Maio tem recorde de doses, mas vacinação contra covid desacelera
Resumo da notícia
- Brasil bateu recorde no número de doses distribuídas em maio
- Ritmo de vacinação, porém, caiu na comparação com abril
- País vê estados com diferença entre doses distribuídas e aplicadas
- Burocracia e falta de estrutura são pontos que explicam diferença
Maio terminou como o mês com mais doses de vacinas contra a covid-19 distribuídas pelo Ministério da Saúde, mas isso não resultou no aumento do ritmo de vacinação no Brasil —ao contrário, o que se viu foi uma desaceleração.
A média diária de aplicação de doses no mês passado foi menor do que a de abril. Foram 662.600 por dia contra 822.300 no mês anterior, queda de cerca de 19%.
Por outro lado, em maio, foram distribuídas 33,1 milhões de doses, segundo informações do Ministério da Saúde. Até então, o maior número havia sido em março, com 27,5 milhões. Em abril, foram 20,6 milhões.
No total, quase 97 milhões de doses já foram repassadas pelo ministério a estados e municípios. Mas apenas sete em cada dez foram aplicadas no país.
Alguns estados têm enfrentado dificuldade para vacinar. O pior de todos é o Rio de Janeiro, que só aplicou 52%, pouco mais da metade das doses recebidas. Outros 11 estados fazem companhia aos fluminenses entre aqueles que estão abaixo da média nacional, de 70% das doses recebidas aplicadas.
Alguns fatores podem explicar os motivos que travam o avanço da imunização:
- o intervalo entre a distribuição e a aplicação das doses não é imediato, é normal haver um tempo entre a saída da vacina do laboratório e a chegada às cidades. Em alguns locais mais afastados, ele é ainda maior em razão de dificuldades logísticas;
- burocracia para registrar que uma dose já foi aplicada;
- estoque reservado para aplicação da segunda dose;
- cidades que já cumpriram a meta inicial e não tinham mais como avançar no programa de imunização.
Demora para registrar doses aplicadas
Ao contrário de outras vacinas, a contra o novo coronavírus exige que a equipe de saúde cadastre uma série de informações via internet para que a dose aplicada seja oficialmente contabilizada.
"Agora, a gente precisa inserir CPF, nome, lote da vacina, quem aplicou. A informação torna-se mais complexa para subir para o Ministério da Saúde", diz Marcelo Cabral, secretário-executivo do Conectar (Consórcio Nacional de Vacinas das Cidades Brasileiras), que reúne cerca de 2.000 municípios.
"A gente tem observado que muitos municípios estão fazendo esse registro manual, criando aquelas pilhas de papel, para depois inserir no sistema. Isso não é incomum."
Cabral diz também que a diferença entre os números é, em parte, reflexo de questões logísticas e de reserva para completar esquema vacinal, ou seja, reservar a segunda dose para quem tomou a primeira.
RJ: a pior relação
Subsecretário de Vigilância em Saúde do Rio de Janeiro, Mário Sérgio Ribeiro aponta que problemas estruturais são a causa dessa diferença entre doses distribuídas e aplicadas no estado.
Algumas cidades têm demorado para lançar a aplicação da dose no sistema, alegando falta de pessoal ou de capacidade técnica para fazer o serviço de maneira mais rápida, segundo ele, que aponta haver cidades que demoram até três semanas para realizar o registro. "A gente está em uma distância muito grande entre o que foi aplicado e o que está no registro."
O Brasil tem um sistema tripartite na gestão da saúde. No caso da vacinação, o governo federal fica responsável por comprar as doses, o estadual, por coordenar a imunização, e o municipal, pela aplicação.
Ribeiro diz que tem reclamado sobre a situação e feito o apelo para que os municípios mudem a situação, dizendo ter sugerido alternativas para que a situação mude, como a utilização de profissionais de outras secretarias municipais para lançar dados no sistema.
"A meu ver, não é justificativa plausível [a falta de pessoal]", diz, ao citar que cidades alegam que "falta digitador" para o serviço. "A gente só não entende por que o Rio de Janeiro continua nessa condição de último colocado no levantamento do registro", diz. "Fica feio."
O subsecretário também lembra que a demanda sobre as equipes que aplicam vacinas aumentou porque, simultaneamente à imunização contra a covid-19, são administradas doses contra a gripe. "É um problema crônico que está atingindo o estado do Rio de Janeiro."
O Conectar diz que está pensando em como atuar para minimizar esse problema de defasagem entre a informação de doses distribuídas e aplicadas.
De acordo com o subsecretário do governo fluminense, "o fato de a gente não ter um registro alto não significa que vacinas não estejam sendo disponibilizadas". "Estão pingando as vacinas. O nosso problema é conseguir superar essa questão do registro", diz Ribeiro, que ressalta que a estatística é fator importante para estratégias de combate à pandemia.
Logística interfere
Problemas de estrutura e logística têm afetado estados do Norte do país, como Roraima e Amazonas.
"O nosso processo de vacinação no interior é muito mais demorado porque os nossos municípios são muito grandes", diz Cássio Espírito Santo, secretário-executivo de Assistência do Interior da Secretaria de Saúde do Amazonas. "São dias para chegar à área ribeirinha." Ele cita como exemplo a região de Palmeiras do Javari, onde, para chegar a vacina, "são seis dias subindo o rio".
Isoladas, algumas comunidades não têm como informar a aplicação da dose "porque não têm suporte de internet". "Mas o processo de vacinação vem ocorrendo no interior."
Falta de braços e negacionistas
Líder na relação de estados que mais aplicam doses, o Mato Grosso do Sul enfrentou um outro problema: não ter mais quem vacinar. Isso porque já havia imunizado as pessoas do grupo prioritário.
Desde a flexibilização, autorizada pelo Ministério da Saúde na semana passada, o estado pôde começar a vacinar por faixa etária. "Isso vai fazer avançar muito a imunização", diz o secretário de Saúde do estado, Geraldo Resende.
Antes da flexibilização, segundo o Cosems (Conselho de Secretários Municipais) do estado, nove cidades já haviam finalizado a aplicação da primeira dose dos grupos prioritários, por determinação do PNI (Programa Nacional de Imunizações). Agora, já começaram a vacinar de acordo com a faixa etária.
Pernambuco também espera acelerar a vacinação a partir da flexibilização. "Com a liberação, objetiva-se ampliar a imunização dos pernambucanos e, consequentemente, proteger mais pessoas, evitando deixar doses paradas", disse, em nota, a secretaria estadual.
Para ter uma alta relação entre doses distribuídas e aplicadas, Resende diz "não ter vergonha de ser uma espécie de bedel". "De ligar para prefeito, secretário municipal pedindo para avançar na imunização."
Segundo o secretário, uma outra dificuldade, mas em menor escala, esteve nas pessoas que não quiseram receber vacina. "Sabemos que estamos em um estado muito conservador, em que algumas pessoas que não seguem a recomendação de autoridades sanitárias", diz.
"Mas temos feito o apelo para a gente superar esses obstáculos, que têm um viés político, principalmente naqueles que negam a doença, o uso da vacina, uso de máscara. E que são responsáveis pelo momento que a gente vivencia."
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