Covid: Aos 107, idosa supera solidão de internação com cartazes em japonês
Algumas frases foram cruciais para a recuperação de Yumiko Tanaka, 107. A japonesa ficou internada com covid-19 durante 16 dias em um hospital de campanha de São Caetano do Sul, no ABC paulista, e usou cartazes para aplacar a solidão nesse período.
Como não fala português e tinha de ficar isolada, sua neta deixou alguns recados para ela enquanto a distância tivesse de persistir: "Força", "Precisa ficar forte" e "Sua família te ama".
Nascida em Okinawa, no Japão, Yumiko já morou em Peruíbe, no litoral de São Paulo, e há um ano vivia em São Caetano com os seis filhos, seis netos e um bisneto depois de ter sofrido uma queda em casa.
Os familiares contaram ao UOL que ela estava com bronquite, o que facilitou o contágio pela covid.
A neta Ana Carolina Tanaka disse que a avó estava com um chiado persistente, mesmo tomando antibióticos.
Preocupados, viram que sua saturação estava baixa e a levaram para o Hospital Municipal de Emergências Albert Sabin, em São Caetano, no último dia 6. De lá, foi encaminhada para o hospital de campanha da cidade, de onde só saiu no dia 22.
Recuperação e sorvete
Em casa, se recupera aos poucos. Ela se alimenta bem, responde aos estímulos, assiste a danças odori, tradicionais no Japão, e ouve músicas de Okinawa.
"Já tomou 'coca-cora', sorvete, chá [otcha], coisas de que ela tanto gosta. Logo na primeira sessão de fisioterapia, já teve grandes avanços", relata a neta.
Ela ainda está bem inchada, com retenção de líquido. Estamos fazendo massagem e trocando de posição entre cama, sofá e cadeira de rodas para ter estímulo, porque ela ficou muito tempo parada.
Ana Carolina Tanaka, neta de Yumiko Tanaka
Os dias no hospital
A neta conta que sofreram muito com a distância nos dias em que Yumiko ficou internada. Seu quadro também não ajudou a diminuir a aflição.
"Por várias vezes, tivemos medo de perdê-la. Noutros dias comemorávamos. Não chegou a ser entubada, mas precisou receber 13 litros de oxigênio. Mas nós tínhamos medo de ela achar que a tínhamos abandonado", conta.
Yumiko nunca tinha ficado sozinha no Brasil. Mas ficou animada quando foi atendida por um ortopedista que falava japonês.
"Por sorte, o médico era descendente de japonês e sabia algumas palavras. Por dez dias, ela teve apenas o carinho deles", diz Ana Carolina.
"Expliquei várias vezes que ela ficaria isolada, mas que estávamos esperando lá fora e que todo mundo a amava. Mas fiquei com medo de ela se esquecer. Então tive a ideia de fazer as 20 frases escritas em placas em japonês para ajudar no dia a dia no hospital e para dar força a ela", conta a neta.
Como Yumiko não tem problemas para ler, isso a ajudou. "Coloquei a tradução e a pronúncia."
Algumas frases que ela escreveu:
- Você sente dor em algum lugar? Onde dói?
- Você precisa se alimentar para sair logo do hospital.
- Coma mais um pouco, por favor.
- Por favor, não tire a máscara. Você precisa ficar com a máscara para sair do hospital e encontrar sua família.
- Sua família te ama e todos estão esperando você lá fora.
- Por favor, tenha paciência.
"Minha avó materna está no Brasil desde 1959. Para quem sobreviveu à guerra, tudo está bom. Não reclama de nada, sempre foi tranquila e amorosa", diz a neta, que conta que Yumiko herdou a genética da mãe, morta aos 103 anos em Okinawa.
"Ela fazia ginástica sozinha, em torno da mesa de jantar. Adora chá, Coca-Cola e sorvete. Ela tem o costume de apertar as mãos bem forte, diz que é troca de energia, e se sente melhor quando está de mãos dadas com alguém. Durante a internação, apertou as mãos dos médicos e enfermeiros."
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