Criticada por Pazuello, Pfizer diz que ofereceu vacina em agosto; entenda
A farmacêutica Pfizer negocia a venda de vacinas com o Brasil desde junho do ano passado, um mês antes de assinar um acordo confidencial com cláusulas semelhantes às que foram aceitas pela União Europeia e mais 12 países, 6 deles latino-americanos. É assim que o laboratório americano respondeu ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que ontem (7) pediu condições especiais para comprar as 70 milhões de doses ofertadas pela farmacêutica em 15 de agosto.
As exigências do ministro ocorreram durante o anúncio da compra de 3 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Janssen, da Johnson & Johnson. A resposta da Pfizer foi dada na noite do mesmo dia. Entenda o caso:
O que exige Pazuello?
O ministro se queixou ontem de pelo menos quatro exigências da Pfizer, entre elas a isenção de responsabilidade por eventuais efeitos colaterais pela vacina.
"Isso tudo obviamente faz com que a gente não consiga contratar a Pfizer", disse. "Queremos que a Pfizer nos dê o tratamento compatível com o nosso país, amenize essas cláusulas. Não podemos assinar dessa forma."
Em dezembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já havia ironizado o imunizante da Pfizer/BioNtec: "Lá no contrato da Pfizer, está bem claro nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu".
Por que a Pfizer se nega a afrouxar as regras?
O laboratório diz que "não pode comentar detalhes da negociação" por se tratar de um acordo de confidencialidade assinado em julho, "mas afirma que as cláusulas apresentadas ao governo estão em linha com os acordos fechados em outros países do mundo".
"Inclusive na América Latina. Diversos países já começaram a vacinação, salvando vidas", diz a farmacêutica, ao citar contratos com a União Europeia (27 países), Estados Unidos, Japão, Israel, Canadá, Reino Unido, Austrália, México, Equador, Chile, Costa Rica, Colômbia e Panamá.
Quando começaram as negociações?
Segundo a companhia, ela iniciou negociações simultâneas com diversos países, "inclusive com o governo brasileiro, por meio de tratativas que se iniciaram em junho de 2020".
Em 31 de julho, o acordo de confidencialidade foi assinado e em agosto a primeira das três propostas chegou.
O que dizia a proposta?
Sem revelar custos, a farmacêutica afirma que propôs em 15 de agosto entregar 70 milhões de doses ao Brasil a partir de dezembro do ano passado.
Ao todo, a farmacêutica espera produzir 1,3 bilhão de doses em cinco fábricas nos EUA e na Europa até o final de 2021.
Quanto custa a vacina da Pfizer?
Nem a Pfizer nem o governo brasileiro revelam o preço negociado. As 100 milhões de doses vendidas aos Estados Unidos saíram por US$ 19,50 (aproximadamente R$ 104). O valor é muito superior aos US$ 3,16 (R$ 17) das vacinas da Oxford/ AstraZeneca e aos US$ 10,30 (R$ 55) da Coronavac, fabricada no Instituto Butantan.
Outra desvantagem são as condições exigidas para armazenamento: o imunizante precisa de -70 ºC, enquanto outras vacinas, como a do Butantan, permanecem em segurança se guardadas em geladeira comum.
A vacina precisa de duas doses para a eficácia máxima. A segunda deve ser aplicada três semanas depois da primeira.
Por que ela é tão cara?
Enquanto as vacinas tradicionais utilizam o vírus inativado ou enfraquecidos, o imunizante da Pfizer se vale do RNA mensageiro.
Os cientistas utilizaram parte do código genético do vírus em uma molécula sintética programada para instruir as células do corpo a produzir anticorpos.
Desenvolvido nos anos 1990, o método ainda não havia sido utilizado em nenhuma vacina para humanos. Com 95% de eficácia —frente a 78% da Coronavac—, a novidade foi bem recebida pela comunidade científica.
As negociações terminaram?
De acordo com a Pfizer, não. Em nota, diz que "ainda aguarda a decisão do governo brasileiro para estabelecer um contrato de fornecimento", que "continua" o processo de submissão de sua vacina junto à Anvisa "e permanecerá à disposição do governo para concretizar um acordo que beneficie os brasileiros".
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