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Saúde recua e diz que Fiocruz dependerá de IFA importado no 2º semestre

Dos 110 milhões de doses que a Fiocruz deve entregar no segundo semestre, 50 milhões dependerão de insumos vindos da China - Miguel Riopa/AFP
Dos 110 milhões de doses que a Fiocruz deve entregar no segundo semestre, 50 milhões dependerão de insumos vindos da China Imagem: Miguel Riopa/AFP

Rafael Bragança

Do UOL, em São Paulo

07/05/2021 19h09Atualizada em 11/05/2021 21h18

O Ministério da Saúde mudou hoje a projeção que o governo federal vinha fazendo para a sequência da produção de vacinas contra a covid-19 pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Agora, a pasta chefiada pelo ministro Marcelo Queiroga prevê que a Fiocruz siga dependente da importação de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) no segundo semestre para a produção da vacina de Oxford/AstraZeneca.

Após Queiroga citar ontem, na CPI da Covid, dados que contradizem projeções do próprio governo federal, o Ministério da Saúde realizou uma entrevista coletiva hoje para esclarecer o quantitativo de doses que o governo federal já tem garantidos para a campanha nacional de imunização contra a covid-19.

Rodrigo Cruz, secretário-executivo da pasta, detalhou as projeções do governo federal e fez uma diferenciação entre "o que está contratado e o que está efetivamente formalizado". No detalhamento, Cruz trouxe um dado novo sobre a produção da Fiocruz prevista para o segundo semestre.

Até hoje, o governo federal e a própria instituição, que é vinculada ao Ministério, falavam em um primeiro contrato para o envase de 100,4 milhões de doses com matéria-prima importada da China. Num segundo contrato com a AstraZeneca, que prevê a transferência de tecnologia para o Brasil, a Fiocruz produziria mais 110 milhões doses inteiramente com IFA nacional.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) compartilhou há menos de um mês a previsão de produção de 110 milhões de doses sem dependência da importação de insumos, em publicação feita nas redes sociais.

No segundo semestre de 2021, a Fiocruz prevê produzir mais 110 milhões de doses da vacina com IFA fabricado no Brasil.
Jair Bolsonaro, presidente da República

Segundo o planejamento apresentado hoje por Rodrigo Cruz, porém, dos 110 milhões de doses previstos para serem entregues a partir de outubro, 50 milhões ainda dependerão da importação de insumos, que vem sendo o maior gargalo para a produção nacional de vacinas contra a covid-19. Outros 60 milhões terão produção com IFA brasileiro. Além da Fiocruz, o Instituto Butantan, que produz a CoronaVac, também tem sofrido com o atraso na chegada de matéria-prima da China.

Desta forma, a dependência do Brasil de IFA importado invadirá a metade do segundo semestre. O Butantan, que tem dois contratos firmados com a Saúde para a entrega de um total de 100 milhões de doses da CoronaVac, tem previsão de encerrar a produção com matéria-prima chinesa em setembro.

O Ministério da Saúde, entretanto, ainda conta no seu planejamento total de 562,9 milhões de doses "contratadas" —destas, 30 milhões já tiveram o aval recusado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), sendo 10 milhões da russa Sputnik V e 20 milhões da indiana Covaxin— com mais 30 milhões de doses da CoronaVac, que ainda não foram formalizadas junto ao Butantan. Estas também seriam produzidas com IFA importado.

Em resposta ao UOL sobre os motivos que levaram à mudança sobre a vacina da AstraZeneca, a Fiocruz disse que a decisão "é uma estratégia para garantir o abastecimento contínuo até que se iniciem as entregas da vacina produzidas com o IFA nacional". No entanto, a instituição não confirmou o quantitativo divulgado pela Saúde de insumos importados que vai precisar no segundo semestre, afirmando que isso ainda será definido.

Produção nacional começa semana que vem

Apesar do recuo no plano de independência quanto à importação de insumos, a Fiocruz trabalha com a expectativa de já começar a fabricar lotes de teste com produção 100% nacional na próxima semana. O vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz, Mario Santos Moreira, que estava presente na coletiva realizada na sede do Ministério da Saúde, em Brasília, foi quem deu a previsão.

A Fiocruz está apta a iniciar a produção do nosso produto. Nossa expectativa é que no dia 15 de maio inicie nossa produção nacional.
Mario Santos Moreira, vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz

O representante da instituição, que é sediada no Rio de Janeiro, disse ainda que aguarda para outubro o aval da Anvisa para a aplicação das doses produzidas com IFA nacional. A análise será necessária porque a vacina, apesar de ser a mesma que é produzida hoje com insumo importado, precisa ser novamente avaliada pela agência por causa da produção 100% nacional.

Quando tiver o registro definitivo aprovado pela Anvisa, a Fiocruz já deve estar produzindo em escala industrial a vacina de Oxford totalmente nacional há alguns meses, o que permitirá o acúmulo de doses à disposição para distribuição.

Mais 100 milhões de doses da Pfizer

Com doses contratadas mais do que suficientes para imunizar toda a população brasileira, a Saúde afirma que ainda negocia a compra de mais 100 milhões de doses do imunizante da Pfizer/BioNTech. O governo já tem um acordo inicial por 100 milhões de doses da vacina a serem entregues até o terceiro trimestre deste ano.

"O contrato ainda não está assinado, ainda tem umas etapas a cumprir", disse hoje Rodrigo Cruz. O imunizante começou a ser aplicado no país nesta semana, após a chegada do primeiro lote com 1 milhão de doses.

Sobre o total de doses contratadas, o Ministério da Saúde segue mantendo o quantitativo de 562.902.040 doses, mas admite que os 30 milhões adicionais do Butantan não estão formalizados. Além disso, também reconhece os 30 milhões de doses, entre Sputnik V e Covaxin, que não têm aval da Anvisa. Ou seja, a previsão para doses a serem entregues em 2021 com possibilidade de aplicação cai para 502,9 milhões.

Como neste quantitativo constam 38 milhões de doses da vacina da Janssen, de dose única, o total previsto até agora seria suficiente para imunizar cerca de 270 milhões de pessoas.

Para maio, o Ministério da Saúde segue com a previsão de entrega de quase 33 milhões de doses, sendo destas 20,5 milhões da Fiocruz, 5 milhões do Butantan, cerca de 4,7 milhões via consórcio Covax Facility e mais 2,5 milhões da vacina da Pfizer.