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Brasil tem semana mais letal da pandemia: 21.172 mortos

Cemitério de Inhaúma, na zona norte do Rio - Érica Martin/Estadão Conteúdo
Cemitério de Inhaúma, na zona norte do Rio Imagem: Érica Martin/Estadão Conteúdo

Amanda Rossi

Do UOL, em São Paulo

11/04/2021 22h59

Na semana que terminou ontem (10), o Brasil perdeu 21.172 pessoas por covid-19. É mais um recorde negativo da pandemia. Nunca antes a doença matou tanto em uma única semana no país.

Os dados são do consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte, e que apura os números com as secretarias estaduais de Saúde.

Em meio a tantos recordes negativos, fica difícil entender o que os números representam. É como se, entre o domingo passado (4) e sábado (10), tivessem caído quase 300 aviões do Chapecoense. Ou como se tivessem ocorrido 78 desastres de Brumadinho em apenas uma semana.

A quantidade de vítimas é 8% maior que uma semana antes —que já tinha batido o recorde. E é quase três vezes o número de mortes por covid-19 na pior semana da primeira onda da pandemia no Brasil, no final de julho.

Com esses indicadores, o Brasil apresenta hoje a pior situação da pandemia em todo o mundo. Há mais de um mês, desde 9 de março, somos o país onde mais morrem pessoas por covid-19, todos os dias.

A semana passada foi a pior da covid-19 na maior parte do Brasil. A exceção é o Sul, que teve 4,5% menos mortes na semana passada em relação ao pico, ocorrido em meados de março. E o Norte, que teve a semana mais letal ainda na primeira onda, em maio.

Nova variante e pouca vacina

A variante surgida em Manaus é a mais presente no Brasil hoje, segundo pesquisas que analisam o tipo exato de vírus que está em circulação. Chamada de P1, chega a ser 2,5 vezes mais transmissível que as primeiras formas do coronavírus. Isso ajuda a explicar a gravidade da segunda onda da pandemia no país.

O ritmo lento da vacinação também dificulta a contenção do vírus. Até este domingo, apenas uma de cada nove pessoas haviam recebido a primeira dose da vacina contra a covid-19 no Brasil.

Apesar deste cenário de caos, o presidente Jair Bolsonaro continua dando maus exemplos. Ontem, dia em que o Brasil passou de 350 mil mortes por covid-19, Bolsonaro foi de moto a uma comunidade perto de Brasília. Não usou máscara em grande parte do passeio. Chegou a tirar foto com outras pessoas, uns próximos dos outros, todos sem o item de proteção contra a covid-19.

"Continua em casa e daí morre de fome", disse Bolsonaro, em tom de deboche, sobre medidas que visam promover o isolamento social para frear o ritmo da pandemia.

Reações de cientistas

"Eu temo que o Brasil tenha perdido completamente o controle da covid-19 nesse momento. E agora irá colocar o resto do mundo em perigo #sosbrasil", tuitou ontem o respeitado epidemiologista Eric Feigl-Ding, que foi pesquisador de Harvard por 16 anos, até o ano passado.

"Nós estamos quebrando recordes todos os dias (...) Estamos em uma situação caótica, é realmente uma crise humanitária", explicou a demógrafa brasileira Márcia Castro, chefe do Departamento de Saúde Pública e População de Harvard, em evento internacional na última sexta-feira (9).

Em um estudo recém-publicado, Castro e equipe mostraram que as mortes por covid-19 devem fazer a expectativa de vida cair quase dois anos no Brasil. Isso significa um retrocesso de sete anos.

"A curva de 2021 está engolindo a curva de 2020", escreveu o epidemiologista Pedro Curi Hallal. Ex-reitor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), Hallal foi punido por criticar o governo Bolsonaro. Para conter o número de mortes, o cientista sugeriu: "a) 1,5 milhão de doses [de vacina] por dia; b) Lockdown nacional de 3 semanas, com proteção social para pessoas e empresas. Do contrário, seguimos caminhando em direção ao precipício".

A meta de vacinação sugerida por Hallal está bem longe do cenário atual. De ontem para hoje, 209 mil pessoas receberam a primeira dose. Outras 74 mil, a segunda. Já as medidas de restrição à circulação estão sendo afrouxadas em alguns dos estados mais atingidos, como São Paulo e Rio de Janeiro.