Nature: Com covid, expectativa de vida do brasileiro já diminuiu 3,1 anos
A expectativa de vida do brasileiro diminuiu 1,3 ano em 2020 e vai cair ao menos 1,8 ano em 2021 devido ao excesso de mortes provocadas pela covid-19. Os dados estão em artigo publicado hoje por pesquisadores na revista Nature, uma das publicações científicas mais respeitadas do mundo.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a expectativa de vida no Brasil, em 2019, foi de 76,6 anos —três meses a mais do que o indicador de 2018. Entre homens, ela alcançou 73,1 anos; nas mulheres, 80,1 anos.
"O número de mortos de covid-19 no Brasil foi catastrófico. Os ganhos estaduais em longevidade alcançados ao longo de anos ou mesmo décadas foram revertidos pela pandemia. A falta de uma resposta coordenada, rápida e equitativa informada pela ciência, bem como a promoção da desinformação, têm sido a marca do atual governo", diz o estudo, assinado por Marcia Castro, Susie Gurzend, Cassio Turra, Sun Kim, Theresa Andrasfay e Noreen Goldman.
2020 e o retrocesso de 7 anos
Segundo a revista, em 2020, o país teve um resultado que o fez retroceder ao patamar de 2014. A queda foi maior para o sexo masculino (1,57 ano) do que para o feminino (0,95 ano).
"A maior queda absoluta e relativa entre os estados foi estimada para o Amazonas (3,46 anos), seguido por Amapá (3,18 anos) e Pará (2,71 anos), todos na região Norte. Rio Grande do Sul, na região Sul, foi o único estado com aumento estimado de 2019 a 2020 para ambos os sexos (0,07 ano), mas um declínio para os homens de 0,11 ano", aponta o estudo.
A expectativa de vida de pessoas a partir de 65 anos também caiu em 2020: o declínio estimado para o Brasil foi de 0,94 ano para ambos os sexos —especificamente 0,66 ano para as mulheres e 1,17 ano para os homens. Isso fez o país retroceder ao patamar de 2012.
Novamente, a região Norte apresentou o pior resultado. "Entre os estados, as maiores quedas foram estimadas para Amazonas (3,14 anos), Amapá (2,46 anos) e Pará (2,44 anos). No Amazonas, estima-se que o sexo masculino diminua em 20% de 2019 a 2020 a expectativa de vida após 65 anos", diz o estudo.
Os pesquisadores ressaltam que a queda nesses estados foi maior por conta da menor qualidade do serviço prestado.
"Os estados do Norte e Nordeste apresentam os piores indicadores de desigualdade de renda, pobreza, acesso à infraestrutura e disponibilidade de médicos e leitos hospitalares. No Nordeste, porém, as reduções estimadas na expectativa de vida em 2020 são menores do que no Norte. Os governadores daquela região impuseram as mais rigorosas medidas de distanciamento físico, em oposição direta às recomendações do presidente", dizem os especialistas.
2021 com piora
Levando em conta o aumento de mortes em 2021 causadas pela covid-19, os cientistas já calculam que neste ano os números serão ainda mais negativos.
"Nos primeiros quatro meses de 2021, as mortes de covid-19 representaram 107% do total de 2020. Supondo que as taxas de mortalidade teriam sido iguais às taxas de todas as causas de 2019 na ausência de covid-19, as mortes de covid-19 em 2021 já reduziram a expectativa 2021 em 1,8 ano, o que é ligeiramente maior do que a redução estimada para 2020 em suposições semelhantes", aponta o artigo.
Os cientistas alegam, porém, que, como a pandemia continua, "o efeito final em 2021 será ainda maior".
Segundo cartórios de registro civil, do início da pandemia até o dia 30 de abril, o Brasil computou 417 mil mortes.
Apesar de explicarem a covid-19 como propulsor do retrocesso, os cientistas também traçam outros problemas que o país deve enfrentar nos próximos anos.
"A covid-19 interrompeu os serviços de atenção primária no Brasil. Isso comprometeu o rastreamento do câncer, com redução de cerca de 35% em novos diagnósticos. A vacinação infantil foi reduzida, principalmente entre crianças pobres na região Norte. A interrupção do tratamento e diagnóstico da tuberculose e HIV pode aumentar a mortalidade nos próximos cinco anos. As condições gerais de saúde dos indivíduos com diabetes pioraram em 2020 devido à redução da atividade física, adiamento das consultas médicas e interrupção do tratamento medicamentoso regular", citam os cientistas.
Eles apontam esses exemplos "de deterioração das condições de saúde que não só irão gerar uma maior demanda por serviços de saúde, mas também podem afetar os padrões de mortalidade futuros".
Além disso, dizem que as sequelas da covid-19 entre os pacientes, a degradação social e financeira do país e o corte de investimentos em saúde devem agravar o cenário.
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