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Monica participou de estudo, mas foi vacinada porque não tinha anticorpos

Enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, é a primeira brasileira a receber dose da vacina Coronavac - Governo do Estado de São Paulo / Divulgação
Enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, é a primeira brasileira a receber dose da vacina Coronavac Imagem: Governo do Estado de São Paulo / Divulgação

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

18/01/2021 13h00Atualizada em 18/01/2021 18h25

Primeira pessoa a ser imunizada em território nacional contra a covid-19, a enfermeira Monica Calazans, 54, se defendeu das acusações de que foi usada como "cobaia" pelo governo do estado de São Paulo. A acusação viralizou após a publicação em uma rede social de uma entrevista da enfermeira ao Coren (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo) em 8 de janeiro.

Na entrevista, Monica conta sobre sua participação no estudo. De fato ela foi uma das voluntárias da pesquisa que desenvolveu a CoronaVac, mas ela foi escolhida para receber o imunizante no dia ontem porque seu organismo não desenvolveu anticorpos, indicando que ela provavelmente recebeu placebo, uma preparação sem efeitos farmacológicos.

Ao UOL a assessora designada pelo governo estadual para acompanhar Monica nos próximos dias afirmou que 50% dos participantes da pesquisa tomaram o imunizante, enquanto a outra metade recebeu o composto sem efeito clínico.

Como os estudos ainda não foram abertos, é impossível garantir que a enfermeira tenha recebido o placebo, mas ela acabou escolhida para ser imunizada na tarde de ontem porque seu organismo não desenvolveu anticorpos até o momento.

"Ela comentou no Emílio Ribas que tinha feito exame sorológico, mas que não tinha desenvolvido anticorpos. O estudo não foi aberto ainda, não dá para saber se ela tomou placebo, mas como ela não tem anticorpos contra o vírus, ela pôde tomar a vacina ontem", afirmou a assessoria.

O exame poderia identificar a reação imunológica se Monica tivesse recebido a vacina ou mesmo sido infectada pelo novo coronavírus. "O centro coordenador do estudo, o Butantan, foi informado sobre o resultado do exame. Não teve nada sem transparência", diz a assessoria.

Perfis de apoiadores do presidente Jari Bolsonaro também fizeram questionamentos sobre sua participação nas pesquisas da CoronaVac em São Paulo, afirmando que ela "teoricamente estaria imunizada".

Ontem, Monica desabafou após receber críticas de que teria sido usada como cobaia.

Fui criticada com piadinhas, me chamaram de cobaia. Não sou cobaia, sou participante de pesquisa e muito orgulhosa. Meu nome tá aí no mundo todo, 54 anos, negra, brasileira. Vamos nos vacinar. Sem medo
Monica Calazans, enfermeira

A assessoria nega que Monica venha sendo atacada nas redes, mas diz que "tudo as pessoas questionam". Em outubro, por exemplo, ela foi à praia passar um único final de semana.

Ela entrou na água, tirou uma foto e não ficou na areia, diz a assessoria, "mas já tem gente pegando as fotos e dizendo que ela não respeita o distanciamento social e que aglomera", afirmou.

As acusações, no entanto, não teriam abalado a enfermeira, "que tem uma cabeça muito boa".

Ela teria ficado muito feliz como a repercussão de ontem. Monica, que trabalha na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Emílio Ribas, foi recebida com carinho pelos colegas de trabalho ao voltar do evento com o governador João Doria.

Primeira a receber a vacina

Dona Monica ficou conhecida na tarde de ontem depois de vacinada em rede nacional no HC (Hospital das Clínicas) poucos minutos depois de a Anvisa liberar o uso emergencial da CoronaVac, a vacina do Instituto Butantan, produzida com o laboratório chinês Sinovac.

Além da CoronaVac, a Anvisa também liberou o uso emergencial do imunizante da AstraZeneca, a vacina da Fiocruz com a Universidade de Oxford.