CPI da Covid: Queiroga contradiz dados do governo sobre vacinas contratadas
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, divulgou dados sobre doses de vacinas contra a covid-19 contratadas que contradizem números informados anteriormente pelo próprio governo federal. Queiroga presta depoimento à CPI da Covid no Senado, hoje (6), e o UOL Confere checou algumas de suas declarações:
Ministério divulgou --e mais de uma vez-- doses de vacinas em negociação
O Ministério da Saúde não divulgou doses que estão em negociação. (...) 430 milhões [de doses de vacinas] estão contratadas, segundo me informou o nosso secretário-executivo.
Marcelo Queiroga em depoimento à CPI da Covid
O número de vacinas contratadas divulgado pelo ministro na CPI contradiz dados divulgados recentemente pelo próprio Ministério da Saúde por meio de diferentes fontes.
A pasta chegou a divulgar, sim, a contratação de 560 milhões de doses tanto em peças de propaganda, quanto em declarações públicas de Queiroga. Em 24 de março, o Ministério da Saúde divulgou no Twitter vídeo de 30 segundos informando que "já foram comprados mais de 560 milhões de doses" de vacinas. No dia 31, Queiroga repetiu o número.
"O governo federal já tem contratados mais de 560 milhões de doses de vacina", disse. "(Mas) é claro que não dispomos dessas doses no departamento de logística do Ministério da Saúde, até porque há uma carência de vacinas a nível internacional."
No entanto, em ofício enviado à Câmara dos Deputados e divulgado ontem (5), a pasta confirmou a compra de apenas metade das 560 milhões de doses. A Secretaria de Vigilância em Saúde, ligada ao ministério, diz no documento que "registros documentais demonstram que foram celebrados acordos para fornecimento" de cerca de 281 milhões de doses de vacinas, enquanto outras 281,9 milhões ainda "estão em fase de negociação".
Por outro lado, o cronograma divulgado no site do ministério no mesmo dia 5 de maio prevê que o Brasil receberá 560 milhões de doses até o final do ano. A conta inclui inclusive vacinas ainda não aprovadas pela Anvisa, como a Covaxin, da Índia, e a Sputinik V, da Rússia.
E hoje, na CPI, Queiroga declarou que 430 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 estão contratadas. O ministro atribuiu a informação ao secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz.
Ministro volta a inflar nº de vacinados com duas doses
Duas doses, senador. Senador, duas doses, da população vacinável do PNI, nós já superamos 17%
Marcelo Queiroga em depoimento à CPI da Covid
Queiroga inflou a proporção de pessoas que receberam duas doses da vacina contra a covid-19, como já tinha feito na segunda (3). Desta vez, o ministro afirmou que 17% da população "vacinável" do PNI (Plano Nacional de Vacinação) — ou seja, aquela com idade igual ou maior que 18 anos — já havia recebido duas doses de alguma vacina. No entanto, dados do próprio governo indicam que este patamar é inferior.
Segundo o IBGE, no fim de 2020, o Brasil tinha 163,9 milhões de pessoas com 18 anos ou mais. O Ministério da Saúde apontava na tarde de hoje 14,8 milhões de vacinados com a segunda dose, o que representa 9% dos brasileiros com 18 anos ou mais.
Já de acordo com o levantamento do consórcio dos veículos de imprensa, até ontem (5), 17.039.463 brasileiros já tinham recebido as duas doses, o que equivale a pouco mais de 10% da população com 18 anos ou mais.
Brasil não teve 1,8 milhão de vacinados em um dia
Senador, no mês de abril, houve dias em que ultrapassamos a meta de 1.800 indivíduos vacinados. Essa média, infelizmente? [...] Um milhão, desculpe! Obrigado, Senador Humberto Costa. Essa média não tem sido mantida, porque há irregularidades em relação à recepção de doses.
Marcelo Queiroga em depoimento à CPI da Covid
O pico de 1,8 milhão de vacinados em um dia citado pelo ministro não foi atingido até o momento. O número máximo de doses aplicadas em um dia, até agora, foi de 1,2 milhão em 20 de abril. Os dados são do próprio Ministério da Saúde.
Governo distribuiu 75,5 milhões de vacinas, e não 77 milhões
Mais de 77 milhões de doses de vacinas já foram distribuídas para secretarias estaduais e municipais, o que faz do Brasil o quinto país que mais distribui doses de vacinas.
Marcelo Queiroga em depoimento à CPI da Covid
Segundo o Vacinômetro do Ministério da Saúde, foram distribuídas, até agora, 75.594.620 vacinas aos estados brasileiros, cerca de 1,5 milhão a menos do que o afirmado pelo ministro.
Não há levantamento consolidado e público sobre o número de doses distribuídas por governos, mas, sim, de doses aplicadas na população. Em números absolutos, o país é o quinto em vacinação, atrás da China, Estados Unidos, Índia e Reino Unido. Considerando números proporcionais em um ranking que inclui países e territórios, o Brasil aparece em 72º lugar. A relação é feita pela plataforma Our World in Data, que considera o total de vacinas administradas a cada 100 habitantes.
Até agora, também segundo o ministério, foram aplicadas 45.725.027 doses. Já segundo o dado de ontem (5) do Consórcio de Veículos de Imprensa, do qual o UOL faz parte, são 50.443.796 doses aplicadas.
Verdadeiro: taxa de mortes entre idosos devido ao coronavírus caiu
Nós já temos uma redução de óbitos de pacientes com uma faixa etária maior.
Marcelo Queiroga em depoimento à CPI da Covid
Estudo feito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, mostra que caiu pela metade a proporção de mortes de idosos com 80 anos ou mais no Brasil após o início da vacinação contra a covid-19. A taxa de mortalidade era de 25% a 30% em 2020 e passou para 13% no fim de abril.
Em abril, um levantamento feito pela Prefeitura de São Paulo mostrou que o número de idosos mortos devido a complicações relacionadas ao coronavírus despencou 90% naquele mês, em comparação ao anterior. Especialistas fazem a ressalva, no entanto, de que ainda não é possível precisar que a vacinação seja a responsável por essa queda brusca.
Ministério da Saúde repassou hidroxicloroquina
Eu não autorizei distribuição de cloroquina na minha gestão. [...] Eu não tenho conhecimento de que esteja havendo distribuição de cloroquina na nossa gestão.
Marcelo Queiroga em depoimento à CPI da Covid
Segundo dados disponíveis na plataforma Localiza SUS, do Ministério da Saúde, de fato não houve distribuição de cloroquina desde que Queiroga assumiu a pasta, em 23 de março. No entanto, o governo fez duas remessas de hidroxicloroquina para o interior de São Paulo: uma no dia 30 de março, e outra em 27 de abril. No total, 127.500 comprimidos foram distribuídos.
O painel consultado pelo UOL Confere informa apenas sobre a disponibilização de medicamentos distribuídos para os municípios brasileiros no âmbito do combate à covid-19.
Nem a cloroquina, nem a hidroxicloroquina têm eficácia comprovada no tratamento da covid-19.
Secretarias reclamaram da falta de insumos do kit intubação
Aqui me refiro particularmente ao chamado kit de intubação, sedativos, anestésicos, bloqueadores neuromusculares. E esses itens foram dispensados [pelo Ministério da Saúde] para estados e municípios de tal sorte a atender as necessidades das secretarias municipais e estaduais de saúde.
Marcelo Queiroga em depoimento à CPI da Covid
Segundo o ministério, desde o início da pandemia da covid-19, foram enviados mais de 8,6 milhões de medicamentos para intubação. As últimas aquisições foram feitas em março e abril, quando Queiroga já estava à frente da pasta —nesse último caso, graças à doação de empresas. O ministro também afirmou que o governo faria um pregão internacional para adquirir os fármacos.
No entanto, em abril, Queiroga chegou a declarar que a aquisição dos kits de intubação era de responsabilidade dos governos estaduais e municípios. Dentro do SUS (Sistema Único de Saúde), a incumbência caberia às três esferas: as unidades notificam sobre suas necessidades, os kits são entregues à pasta, que cuida da distribuição. Governos estaduais e municípios também poderiam, por conta própria, adquirir os insumos. No entanto, o excedente de produção tem sido centralizado pelo ministério.
Durante a pandemia, por diversas vezes secretarias municipais e estaduais manifestaram a falta de medicamentos para realizar o procedimento ou alertaram para o risco de acabar o estoque, alegando terem cobrado o ministério. Isso ocorreu também já durante o mandato de Queiroga. Para contornar a questão, há secretarias que tentam comprar os insumos por conta própria, tanto no Brasil como no exterior, além de orientarem unidades de saúde a usarem medicamentos alternativos.
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