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Ludhmila relata ameaças e diz que cuida de pessoas da esquerda e da direita

Do UOL, em São Paulo*

15/03/2021 13h42Atualizada em 15/03/2021 19h39

A médica Ludhmila Hajjar confirmou na tarde desta segunda-feira (15) que negou convite para assumir o cargo de ministra da Saúde por divergências técnicas com o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Durante entrevista à CNN, a cardiologista confirmou que foi alvo de ameaças de morte, mas deixou claro que vai cumprir o juramento que fez na graduação e cuidará de pacientes "da esquerda e da direita".

Eu recebi ataques, tentativa de invasão no hotel que eu estava, ameaças de morte, fui agredida com áudios e vídeos falsos com perfis. Mas estou firme e forte aqui. Hoje volto para São Paulo para continuar a minha missão, que é ser médica. Estou à disposição do meu país e vou continuar atendendo pessoas da direita e da esquerda
Ludhmila Hajjar, em entrevista para à CNN

A médica alegou nunca ter declarado uma posição política e que o seu partido é o "Brasil". "A missão do médico é cuidar, confortar, salvar a quem quer que seja e isso muito me honra."

Os ataques, na visão de Ludhmila Hajjar, são fruto de grupos "radicais" que "defendem o discurso da polarização". A médica acredita que as atitudes tentam diminuí-la, mas disse que ela se sente honrada em cumprir o que a medicina determina.

Talvez, para pessoas radicais que estão defendendo o discurso da polarização é algo que me diminui. Pelo contrário, se eu fizesse isso, eu estaria negando o juramento que eu fiz no dia que me formei na Universidade de Brasília. Continuarei cuidando da direita e da esquerda, porque eu não tenho medo.
Ludhmila Hajjar

Em entrevista à GloboNews também na tarde desta segunda-feira (15), a médica lamentou: "Infelizmente, os que querem o mal do Brasil acabaram prevalecendo".

Com a sua recusa, as primeiras opções de Bolsonaro agora são os cardiologistas Marcelo Queiroga e José Antonio Franchini Ramires, além do deputado federal Doutor Luizinho (PP-RJ). Queiroga é presidente da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), e Ramires é professor titular do Incor (Instituto do Coração) de São Paulo, tendo sido indicado ao presidente pela sua ala ideológica.

Os dois são prioridade porque são considerados médicos renomados. Já Doutor Luizinho corre por fora. Ele é médico ortopedista, está em seu primeiro mandato e já foi secretário estadual da Saúde do Rio de Janeiro.

Cenário da pandemia no Brasil é 'sombrio'

A previsão de Ludhmila Hajjar é que nos próximos dias o Brasil atravesse momentos "sombrios" com muitas mortes e hospitais lotados. Para evitar que o sistema de saúde continue em colapso, a médica recomenda que haja um alinhamento entre o governo federal e os gestores municipais e estaduais que decidiram ampliar as medidas restritivas para conter a covid-19, como toque de recolher e lockdown.

"Ainda tenho uma previsão de os próximos dias serem difíceis, de muitas mortes, hospitais lotados, mortes por falta de leitos e de treinamentos. Os próximos dias serão muito difíceis se não forem adotadas medidas emergenciais", avaliou.

A intensivista falou sobre a importância da vacina como ferramenta para superar a pandemia, mas lembrou que o imunizante leva semanas para fazer efeito e que a quantidade de vacinas disponíveis no Brasil ainda não é capaz de proteger toda a população.

"Não podemos deixar de atuar só aguardando a vacina. Se não fizermos isso, eu não vejo dias melhores nas próximas semanas no Brasil", reforçou.

A cardiologista lembrou ainda dos pacientes que têm comorbidades como doenças cardíacas e que não puderam se tratar durante 2020, por conta da pandemia. Para a médica, é preciso que haja a criação de protocolos para atender os pacientes da covid-19 e colaborar com o alívio do sistema de saúde.

"Em 2020, o Brasil registrou 132% na mortalidade de pacientes com doenças cardiovasculares. Esses pacientes, além de não estarem sendo cuidados e atendidos, estão morrendo em casa. Há uma série de medidas que devem ser modificadas neste momento para que o impacto não seja tão cruel como parece". Ludhmila Hajjar, em entrevista à GloboNews

"Esse número de mortes [diarias] não representa de fato tudo o que a gente fala de morbidade. O paciente sai vivo, mas sai morto para a sociedade. É o paciente que sai e precisa de outro hospital. Ele sai vivo, no número, mas sai morto para a sociedade: sem trabalhar, sem comer, sem andar. Nós estamos cuidando desses pacientes?", questionou ao vivo, ao ser entrevistada pela GloboNews.

Recusa do cargo no Ministério da Saúde

A negociação da liderança do Ministério da Saúde aconteceu com o próprio presidente, Jair Bolsonaro, durante dois dias, segundo Ludhmila. No entanto, a médica afirmou que sempre se pautou pela ciência e que divergências técnicas não tornaram possível assumir a função.

Sou médica, cientista, especialista em cardiologia, terapia intensiva, tenho todas as minhas expectativas em relação à pandemia. O que eu vi, escrevi e aprendi está acima de qualquer ideologia, está em cima de qualquer expectativa que não está pautada na ciência. Essa é minha posição, a posição que vou seguir a vida toda. Pautei minha vida toda nos estudos e na ciência
Ludhmila Hajjar

A cardiologista estava entre os nomes cotados para substituir o ministro Eduardo Pazuello. Há um mês, a médica foi imunizada com a segunda dose da CoronaVac, a vacina produzida pelo Instituto Butantan que foi criticada por diversas vezes por Bolsonaro no ano passado.

Com a piora da pandemia no Brasil, a relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Pazuello tem sido exposta às críticas dos aliados do governo. De acordo com informações apuradas pelo UOL, Bolsonaro não queria fazer a troca, mas vem sendo pressionado por parlamentares do centrão.

*Com informações do Estadão Conteúdo