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NY Times: Bolsonaro criou falsa sensação de segurança em 'colapso previsto'

Jornal americano lembra que presidente pregou tratamento da covid-19 com remédios sem eficácia comprovada como a cloroquina - ADRIANO MACHADO
Jornal americano lembra que presidente pregou tratamento da covid-19 com remédios sem eficácia comprovada como a cloroquina Imagem: ADRIANO MACHADO

Do UOL, em São Paulo

27/03/2021 18h24

O jornal americano The New York Times afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criou uma falsa sensação de segurança em uma parcela da população brasileira ao pregar o uso de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da covid-19. A afirmação foi feita em uma reportagem sobre a pandemia no Brasil, que tenta explicar a situação de "colapso previsto" vivida pelo país.

A matéria lembrou o avanço do coronavírus nas últimas semanas ao retratar o colapso em unidades de saúde pelo país, inclusive com fotos de enfermarias e UTIs lotadas e pacientes com covid-19 sendo tratados fora de leitos, sentados em cadeiras nos corredores de hospitais. A reportagem deu atenção especial para as atitudes de Bolsonaro na pandemia.

"[Bolsonaro] muitas vezes encorajou grandes aglomerações e criou uma falsa sensação de segurança entre os seus apoiadores ao endossar medicamentos antimalária e antiparasitários — contradizendo as principais autoridades de saúde que advertiram que eram ineficazes", afirma a publicação.

Durante o ano passado, Bolsonaro pregou largamente o uso da cloroquina no tratamento de pacientes com covid-19. Tradicionalmente, o medicamento era usado contra a malária. Mais recentemente, a ivermectina ganhou força na propagação do "kit covid", que vem causando danos em pacientes segundo relatos de médicos.

O New York Times ainda lembrou o descrédito que Bolsonaro teve com as vacinas contra a covid-19 no ano passado, em oposição à recente postura de apoio à vacinação. A reportagem citou os episódios em que o presidente comemorou a morte de um voluntário dos testes clínicos da CoronaVac e a alegação de que não haveria responsabilização da Pfizer caso alguém tomasse o imunizante e virasse um jacaré.

"Colapso previsto"

A publicação define a situação de saúde pública do Brasil como um "colapso previsto" por três motivos principais: a circulação da nova variante de Manaus, as brigas políticas internas e a desconfiança na ciência. O New York Times lembra que na semana passada 16 estados afirmaram estar com mais de 90% da ocupação dos seus leitos de UTI.

"O colapso é um fracasso total para um país que, nas últimas décadas, foi um modelo para outras nações em desenvolvimento, com uma reputação de desenvolver soluções ágeis e criativas para crises médicas", diz a matéria, citando os surtos de HIV e Zika mais recentes.

"Epidemiologistas dizem que o Brasil poderia ter evitado lockdowns adicionais se o governo federal tivesse promovido o uso de máscaras e o distanciamento social, e negociado intensamente o acesso às vacinas que estavam sendo desenvolvidas no ano passado", resume a matéria.