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'Se continuar essa bagunça, vai atrasar a vacinação', diz especialista

18.jan.2021 - Profissionais de saúde do Hospital das Clínicas de SP são vacinados com a vacina CoronaVac no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo - Marcelo Justo/UOL
18.jan.2021 - Profissionais de saúde do Hospital das Clínicas de SP são vacinados com a vacina CoronaVac no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo Imagem: Marcelo Justo/UOL

Do UOL, em São Paulo

07/02/2021 18h51

Sem diretrizes claras do PNI (Plano Nacional de Imunização), de responsabilidade do Ministério da Saúde, o processo de vacinação no Brasil sofrerá com atrasos, afirmou hoje a microbiologista da USP, Natalia Pasternak, em entrevista à GloboNews.

"É preciso desburocratizar a vacinação no Brasil para que ela possa andar mais rapidamente. Está muito confuso. Alguns lugares pedem termo de consentimento, alguns estão vacinando rápido e já entregam a carteirinha, mas outros têm filas quilométricas e fazem um questionário", criticou a especialista. "Cadê as diretrizes nacionais? Se continuar essa bagunça, vai atrasar o processo de vacinação. Até agora vacinamos 800 mil pessoas no estado de São Paulo? A gente vacina 500 mil pessoas por dia na campanha de gripe".

A vacinação no Brasil começou no dia 17 de janeiro, logo após o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso emergencial da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan —o governo de São Paulo realizou um ato simbólico aplicando a primeira dose da CoronaVac na enfermeira Mônica Calazans.

Até quinta-feira (4), pouco mais de 3 milhões de pessoas tinham sido vacinadas no Brasil, o equivalente a 1,89% da população acima de 18 anos. Os dados foram levantados pelo consórcio formado pelo UOL, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1.

Ainda segundo a microbiologista Natalia Pasternak, o governo federal precisa focar em duas prioridades: conseguir mais vacinas e acelerar o processo de vacinação. "Enquanto a gente não conseguir cumprir esses dois requisitos, não adianta ficar falando de economia. Não adianta o presidente ficar falando de porte de armas".

Natalia alfinetou o Ministério da Saúde pela falta de acordos com farmacêuticas para aumentar a quantidade de vacinas no país. "A gente sabia desde o começo que essas duas vacinas [CoronaVac e AstraZeneca] não iam dar conta do Brasil inteiro. A vacina da Janssen, de uma só dose, está saindo agora no mercado, mas o governo não está indo atrás. Cadê o acordo? Se bobear, vamos para o fim da fila porque todos os outros países vão passar na nossa frente. Não é só vacinar rápido. O Ministério da Saúde precisa pensar mais rápido".

Vacinas disponíveis no Brasil

Um acordo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) com a AstraZeneca garantiu 2 milhões de doses prontas para o Brasil no início da vacinação. No dia 22 de janeiro, mais 2 milhões de doses chegaram ao país após impasses burocráticos com a Índia. Posteriormente, Bio-Manguinhos vai nacionalizar a produção do insumo, o que deve ocorrer no segundo semestre, a partir de um processo de transferência de tecnologia.

Já a CoronaVac chegou ao Brasil após parceria fechada pelo Instituto Butantan. Foram 10 milhões de doses aprovadas pela Anvisa para uso emergencial.

Ontem, a Pfizer enviou à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) o pedido de registro definitivo da vacina contra covid-19, chamada de "Cominarty", desenvolvida em parceria com a farmacêutica alemã BioNTech. Apesar do pedido, a farmacêutica ainda não tem acordo com o governo brasileiro, que, no ano passado, refutou uma proposta para receber 70 milhões de doses a partir de dezembro.

Enquanto isso, a União Química prevê que um acordo para a compra de 10 milhões de doses da vacina Sputnik V deve ser concluído na semana que vem com o governo federal. O acordo e a chegada das doses da Rússia ao Brasil ainda dependem de a Anvisa autorizar o uso da Sputnik V, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, da Rússia, no país.

Exigência da 3ª fase de testes da vacina no Brasil

Na semana passada, a Anvisa derrubou a exigência para que haja estudos de fase 3 sendo feitos no Brasil para que a agência conceda a autorização de uso emergencial. A mudança facilita a aprovação de novos imunizantes no Brasil e, segundo a microbiologista Natalia Pasternak, é um passo importante para que as farmacêuticas se sintam "confortáveis" em submeter o pedido de uso da vacina no Brasil.

"Também facilita a nossa adesão ao Covax Facility [consórcio para acesso global de vacinas], ao qual o Brasil aderiu para ter pelo menos 10% da população vacinada". Ela cita que no portfólio da Covax estão a Moderna e a NovaVax, que não submeteram o pedido de uso emergencial para a Anvisa.

"A gente precisa ter vacinas diferentes visto a grande quantidade de mutações que, infelizmente vão continuar acontecendo a medida que o vírus circula livremente pelo mundo", disse ela. "Há testes em andamento para ver a eficácia de 'misturar as vacinas'. Aplicar a Pfizer na primeira dose e a AstraZeneca na segunda, por exemplo. Temos exemplos históricos disso com a vacina da pólio e a mistura permite combinar as vacinas disponíveis no Brasil".