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Homem se recusa a receber vacina contra covid de voluntária negra na Bahia

Mário Bittencourt

Colaboração para o UOL, em Vitória da Conquista (BA)

20/05/2021 04h00

Um homem, ainda não identificado, se recusou a receber vacina contra a covid-19 em Ilhéus, cidade no sul da Bahia, porque a enfermeira que faria a aplicação é negra.

O caso de racismo ocorreu no final do expediente da última segunda-feira (17) no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) do bairro Jardim Savoia.

A vítima de racismo é a estudante de enfermagem Thais Carvalho, que está no 10º semestre (último ano do curso) e atua como voluntária na campanha de vacinação.

Ela disse ao UOL que o homem estava do lado de fora da unidade, onde outras pessoas aguardavam a aplicação da vacina. Em Ilhéus, está sendo aplicada a segunda dose da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan.

Ela perguntou ao homem, de pele clara, se ele queria ser vacinado. Ele lhe respondeu que não.

"Mas o filho dele fazia a ficha para ele receber a vacina. Então me abaixei para ficar na altura dele [o homem é cadeirante] e perguntei por que ele não queria ser vacinado. Ele me disse: 'Você é negra'. Fiquei sem reação e saí", relatou.

A estudante de enfermagem Thais Carvalho, que foi vítima de racismo - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Thaís, que atua como maquiadora e digital influencer, afirma que ainda não tem palavras para descrever o que sentiu.

"Eu já tinha passado por outras situações de racismo na vida, com olhares preconceituosos, mas nada parecido com isso", afirmou.

A estudante ficou de dar queixa na delegacia local para registrar o crime, mas acha difícil o homem ser identificado.

"Eu não fiz a ficha dele e, logo após a atitude racista dele, saí para aplicar as vacinas, estava com isopor e seringas na mão. Nesse dia, foram 550 pessoas vacinadas", disse.

Eu não acreditei nas coisas que ouvi. Ele se recusou a ser vacinado por mim, porque sou negra. Isso tirou o meu chão, eu fiquei em estado de choque.
Thais Carvalho, estudante e voluntária na vacinação contra a covid

Prefeitura repudia atitude

A Prefeitura de Ilhéus divulgou uma nota de repúdio, na qual o prefeito Mário Alexandre (PSD) afirma que ações racistas devem ser repudiadas e combatidas por todas as pessoas.

"Deixo a minha solidariedade a Thaís. Atitudes como essa são inaceitáveis em um país cuja maioria da população é autodeclarada negra", comentou.

"Infelizmente, ainda nos deparamos com comportamentos mesquinhos, que humilham as pessoas. Mas não vamos parar de lutar por uma sociedade justa e igualitária, combatendo qualquer tipo de violência e crimes de ódio e discriminação."

A prefeitura afirma ainda que "continuará empenhada para combater a discriminação, a intolerância e o preconceito racial em todas as esferas sociais".

Vacinação na Bahia

A Secretaria de Saúde da Bahia informou que até as 16h de ontem (19) 3.052.551 pessoas haviam sido vacinadas com ao menos uma dose contra a covid-19. Dessas, 1.396.873 receberam a segunda dose.

Ainda de acordo com a secretaria, "tem se observado volume excedente de doses nos frascos das vacinas contra a covid-19, o que possibilita a utilização de 11 e até 12 doses em apenas um frasco, assim como acontece com outras vacinas multidoses".

O Ministério da Saúde autoriza utilização do volume excedente, desde que seja possível aspirar uma dose completa de 0,5 ml de um único frasco-ampola.

Casos de covid-19

No estado, nas últimas 24 horas, foram registrados 5.111 casos de covid-19 e 3.801 recuperados. O boletim epidemiológico desta quarta-feira (19) registra 77 óbitos.

Apesar de as mortes terem ocorrido em diversas datas, a confirmação e registro foram realizados nesta quarta.

Dos 966.268 casos confirmados desde o início da pandemia, 928.500 já são considerados recuperados, 17.637 encontram-se ativos e 20.131 tiveram óbito confirmado.

O boletim epidemiológico contabiliza ainda 1.246.759 casos descartados e 213.779 em investigação.

O número total de óbitos por covid-19 na Bahia desde o início da pandemia é de 20.131, representando uma letalidade de 2,08%.

Dentre os óbitos, 55,66% ocorreram no sexo masculino e 44,34% no sexo feminino.

Em relação ao quesito raça e cor, 54,80% corresponderam a parda, seguidos por branca com 22,05%, preta com 15,32%, amarela com 0,44%, indígena com 0,12% e não há informação em 7,27% dos óbitos.

O percentual de casos com comorbidade foi de 63,44%, com maior percentual de doenças cardíacas e crônicas (73,49%).