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Dimas reafirma dado da vacina em quadro grave e não divulga eficácia geral

Andrea Martins, Pedro Ungheria e Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

11/01/2021 11h14Atualizada em 11/01/2021 15h51

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, reafirmou hoje ao UOL que a eficácia da CoronaVac, vacina contra a covid-19 desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, "é de 78% para casos leves da doença e 100% para casos graves e moderados". Covas não deu detalhes da eficácia geral do imunizante, dado que deve ser anunciado nesta terça-feira, segundo o governo de São Paulo.

Ao UOL Entrevista, Covas também tratou da morosidade federal para aprovar a vacina do Butantan, questionou a falta de pressão sobre informações da vacina de Oxford, produzida pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), condenou o "obscurantismo" do movimento antivacina e disse que, agora, "o que importa é a análise da Anvisa" para aprovar a CoronaVac. A conversa foi conduzida pelo repórter Nathan Lopes e o colunista Ricardo Kotscho.

"Não existe dúvida sobre a eficácia clínica da CoronaVac. Se você quer saber o efeito, é este efeito que foi anunciado: 78% para casos leves e 100% para casos graves e moderados. Essa é a eficácia, isso que importa, a eficácia clínica", afirmou Covas. Hoje a Indonésia aprovou o uso emergencial da mesma vacina relatando eficácia de 65,3%.

Covas afirmou que cabe à Anvisa se debruçar "nos pormenores dos dados" ao dizer que "paralelamente" o instituto também está "olhando esses dados".

"Brevemente estamos programando uma conferência científica onde apresentaremos esses dados em pormenores", afirmou ao dizer que o Butantan informou "o que importa para a vacina", que é a sua eficácia, "o poder de diminuir o número de casos graves, óbitos e que precisam de assistência médica".

Não só a eficácia geral, mas para faixas etárias, comorbidades. Neste momento, o que importa é a análise da Anvisa e solicitação de uso emergencial
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan

O diretor minimizou a iniciativa do Ministério da Saúde de ficar com todas as vacinas do Butantan ao dizer que "essa vacina precisa chegar ao braço do brasileiro, se vai ser A, B ou C, eu vou ficar satisfeito".

"O que não podemos ficar confortáveis é com 6 milhões de doses na prateleiras e elas não serem usadas", disse. "O objetivo do Butantan é trazer essa vacina o mais rapidamente possível, e por mim já estaríamos usando essa vacina."

Pressão sobre o governo federal

O diretor do Butantan criticou as "idas e vindas" do Ministério da Saúde, que chegou a anunciar a incorporação da CoronaVac no ano passado, mas depois voltou atrás e hoje ainda precisa decidir sobre uma data para o início do PNI (Programa Nacional de Imunização).

"É uma atuação um pouco vacilante e responsiva à pressão, que foi colocada pelo programa de vacinação [paulista], que levou boa parte dos estados e municípios a buscarem o Butantan pela vacina, exerce uma pressão muito grande [sobre o governo federal]", disse.

Covas criticou a suspensão do estudo clínico com a CoronaVac por parte da Anvisa, em novembro, após a morte de uma pessoa sem relação com o imunizante.

"Aquilo foi uma atitude impensada (...), Nunca imaginei que poderia acontecer em um país que vive um plenitude democrática, com instituições consolidadas e abertas", afirmou Covas, que minimizou o pedido da Anvisa, feito no sábado, por mais dados para aprovar a CoronaVac.

Da outra vacina também precisamos saber o que está se falando. Foram apresentados dados discordantes, mas todas as vacinas têm que ser discutidas da mesma forma. Temos que ter o mesmo grau de preocupação e questionamento para todas as vacinas que pretendem ser usadas no Brasil, não só a uma
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, sobre imunizante da Fiocruz

Em direção ao século 14

Covas também chamou de "obscurantismo" o movimento antivacina, "uma profunda ignorância, falta de noção do que seja a saúde humana, o funcionamento do sistema imunológico".

"Estamos indo em direção ao século 15, 14; vacina é o que mudou a história da mortalidade humana, se não tivéssemos vacina, viveríamos até os 45, 50 anos", afirmou. "Em uma população menos instruída, [o movimento antivacina] poderia ser admissível, mas isso acontecer patrocinado pelas mais altas autoridades, isso é preocupante e decepcionante. Mostra que estamos falindo com a civilização brasileira."