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Vítima de falta de leitos em SP foi a 4 unidades de saúde antes de morrer

Renan Ribeiro Cardoso, de 22 anos, morreu à espera de leito de UTI em São Paulo - Arquivo Pessoal
Renan Ribeiro Cardoso, de 22 anos, morreu à espera de leito de UTI em São Paulo Imagem: Arquivo Pessoal

Gabriel Toueg

Colaboração para UOL, em São Paulo

18/03/2021 21h29Atualizada em 19/03/2021 07h24

Vítima da falta de leitos de UTI na cidade de São Paulo, Renan Ribeiro Cardoso, de 22 anos, esteve em quatro unidades de saúde antes de morrer de covid-19 em 13 de março. A morte dele foi anunciada hoje pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), sendo considerada a primeira oficialmente de um paciente que morreu a espera de uma vaga em UTI no município.

Ele faleceu na UPA São Mateus II, na zona leste da capital, dois dias depois de dar entrada no pronto atendimento. Antes, esteve na UBS Recanto do Sol, onde a suspeita foi confirmada. Quando começou a sentir falta de ar, procurou um médico no Hospital Santa Marcelina, de Cidade Tiradentes. Foi atendido, mas enviado para casa, onde voltou a piorar. Foi então para a AMA Jardim das Laranjeiras, onde, de acordo com a família, não foi sequer atendido.

Obeso, o rapaz sentiu febre mas pensou que poderia estar com covid-19 ao fazer compras de produtos de limpeza. "Ele voltou para casa, passou perfume e não sentiu nada", conta o primo de Renan, Pedro Henrique Marques Lobato. Na sequência, começou a ter dores no corpo e mal-estar. Fez dois testes rápidos em farmácias, mas ambos deram negativo. Especialistas afirmam que esse tipo de exame não tem muita confiabilidade e pode resultar em muitos falsos negativos.

Apesar dos resultados, ele resolveu procurar ajuda porque estava com sintomas. A UPA em São Mateus já era a quarta unidade de saúde em que Renan buscava ajuda. Antes, esteve na UBS Recanto do Sol, onde a suspeita foi confirmada. Quando começou a sentir falta de ar, procurou um médico no Hospital Santa Marcelina, de Cidade Tiradentes. Foi atendido, mas enviado para casa, onde voltou a piorar. Foi então para a AMA Jardim das Laranjeiras, onde, de acordo com a família, não foi sequer atendido.

Com a piora no estado de saúde, Renan foi para a UPA São Mateus II na última quinta-feira, mas, sem leitos, foi colocado em uma cadeira de rodas. Na tarde do último sábado (13), quando o pai voltou ao local pela segunda vez no dia em busca de informações, os médicos já estavam procurando a família para dar a notícia. Renan havia falecido às 17h19. "O médico disse que houve uma piora, que tentaram intubar, mas ele teve uma parada cardiorrespiratória".

Para Lobato, houve negligência. "Não é possível que em uma cidade tão enorme como São Paulo não houvesse nenhum lugar pra ele ser atendido", diz, revoltado. "A gente vê no jornal que está com ocupação de 96%, 98%, mas não é 100%. Alguma vaga devia ter! Aquela pessoa que está quase morrendo eles não levam?"

Segundo Lobato, Renan gostava muito de festas, mas desde o começo da pandemia tinha parado de sair. "Ele era festeiro, mas não de balada, ele gostava de receber gente em casa, fazer almoços, dançar um forró", contou Lobato. "Como os pais são um pouco adoentados, ele vinha se cuidando muito". O primo conta que ele tomava "todos os cuidados".

Os pais de Renan, com quem ele morava no Recanto Verde do Sol, bairro de Cidade Tiradentes, fizeram exames de sangue e estão esperando o resultado. Isolado em casa, o pai tem febre, cansaço no corpo e diarreia, segundo Lobato. "Estamos tomando muito cuidado, mantendo distanciamento social, usando máscaras descartáveis e trocando a cada 2 horas, passando álcool em gel constantemente", garante ele.

Naturais de Brejo do Mutambal, um vilarejo próximo ao município mineiro de Varzelândia, os pais moram juntos há 26 anos. Eles não quiseram falar com a reportagem.