejamos com vacinas recebidas e registradas pra iniciar o plano", destacou Pazuello.
*Colaboraram Stella Borges e Allan Brito, em São Paulo
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