RS: Três pacientes nebulizados com hidroxicloroquina morrem; hospital apura
Três pacientes que passavam por um tratamento experimental (e sem eficácia comprovada) à base de hidroxicloroquina morreram nesta semana, no hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã (a 130 km de Porto Alegre), na região sul do Rio Grande do Sul. A instituição investiga as causas das mortes.
As vítimas tiveram pioras dos seus estados de saúde e faleceram entre segunda-feira (22) e hoje (24). Todos estavam sendo nebulizados com uma solução de hidroxicloroquina diluída em soro.
O hospital não confirma que os óbitos estejam diretamente relacionados ao tratamento com hidroxicloroquina. A instituição se manifestou sobre o caso na noite de hoje (veja abaixo)
Antes da nota oficial emitida pelo hospital, o médico e diretor-técnico da instituição, Tiago Bonilha de Souza, disse à Rádio Gaúcha:
Não verificamos que a nebulização esteja contribuindo para melhorar o desfecho dos pacientes. Os indícios sugerem que está contribuindo para a piora porque todos os casos (de óbito) apresentaram reações adversas após o procedimento".
Tiago Bonilha, médico do hospital Nossa Senhora Aparecida
Médica foi demitida dia 10
O tratamento experimental era administrado pela médica Eliane Scherer, que foi demitida da instituição no dia 10. O hospital chegou a denunciar a profissional ao Cremers (Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul) e ao MP-RS (Ministério Público do Rio Grande do Sul) alegando 17 supostas infrações.
O procedimento testado por Scherer não seguia os protocolos de saúde do hospital nem do fabricante da substância. "A profissional descumpria protocolos [de segurança] de forma contumaz", destacou a assessoria jurídica da instituição.
Scherer era médica terceirizada do hospital desde março do ano passado. Ela foi contratada para atuar no serviço de pronto-socorro da instituição, mas estava aplicando nebulização de hidroxicloroquina em pacientes internados na UTI e nos leitos clínicos. Conforme o hospital, ela não tinha autorização para atuar nesses ambientes.
Entretanto, ela permaneceu ministrando a solução experimental para os pacientes que obtiveram uma autorização judicial para o tratamento experimental e os que assinaram um termo de responsabilidade.
A reportagem tentou contato com a médica Eliane Scherer, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Hospital se manifesta sobre caso
Na noite de hoje, o Hospital Nossa Senhora Aparecida emitiu uma nota comentando os óbitos e a suposta relação com o tratamento de hidroxicloroquina por inalação.
No texto, a instituição reafirma que a Eliane Scherer foi "afastada da escala (de trabalho) após ter tentado obrigar a equipe assistencial a administrar pela via inalatória uma solução com hidroxicloroquina, de procedência desconhecida, não prescrita em prontuário, manipulada pela própria médica".
O hospital afirma que a médica foi procurada por alguns familiares de pacientes que pediram para que ela continuasse com os tratamentos. Por isso, alguns médicos do hospital, conforme a instituição, se negaram a prescrever o tratamento aos pacientes sob seus cuidados, pois se trata ainda de "de terapia experimental".
Por essa razão, as famílias buscaram o Poder Judiciário para permitir que fosse feito o tratamento com a inalação da solução. "Houve deferimento de liminar para que fosse administrado o tratamento, sob a condição de que a médica assumisse a integralidade da assistência de seus pacientes".
Assim sendo, o hospital firmou com outras famílias que tinham interesse em aplicar o tratamento em seus familiares "termo de acordo no qual a médica e os familiares se responsabilizavam pelas consequências do tratamento e tinham ciência de que não havia nenhuma comprovação científica quanto ao mesmo".
Além de dois pacientes que já haviam recebido o tratamento, duas outras famílias entregaram aos cuidados da médica seus familiares.
Dos quatro pacientes internados que receberam o tratamento por inalação de hidroxicloroquina, três deles vieram a óbito. Por se tratar de um tratamento sem comprovação científica, o hospital "não pode afirmar que houve relação direta entre os óbitos e a inalação, por sua vez, não verifica que a nebulização contribuiu para melhorar o desfecho dos pacientes".
O comunicado destaca ainda: "os indícios sugerem que (o tratamento) está contribuindo para a piora, porque todos os casos de óbito apresentaram reações adversas após o procedimento".
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