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Com mutação igual à cepa indiana, nova variante já está em 21 cidades de SP

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

25/05/2021 20h58

A nova variante do coronavírus descoberta por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) na cidade de Porto Ferreira (a 235 km de São Paulo) tem uma mutação similar à cepa do SARS-CoV-2 indiana e já está presente em pelo menos 21 cidades do interior paulista.

Segundo os cientistas responsáveis pelo sequenciamento, mesmo ganhando terreno no estado, ainda é cedo para saber se a nova variante —batizada de P.4— tem maior poder de transmissibilidade.

"A gente pode dizer que ela está circulando no estado, mas não tem como afirmar se ela está consolidada. Como nós a descobrimos muito recentemente, a gente não sabe se daqui a pouco a P.4 vai desaparecer sozinha, se vai surgir uma outra [variante], ou se ela vai se manter. Isso é uma coisa que não dá para a gente avaliar ainda, vamos ter de observar o comportamento", afirma a pesquisadora Cintia Bittar, que integra o grupo de cientistas da Unesp que fez a descoberta.

Ela explica que a nova variante tem uma mutação semelhante à cepa indiana —o que de imediato chamou a atenção da equipe.

"Quando nós estávamos analisando as amostras da cidade de Porto Ferreira, encontramos uma mutação em algumas delas: a L452R. Ela é uma mutação que estava presente na variante da Califórnia e, logo depois, descobriu-se que está na variante indiana. A P.4, porém, não tem relação com essas variantes, mas ela tem uma mutação em comum com elas. E essa mutação, particularmente, ainda não tinha aparecido em nenhuma das variantes que estão aqui no Brasil", explica.

Hoje no país, há duas variantes de origem nacional com maior circulação: as P.1 e a P.2, que têm outros tipos de mutações genéticas.

A mutação L452R, segundo Bittar, pode estar ligada a um escape imunológico —e assim causar a eventuais episódios de reinfecções de covid-19.

Ela é uma mutação já descrita na literatura que tem um impacto no reconhecimento de anticorpos. Então isso preocupa, e também nos preocupa o fato de que, na cidade em que nós estamos analisando [Porto Ferreira], já se observa um aumento dessa variante na cidade.
Cintia Bittar, pesquisadora da Unesp

Batismo hoje

Após fazer a descoberta, a equipe comunicou ao grupo internacional responsável por definir se o achado deve ser classificado como uma nova variante ou não. "Então eles confirmaram e, hoje, atribuíram o nome P.4 a ela", diz.

O trabalho envolveu pesquisadores dos campi de São José do Rio Preto, Botucatu e Araraquara da Unesp e que integram o projeto de pesquisa da rede Corona-Ômica, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Também envolveu pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) Pirassununga e Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. O achado científico já foi validado internacionalmente.

Para Bittar, ainda é cedo para saber se a P.4 vai se espalhar e se sobrepor a outras cepas ou se ela trará mais riscos de transmissão ou patogenicidade ao vírus. "A gente ainda não tem como saber porque é algo recente. A gente não sabe onde isso vai dar, mas é importante que todos sejam alertados para que medidas sejam tomadas e não deixem essa variante se espalhar muito pelo país ou pelo mundo", diz.