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Dimas Covas: Não há mais previsão de chegada de insumos para CoronaVac

Leonardo Martins, Rafael Bragança e Henrique Salles Barros

Do UOL, em São Paulo

12/05/2021 14h50

O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse hoje que não há prazo para chegada de insumos para produção da vacina CoronaVac, contra covid-19, no Brasil. Covas se reuniu hoje pela manhã com representantes da farmacêutica Sinovac Biotech, que desenvolve a vacina na China, e com representantes da embaixada brasileira em Pequim.

O prazo inicial era de que os insumos fossem liberados amanhã e chegassem no próximo dia 18, conforme já anunciado pelo governo estadual. Mas, segundo o presidente do Butantan, os chineses desmarcaram essa data e não deram um novo prazo.

Até o final da semana passada, existia a perspectiva de autorização da exportação até o dia 13 e na reunião diária do dia de hoje [foi dito que] essa previsão não vai se cumprir. Portanto, nós não temos data nesse momento prevista para essa autorização. Estamos aguardando, ela pode acontecer a qualquer momento mas, neste momento, não há essa previsão.
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan

A falta desses insumos deve impactar a vacinação no país a partir de junho. A última entrega de vacinas para o Ministério da Saúde, com as doses produzidas com todo estoque de compostos recebidos pelo Butantan, será nesta sexta-feira (14).

Há 10 mil litros de IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) parados na China à espera de liberação para serem trazido ao estado de São Paulo. Pelas contas do governo estadual, essa quantidade de insumo é suficiente para produzir 18 milhões de doses de vacina.

Para explicar o atraso do envio desses insumos, o governo de São Paulo e o governo federal dão explicações diferentes.

O governador João Doria (PSDB) acusa o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de ter causado um novo desgaste diplomático com a China após insinuar que o país faz uma "guerra química" na semana passada.

Ficamos tristes com os entraves diplomáticos por causa de declarações desastrosas do governo brasileiro ao povo chinês.
João Doria (PSDB), governador de São Paulo

Hoje pela manhã, Doria embasou sua versão dizendo que outros países estão recebendo insumos, menos o Brasil. "O Butantan é o segundo maior cliente da Sinovac, só perde para o próprio governo da China. Não há nenhuma razão para que a Sinovac não queira fornecer para o seu segundo maior cliente do mundo", disse.

"No último dia 30, a Indonésia recebeu 6 milhões de doses da vacina CoronaVac. As Filipinas, 1,5 milhão de doses. A Turquia, mais 3 milhões de doses, além de 5 milhões de doses para o Chile. Não há razão que não o desconforto diplomático para que a Sinovac não encaminhe os insumos para produção das vacinas no Brasil", completou.

Ele também publicou um post, no Twitter, lamentando o que chama de "declarações desastrosas feitas por membros do governo federal sobre a China".

O governo federal, por outro lado, afasta essa possibilidade e diz que a China está sobrecarregada com o envio para outros países. Em nota enviada ontem ao UOL, o Ministério das Relações Exteriores afastou a possibilidade das ilações feitas pelo presidente contra a China estarem atrasando a liberação dos insumos.

"Em diversas ocasiões, inclusive durante recente conversa telefônica do Ministro das Relações Exteriores, Carlos França, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, autoridades chinesas comprometeram-se em fazer todo o possível para cooperar com o Brasil neste momento de grave emergência sanitária causada pela pandemia de covid-19 e reiteraram que eventuais atrasos não são intencionais, dado que a China está exportando IFAs para diversos países, o que gera expressiva demanda e sobrecarga nos trâmites burocráticos", afirmou a pasta.

Produção parada

Sem insumos, a fábrica do Butantan destinada à CoronaVac deve parar completamente até sexta —e o PNI (Plano Nacional de Imunização) vai ficar ainda mais prejudicado.

No ano passado, o governo estadual havia afirmado que o contrato com a Sinovac prevê a transferência de tecnologia da produção da vacina —ou seja, o compartilhamento de informações para produção do IFA aqui no Brasil. Mas isso ainda não aconteceu.