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Preocupação é Anvisa, resto pode esperar, diz Dimas, sem detalhar eficácia

Do UOL, em São Paulo

11/01/2021 11h40

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que no momento a sua preocupação é com a aprovação emergencial pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) do uso da CoronaVac contra a covid-19. Segundo ele, "o restante pode aguardar". Questionado sobre a eficácia geral da vacina paulista, Covas manteve apenas os números já divulgados, que trazem recortes parciais sobre o efeito imunizante: 78% nos casos leves e 100% nos casos graves.

"Neste momento, o que importa é a Anvisa. Eles que têm que dar o parecer, trabalhamos em função de prioridades, que isso ande rápido e tenhamos autorização do uso da vacina. O restante pode aguardar, é secundário, porque não vai interferir na urgência", afirmou ele ao UOL Entrevista, conduzido pelo repórter Nathan Lopes e o colunista Ricardo Kotscho..

"Estamos falando de 400 pessoas por dia [em menção à mortalidade da covid-19 no Brasil]. O senso de urgência nesta hora é tudo. Não estávamos vivendo uma situação normal, a situação exige atitudes ousadas como as que estamos fazendo. Se não tivéssemos começado isso em abril, não teríamos vacina no Brasil", completou.

O pedido para o uso emergencial da vacina foi feito à Anvisa na última sexta-feira (8). A agência, que tem prazo de dez dias para avaliar o pedido, exigiu mais informações do instituto.

O governo do estado de São Paulo apresentou na semana passada os dados da eficácia da CoronaVac, sendo de 78% em casos leves e de 100% em casos graves. A eficácia geral deve ser anunciada nesta terça, segundo anunciado hoje.

A dúvida sobre a eficácia geral da CoronaVac

Covas reafirmou que a eficácia da CoronaVac "é de 78% para casos leves da doença e 100% para casos graves e moderados", sem dar detalhes da eficácia geral do imunizante, dado que deve ser anunciado nesta terça-feira, segundo o governo de São Paulo.

"Não existe dúvida sobre a eficácia clínica da CoronaVac. Se você quer saber o efeito, é este efeito que foi anunciado: 78% para casos leves e 100% para casos graves e moderados. Essa é a eficácia, isso que importa, a eficácia clínica", afirmou Covas. Hoje a Indonésia aprovou o uso emergencial da mesma vacina relatando eficácia de 65,3%.

Covas afirmou que cabe à Anvisa se debruçar "nos pormenores dos dados" ao dizer que "paralelamente" o instituto também está "olhando esses dados".

"Brevemente estamos programando uma conferência científica onde apresentaremos esses dados em pormenores", afirmou ao dizer que o Butantan informou "o que importa para a vacina", que é a sua eficácia, "o poder de diminuir o número de casos graves, óbitos e que precisam de assistência médica".

Não só a eficácia geral, mas para faixas etárias, comorbidades. Neste momento, o que importa é a análise da Anvisa e solicitação de uso emergencial
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan

Pressão sobre o governo federal

O diretor do Butantan criticou as "idas e vindas" do Ministério da Saúde, que chegou a anunciar a incorporação da CoronaVac no ano passado, mas depois voltou atrás e hoje ainda precisa decidir sobre uma data para o início do PNI (Programa Nacional de Imunização). O diretor, contudo, minimizou a iniciativa do Ministério da Saúde de ficar com todas as vacinas do Butantan ao dizer que "essa vacina precisa chegar ao braço do brasileiro, se vai ser A, B ou C, eu vou ficar satisfeito".

"O que não podemos ficar confortáveis é com 6 milhões de doses na prateleiras e elas não serem usadas", disse. "O objetivo do Butantan é trazer essa vacina o mais rapidamente possível, e por mim já estaríamos usando essa vacina."

"É uma atuação um pouco vacilante e responsiva à pressão, que foi colocada pelo programa de vacinação [paulista], que levou boa parte dos estados e municípios a buscarem o Butantan pela vacina, exerce uma pressão muito grande [sobre o governo federal]", disse.

Covas criticou a suspensão do estudo clínico com a CoronaVac por parte da Anvisa, em novembro, após a morte de uma pessoa sem relação com o imunizante.

"Aquilo foi uma atitude impensada (...), Nunca imaginei que poderia acontecer em um país que vive um plenitude democrática, com instituições consolidadas e abertas", afirmou Covas, que minimizou o pedido da Anvisa, feito no sábado, por mais dados para aprovar a CoronaVac.

Da outra vacina também precisamos saber o que está se falando. Foram apresentados dados discordantes, mas todas as vacinas têm que ser discutidas da mesma forma. Temos que ter o mesmo grau de preocupação e questionamento para todas as vacinas que pretendem ser usadas no Brasil, não só a uma
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, sobre imunizante da Fiocruz

Em direção ao século 14

Covas também chamou de "obscurantismo" o movimento antivacina, "uma profunda ignorância, falta de noção do que seja a saúde humana, o funcionamento do sistema imunológico".

"Estamos indo em direção ao século 15, 14; vacina é o que mudou a história da mortalidade humana, se não tivéssemos vacina, viveríamos até os 45, 50 anos", afirmou. "Em uma população menos instruída, [o movimento antivacina] poderia ser admissível, mas isso acontecer patrocinado pelas mais altas autoridades, isso é preocupante e decepcionante. Mostra que estamos falindo com a civilização brasileira."