Máscaras profissionais x máscaras de pano: qual usar na 2ª onda?
Aline Dias, 22, ajeita a máscara de pano entre um cliente e outro em uma loja de eletrônicos no centro de São Paulo. Sem lavá-la há quatro dias, a vendedora explica que as duas que tem estão "desgastadas", mas sempre esquece de comprar uma nova. Usar descartáveis ou profissionais? "Nem pensar! É muito caro, quem vai pagar?", diz.
Nas últimas semanas, países da Europa têm recomendado ou até exigido da população o uso de máscaras profissionais, como os padrões N95 ou PFF-2, dado o grau de proteção mais elevado. Para especialistas ouvidos pelo UOL, a recomendação também deveria ser seguida no Brasil —o problema é que por aqui, sem a ajuda do governo, uma parcela significativa da população não consegue bancar os modelos.
Eles reforçam, ainda, que as máscaras de pano ainda são muito importantes no combate à pandemia, mas que é preciso atentar para alguns critérios mínimos de qualidade no uso desse tipo de proteção.
Proteção individual, coletiva e bom uso da máscara
Evaldo Stanislau, médico infectologista que atua no Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que "a máscara de tecido comum tem um grau de proteção bom, mas depende que todos usem para proteger mais".
Isso porque, no caso das máscaras de pano, o que acontece é a redução da emissão de partículas por parte de quem está usando. Dependendo do material utilizado para a confecção da máscara, a filtragem do ar pode não ser tão boa —o que pode, então, resultar em uma proteção limitada para o usuário.
Como Aline, muitas pessoas não usam suas máscaras adequadamente. Danilo Ferreira, 31, trabalha com investimentos no Itaim Bibi, um dos centros financeiros de São Paulo. Ele conta que pagou R$ 80 no seu modelo há cerca de seis meses. Para fazer valer, usa diariamente —hoje, ela está "um pouco frouxa".
Vitor Mori, pós-doutorando na Universidade de Vermont e membro do Observatório Covid-19 BR, destaca que "o uso errado da máscara não acontece só quando ela não está cobrindo o nariz ou a boca".
Se ela estiver folgada dos lados, por exemplo, ela perde toda a sua funcionalidade.
Vitor Mori, do Observatório Covid-19 BR
Cuidado e reutilização para não faltar
Mori ressalta que as máscaras do tipo N95 e PFF-2 não são descartáveis —para ele, elas não só podem como devem ser reutilizadas, principalmente para que não se corra o risco de faltar equipamentos de proteção para os profissionais da saúde.
Para isso, ele recomenda uma espécie de "rodízio" entre as máscaras. Com cinco delas, por exemplo, é possível utilizar uma em cada dia útil da semana. "Usa, deixa descansando por alguns dias e depois usa de novo", explica.
O que eu tenho falado para as pessoas é: tente usar com muita parcimônia, reutilizar o máximo que der. Troque só o elástico se precisar trocar só o elástico. É uma situação muito complicada, porque não tem orientação do governo, está cada um por si.
Vitor Mori, do Observatório Covid-19 BR
Stanislau propõe ainda um esquema que envolve a combinação de diferentes tipos de máscara, dependendo das condições de lotação e circulação do ar de cada espaço frequentado.
Você pode, por exemplo, usar uma máscara tipo N95 ou PFF-2 no transporte. Chegando no seu destino, guarda essa máscara --tirando e guardando com técnica, fazendo a higiene das mãos-- e põe a máscara comum para ficar em um ambiente onde você tem algum distanciamento, algum controle.
Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas
Para testar a qualidade da máscara de pano, os especialistas recomendam fazer dois testes simples:
- O primeiro envolve observar a máscara contra a luz: se for possível enxergar do outro lado através da malha, é melhor procurar outra máscara.
- O outro teste pode ser feito com uma vela acesa: se, ao assoprar, a vela apagar, é preciso trocar a máscara porque ela já perdeu a capacidade de filtração.
Sem ajuda do governo, parte da população não consegue comprar
Maior proteção esbarra invariavelmente em um custo maior. Enquanto máscaras de pano são encontradas no comércio por cerca de R$ 10 a R$ 20 —às vezes menos—, as profissionais podem custar desde R$ 8 até R$ 100 a unidade.
"Eu não tenho esse dinheiro. Mesmo para comprar descartáveis. É um investimento, né, usar, trocar todos os dias. Essa daqui eu comprei em outubro e ainda está boa", afirma Rogério Silva, 62, vendedor ambulante.
Na Alemanha, um dos países que tornou obrigatório o uso das máscaras profissionais, o governo tem financiado a compra para todos os cidadãos acima de 60 anos ou com doenças crônicas. No país, os modelos custam em média de 2 a 5 euros (cerca de R$ 13 a R$ 32).
Por aqui, não há planos para que o governo federal faça coisa semelhante. O UOL procurou o Ministério da Saúde e todos os entes federativos. A maioria não respondeu, assim como a União. Dos que responderam, só o Pará apresentou planos de fornecimento, mas todos reforçaram seguir as instruções do Ministério da Saúde, da Anvisa (Agência Brasileira de Vigilância Sanitária) e de órgãos internacionais, que seguem atestando a segurança da máscara de pano.
"Se do dia para a noite falarmos que todo mundo tem que usar máscara N95 nos lugares fechados, mas não investirmos em aumentar a produção e distribuição, em produzir materiais de comunicação sobre como reutilizar e ajustar a máscara, não fornecer essa máscara de forma ampla paras pessoas que não têm condição de comprar... Sem todas essas medidas, a gente pode até cobrar, mas não vai acontecer", afirma Mori.
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