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Brigamos por seringa, mas vacina mesmo ainda não temos, dizem empresas

Associação garante que vai haver fornecimento de insumos para imunização - SIPHIWE SIBEKO
Associação garante que vai haver fornecimento de insumos para imunização Imagem: SIPHIWE SIBEKO

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

05/01/2021 14h50

A Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos) diz que não haverá falta de seringas no Brasil para a vacinação contra a covid-19. "Não vamos ter problemas no fornecimento que seja compatível com aquele volume de vacinas que nós vamos ter", diz Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da Abimo, que faz uma ressalva: hoje, praticamente não há vacina no Brasil.

Nós estamos brigando pela seringa, mas a vacina mesmo ainda eu não tenho nada.
Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da Abimo

Ontem, Fraccaro se reuniu com o Ministério da Saúde, para discutir o abastecimento de seringas para o mercado brasileiro.

O governo federal trabalha com a possibilidade da chegada, ainda neste mês, da vacina da farmacêutica AstraZeneca, feita em parceria com a universidade de Oxford. No Brasil, a produção ficará a cargo da Fiocuz (Fundação Oswaldo Cruz), com previsão de 210 milhões de doses em 2021. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já aprovou a importação de 2 milhões de doses do imunizante.

Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) promete começar a vacinação no próximo dia 25, com a CoronaVac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, que está sendo produzida na capital paulista. A administração estadual afirma que já adquiriu 71 milhões de seringas e agulhas para a imunização —o número representa 71% da previsão inicial do tucano.

Para que as vacinas sejam aplicadas, é necessária aprovação da Anvisa. Até agora, a agência não registrou nenhum imunizante contra a covid-19.

Fracasso

A reunião de ontem com o Ministério da Saúde aconteceu após o fracasso do pregão de 29 de dezembro, em que a pasta conseguiu comprar apenas 2,4% do que desejava para a imunização contra a covid-19 no Brasil. A Abimo diz que garante que haverá o fornecimento dos insumos necessários para a vacinação.

Sobre a licitação, Fraccaro diz que os preços de referência apresentados pelo governo estavam "extremamente defasados da realidade". "A informação que tivemos é que o governo está ajustando o preço de referência", diz. "Não vamos ter problema nenhum de fornecimento das seringas."

Sobre as decisões do Brasil de restringir exportações e da proposta de isenção da tarifa da importação de itens necessários para a vacinação, a Abimo avalia que o governo "tem que usar todas as ferramentas necessárias".

"O governo, é lógico, sem saber o que vai acontecer no próximo edital, o que ele está fazendo é segurar todas as vendas que não são diretamente para necessidade brasileira para garantir as seringas aqui", diz Fraccaro. Ele, porém, acredita que, após o novo edital, a portaria poderá ser revista pelo governo.

Pedra machuca

O superintendente da Abimo evita fazer críticas sobre a falta de planejamento do governo a respeito da compra de seringas para a vacinação contra o novo coronavírus, que já contaminou mais de 7,7 milhões de brasileiros e provocou a morte de quase 200 mil pessoas no país.

Neste momento, em que a casa está pegando fogo, tem que chamar o bombeiro. Não adianta eu reunir com a família na sala e entender o que deixaram de fazer para que a casa pegasse fogo.
Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da Abimo

Fraccaro lembra que, em julho, quando o foco estava na busca por ventiladores, máscaras e álcool em gel, a Abimo levantou a questão das seringas. "Levamos essa preocupação. Agora, se o governo fez, eu não vou ficar analisando, não cabe a nós analisar. O que cabe é acharmos uma solução para o momento que estamos vivendo agora." Para ele, "se ficar tacando pedra, eu vou machucar alguém e continuo sem o problema solucionado."

Anualmente, as empresas ligadas à Abimo produzem cerca de 1,5 bilhão de seringas, que já são utilizadas rotineiramente. Para atender as necessidades da pandemia, é necessário fazer uma produção extra. Porém, ele lembra que as empresas terão que "ir atrás de material, de mão de obra, material de embalagem".

Fraccaro acredita que os pedidos novos podem levar de 30 a 45 dias para serem distribuídos, mas vê a possibilidade de rearranjo de entregas de pedidos de outros clientes que tenham prazo maior de entrega.