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Extubado, assessor alucinou e demorou para saber da morte de Major Olimpio

O jornalista Diego Freire, assessor do senador Major Olimpio, deixou o hospital na sexta-feira (9); na foto, ele aparece com a fisioterapeuta Gisele Ramos - 9.abr.2021 - Arquivo Pessoal
O jornalista Diego Freire, assessor do senador Major Olimpio, deixou o hospital na sexta-feira (9); na foto, ele aparece com a fisioterapeuta Gisele Ramos Imagem: 9.abr.2021 - Arquivo Pessoal

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

10/04/2021 04h00

Resumo da notícia

  • O jornalista Diego Freire contraiu covid-19 e ficou internado por pouco mais de um mês
  • Assessor do senador Major Olimpio teve receio de ser intubado: "fiquei com medo"

Após pouco mais de um mês internado, o jornalista Diego Freire, 33, assessor do senador Major Olimpio (PSL-SP), recebeu alta ontem em Brasília. Ele passou duas semanas intubado para tratamento intensivo contra o novo coronavírus, que também contaminou o parlamentar, que morreu em 18 de março.

Na quarta-feira (7), ainda no hospital, Freire contou ao UOL como foi enfrentar a covid-19, lidar com alucinações e descobrir que o senador não havia vencido a doença. Leia o depoimento:

Fiquei 14 dias intubado. Quando acordei, não falava. Meus braços não mexiam, minhas pernas não mexiam. Nenhuma parte do meu corpo estava mexendo.

respirador - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Durante a internação, o jornalista precisou usar respirador
Imagem: Arquivo Pessoal

Acordei bastante assustado. Pensei que tinha sido sequestrado, pensei que tinha acontecido algum mal comigo. Não acordei em sã consciência, acordei totalmente desnorteado.

Estava com alucinação. Achava que todo mundo que chegava perto de mim iria me fazer mal. Acordei chorando, assustado, desorientando.

Tiveram de conter os meus braços para manter os aparelhos em mim. Minha reação era arrancar tudo. Fiquei três ou quatro dias contido até me acalmar.

Um médico perguntou se queria falar com alguém da minha família. Aí fez uma chamada de vídeo com a minha mãe. Ela me acalmou, dizendo que tinha acabado de ser extubado [no dia 19 de março].

Quando peguei, achei que seria só uma gripezinha. Mas foi piorando cada vez mais. Primeiro dia [2 de março], não senti nada. Segundo dia, senti uma febre. Terceiro dia, muita dor no corpo. Já, no quarto dia, a falta de ar foi apertando. Então, imaginava que seria só uma febre, uma dor no corpo. Mas foi piorando, piorando.

Meu pulmão chegou a ficar 75% comprometido. Minha namorada [Claudia Freitas] me levou até o hospital —ela foi um anjo que me levou ao hospital, salvou minha vida. E lá falaram: "ele precisa ir para a UTI urgente". Foi aí que descobri que precisava ser intubado [em 6 de março].

namorada - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A namorada levou o jornalista para o hospital
Imagem: Arquivo Pessoal

A priori, não queria ser intubado. Porque você sabe que pode ser intubado e ter sequelas. Queria enfrentar. Falei: 'não, não vou ser intubado'. Mas aí teve uma equipe médica que conversou comigo. Fiquei com medo, com receio de voltar com sequela ou nem voltar. Porque muita gente que faz esse tipo de sedação não volta vivo.

Lógico que me deu um medo. A equipe médica me aconselhou que seria o melhor [ser intubado]. Senão, ia morrer. Ou fazia a intubação ou iria morrer porque meu pulmão já não funcionava mais. Cheguei no hospital e já não respirava mais. A falta de ar foi horrível. Mais ou menos como peixe fora d'água. Estava me sentindo agoniado. Tentava respirar e não conseguia.

Assim que ganhei alta [da UTI], fui para a terapia semi-intensiva. Minha mãe [Sandra Regina] veio me acompanhar, e está aqui até hoje.

Foi na mesma época que o senador morreu. Minha família me poupou da notícia porque estava em estado crítico ainda, saindo da UTI. Ela resolveu segurar a informação. Uma semana depois, me falaram da morte do senador Major Olimpio. Não considerava ele como chefe. Considerava ele como grande amigo.

Ele era sempre uma pessoa que me aconselhava. A gente tinha projeto junto. Falava com ele todo dia. A gente tinha uma amizade acima de tudo.

Minha mãe não deixava ver TV, não deixava pegar no celular porque tinha medo que eu descobrisse sozinho.

Não se passava pela minha cabeça [a morte do senador]. Falavam que o senador estava intubado. Mas, até então, para mim, ele estava vivo.
Quando fui extubado, [em 19 de março] fiquei uma semana focado na minha melhora. Minha mãe pegou meu celular e escondeu. Fiquei isolado do mundo. Quando ela viu que eu já estava bem, consciente, que não estava mais delirando, aí ela resolveu contar.

A morte dele me abalou bastante. Fiquei três dias mal, chorando, depressivo, não comia mais. Foi triste ter perdido um grande amigo. Precisei entrar na internet para ver que ele tinha morrido. Às vezes, achava que estava sonhando. Que alguém falou para mim e estava sonhando.
De todas as pessoas do gabinete, os dois que ficaram mal foram eu e ele. Acho que 90% do gabinete teve covid-19, se é que não foi 100%. E só eu e ele ficamos mal.

Entrei [no gabinete] no penúltimo ano dele como deputado federal [em 2017]. A gente vivia junto. Sempre tomava café da manhã com o major. Quando terminava o expediente, a gente se reunia, batia papo. Não só de política, mas de vida. Porque ele vivia sozinho em Brasília. Então a gente sempre vivia muito junto. Nem chamava ele de senador. Chamava de major. Minha relação já era mais íntima. Sempre falava com ele.

Ele se protegia. Pensava que ele até pudesse pegar, mas a saúde dele... ele praticava esporte. Ele tinha uma saúde exemplar.

Eu usava máscara, álcool em gel. Mas foi passando o tempo e a gente vai relaxando. Então, me senti mais relaxado. "Ah, não vou pegar isso."

Se tivesse que fazer tudo de novo, acho que teria evitado aglomeração, barzinho. Cheguei a ir para barzinho, ir para festa depois de um bom tempo. Em fevereiro, comecei a ficar mais desleixado. Álcool em gel, já não usava. Participei de festa de jogo do Flamengo. No momento que fiquei mais relaxado, peguei o vírus.

Sei que só fui [a barzinho] porque estava aberto. Se estivesse fechado, estaria em casa, assistindo ao jogo dentro de casa, feito minhas coisas dentro de casa. Quando está aberto, dá a possibilidade de você poder ir, há possibilidade de aglomerar, de passar o vírus. A preocupação é levar o vírus para casa.

O lockdown acho que deve ser feito, sim. Primeiro tem que ser preservada a vida. Porque, sem a vida, não adianta você ter dinheiro.

Antigamente, pensava que fazer um lockdown mais maleável seria o correto. Mas é nesse horário maleável que as pessoas vão lá e se aglomeram. Acho que esse é o perigo. Hoje já penso que o lockdown deve ser feito. Porque ele preserva vida. Enquanto todo mundo não estiver vacinado, acho que as pessoas têm que ficar em casa, aproveitar mais a família, e preservar a vida de outras pessoas que estão em casa, confinadas.

Estou fazendo fisioterapia três vezes por dia com a doutora Gisele Ramos. E ela vem me ajudando bastante a ter meu condicionamento físico novamente, a fazer movimentação dos braços, das pernas.

Fisioterapia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Freire voltou a dar passos após tratamento com fisioterapia
Imagem: Arquivo Pessoal

Graças a Deus, consegui ficar em pé e dar os primeiros passinhos. Porque a perna ficava muito pesada. Dei os primeiros passinhos no quarto. Fui até a poltrona e voltei. E aí fui ganhando mais confiança. Fui caminhando, caminhando. Hoje, já caminho o corredor inteiro. Com a ajuda dela, o equilíbrio dela, mas caminho sozinho.

Tive que reaprender a comer, reaprender a falar, reaprender a mexer os braços, pernas, engolir. Tive de aprender tudo novamente, como se estivesse nascendo de novo.

Deu para refletir para ser uma pessoa melhor, por algum propósito na minha vida. Quero participar de projetos sociais, de movimentos que ajudem os outros. Tentar ter mais empatia, sentir na pele o que as pessoas sentem.

Queria que [o que passei] sirva de inspiração. Quase morri e Deus me deu mais uma chance para poder viver. E agora quero fazer tudo diferente. Principalmente participar de projetos sociais para ajudar o próximo.

Sou devoto de Santo Aníbal. Assim que tiver melhora, quero ir na paróquia de Santo Aníbal, em Passos, Minas Gerais, para agradecer mais um milagre na minha vida.

camiseta - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O jornalista fez uma camiseta para homenagear o senador
Imagem: Arquivo Pessoal

E vou seguir o trabalho. O suplente [Alexandre Giordano] assumiu agora. Quero ver se daqui a duas semanas me apresento para o novo senador.

Quero sair do hospital com uma camiseta com uma foto minha e dele e uma frase, uma homenagem ao senador. Não ele como senador, mas como pessoa.

A gente estava escrevendo um livro sobre política. Espero terminar o livro em homenagem a ele. Era um livro que a gente vinha escrevendo sobre o cenário político. Pretendo lançar o livro, mas agora sozinho.