Evento-teste com público não é para já flexibilizar, diz Luana Araújo
Algumas cidades brasileiras se prepararam para realizar o que os administradores públicos chamam de "evento-teste": reunião pública com pessoas que já tomaram a primeira dose da vacina contra a covid-19. Para a infectologista Luana Araújo, ex-Ministério da Saúde, não é hora de se empolgar: esses eventos têm caráter científico e não servirão como ensaio para flexibilização total das regras sanitárias.
A cidade de Salvador, por exemplo, já anunciou que pretende realizar um evento-teste com 500 pessoas em 29 de julho no Centro de Convenções de Salvador. Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) também anunciou a realização de eventos para avaliar a possibilidade de flexibilização das medidas de isolamento social. O encontro terá alto potencial de aglomeração em meio à chegada ao Brasil da variante delta, a cepa mais transmissível do novo coronavírus.
Para a especialista —que na CPI da Covid afirmou ter sido demitida do governo sem explicações após 10 dias na Secretaria de Enfrentamento à Pandemia—, evento-teste "é um experimento científico, não é um experimento social".
"Tem de obedecer inúmeras regras pra que a gente tenha a informação que a gente quer sobre ele [o evento-teste]", afirmou Araújo à CNN na manhã de hoje. "Não é um teste para flexibilização, é para entender em que ponto estamos [da pandemia]."
Ela explica que o evento servirá pra "mensurar" o número de eventuais infecções após o encontro, se as pessoas estão mesmo protegidas pela primeira dose e se o Brasil está muito distante de uma flexibilização maior.
O que a gente espera dos gestores é que na hora de executar esse teste, seja dentro dessas regras e responda a esse tipo de questionamento, não é um preparatório de flexibilização
Luana Araújo, infectologista e epidemiologista
Vai ter Carnaval?
Questionada se o Brasil estará pronto para realizar as festas de fim de ano e o Carnaval de 2022, a especialista falou que o Brasil "tem todo o potencial diante do nosso sistema de saúde", mas pediu cautela.
"Se vai acontecer no réveillon é um desafio enorme", disse. "Precisa contar com a participação do povo, tem de esclarecer que sem a participação dele nas medidas de prevenção e vacinação, a gente não vai ter isso, e não adianta planejar."
Para isso, porém, ela sugere que o governo invista em forte campanha de esclarecimento, o que, segundo ela, não aconteceu até hoje.
"A gente nunca teve uma boa campanha de informação. Sempre foi entregue às pessoas e meios de comunicação o dever de buscar a informação sobre o que deveriam fazer, o que é complexo quando a gente enfrenta tamanha quantidade de fake news por aí."
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