Topo

Cidades do interior registram 6 em cada 10 novos casos de covid-19

Equipes atendem população com covid em Portel na Ilha de Marajó (PA) - Raimundo Pacco/UOL
Equipes atendem população com covid em Portel na Ilha de Marajó (PA)
Imagem: Raimundo Pacco/UOL

Carlos Madeiro e Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, em Maceió e em Curitiba

20/12/2020 07h40

Cidades fora das regiões metropolitanas de capitais estão registrando mais de seis em cada 10 novos casos de covid-19 no país. Na semana entre 29/11 e 5/12 essa média chegou a 62%, segundo boletim do Ministério da Saúde. Na primeira semana epidemiológica de maio (de 3 a 9/5), a participação destes municípios era de 27% e veio crescendo.

Inicialmente, a pandemia se concentrou basicamente em grandes centros. Com o passar das semanas, os casos foram se deslocando para cidades de menor porte. Hoje, todas as 5.570 cidades do país têm pelo menos um caso registrado.

Em Cascavel (PR), mais de 200 pessoas já morreram de covid-19 e o número de casos segue crescendo. Em junho, quando a cidade registrou seu primeiro pico de infecções, foram registrados até 579 novos casos num único dia. Já na semana passada, a prefeitura chegou a registrar mais de 700.

A quantidade de pacientes internados em UTIs também subiu de 28 para 47 no mesmo período.

O secretário municipal de Saúde, Thiago Daross Stefanello, afirmou ao UOL que a situação da pandemia no município é "bastante preocupante". Para ele, o aumento das infecções tem a ver com aglomerações registradas nos feriados da Independência (7 de setembro) e da Padroeira (12 de outubro). Está também relacionado à falta de responsabilidade da população.

"A pandemia está aí há 10 meses. Chegamos num momento de menos decretos [do Poder Público] e mais responsabilidade individual", afirmou. "Não é preciso fazer um decreto dizendo que não se pode furar o sinal vermelho pois todos sabem os riscos. Os riscos da pandemia também já foram divulgados."

Comércio em Presidente Prudente (SP), onde hospitais registram lotação de 100% dos leitos de UTI - Marcos Sanches/Secom - Marcos Sanches/Secom
Comércio em Presidente Prudente (SP), onde hospitais registram lotação de 100% dos leitos de UTI
Imagem: Marcos Sanches/Secom

No interior de SP, chegou-se a cogitar fechar centro de triagem, agora novamente procurado

O secretário de Saúde de Presidente Prudente (SP), Valmir da Silva Pinto, também reclama da falta de colaboração da população local e se preocupa com as consequências disso. "Tivemos casos de festas clandestinas com mais de 700 pessoas na cidade. Todos sabem que é proibido. Isso aí impactou muito no atual quadro da pandemia na cidade", afirmou.

Em Prudente, em agosto, houve dias em que até 70 pacientes com covid-19 estavam internados -desses, 25 estavam na UTI. Já em dezembro, houve até 79 internações por covid-19 -29 na UTI. "Teve cliente de plano de saúde que não conseguiu vaga em hospital privado, em hospital público e teve que ir para UPA [Unidade de Pronto Atendimento]", relatou o secretário.

"A gente até pensou em fechar um centro de triagem de pacientes com covid-19 em novembro porque os casos tinham diminuído", complementou. "Agora, vemos um novo crescimento. A situação é bastante delicada."

Secretário cita impacto de aglomerações durante eleições no Pará

Em Portel (PA), na Ilha de Marajó, após viver dias mais calmos, o crescimento de casos já salta aos olhos. "Estávamos em uma média de um caso detectado por dia há três meses. Agora estamos com média de cinco", conta a médica cubana Dayse Bustamante, que trabalha em um posto de saúde na zona urbana da cidade.

A cidade fica em uma das regiões mais pobres do país e tem dificuldade histórica em serviços de saúde, com uso de barcos para levar atendimento à população.

Segundo o secretário de saúde da cidade, Nizomar Monteiro da Costa Júnior, os casos aumentaram por conta das aglomerações geradas no período eleitoral. "Existe aqui um caso de reinfecção e outros têm demonstrado severidade em pacientes com comorbidade", conta.

Segundo ele, o pico da doença na cidade ocorreu entre maio e junho, mas a cidade escapou de uma situação mais crítica. "Não entramos em colapso na primeira e até o momento não sinaliza para a segunda onda", completa.

Até agora foram 2.029 casos confirmados na cidade, com 55 mortes. Na terça-feira havia seis moradores de Portel internados por covid-19.

Covid-19: funcionários da Saúde fazem inspeção de temperatura em passageiros no aeroporto de Petrolina (PE) - Jonas Santos/Divulgação - Jonas Santos/Divulgação
Funcionários da Saúde fazem inspeção de temperatura em passageiros no aeroporto de Petrolina (PE)
Imagem: Jonas Santos/Divulgação
Cidade vivencia recordes de casos em Pernambuco

Na margem do rio São Francisco, Petrolina (PE) é a maior cidade do sertão pernambucano e referência para quase dois milhões de pessoas que vivem no entorno, entre os estados de Pernambuco e Bahia. Na terça-feira, o município confirmou 164 casos, um a menos que o recorde até aqui —registrado dia 4 de novembro, quando foram 165 casos.

Segundo Lorena Andrade, diretora de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde, os casos vêm crescendo desde novembro. "Até o mês de junho vinha uma onda de crescimento. Depois, reduziu. Agora a gente começou a notar uma nova curva ascendente, mas nada fugiu do que esperava", diz.

O número alto de casos, porém, ocorre muito em função da testagem em massa feita pelo município —são mais de 300 por dia. "A gente não considera [essa alta] uma segunda onda, mas sim uma continuação da primeira, algo já esperado. Nós sempre notamos os reflexos desse aumento em eventos na cidade", explica.

Por conta da nova alta e procura por serviços, o governo do estado precisou reabrir na segunda-feira 10 leitos de UTI na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da cidade, além de mais 20 semi-intensivos. Nos próximos dias, outros 10 leitos devem ser abertos.

Assim como a maioria das cidades do interior do Nordeste, o município não conta com um hospital próprio e, para atendimento a pacientes com covid-19, abriu um hospital de campanha com capacidade de 100 leitos, que recebe hoje de sete a oito pacientes lá por dia.

O município também desde março fez um plano de contingência, que reformulou a atenção básica para atender o máximo possível de sintomáticos e fazer grande número de testagem com sintomáticos e profissionais de serviços essenciais.