Variante Delta circula em capitais; quais efeitos esperados para o Brasil?
A confirmação de que a variante Delta já circula em cidades populosas do país, como Rio de Janeiro e São Paulo, acendeu o alerta para a possibilidade de uma nova onda de covid-19, como está ocorrendo no Reino Unido e nos Estados Unidos, por exemplo.
A nova cepa, originária da Índia, é altamente transmissível e escapa mais às vacinas do que as outras existentes.
Existe uma preocupação, mas especialistas ouvidos pelo UOL dizem que o grande número de casos de covid-19 causados pela variante Gamma [P.1, descoberta no Amazonas] no primeiro semestre pode estar garantindo uma imunidade temporária contra a Delta —o que impediria a sua disseminação em larga escala.
"A gente sabe que há algum grau de proteção para quem teve covid [pela Gamma]. Na maioria das pessoas, isso deverá ser suficiente para evitar quadros graves. Mas provavelmente não será algo em 100% dos casos", explica Felipe Naveca, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia.
Mas não dá para ter certeza até quando essa proteção vai funcionar, seja pelo tempo de imunidade, seja pelo surgimento de mais variantes.
Felipe Naveca, pesquisador
O virologista Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica e integrante da Universidade Feevale (RS), também concorda que essa alta taxa de contaminação é uma espécie de "protetor natural", mas alerta que isso deve durar pouco.
"Nós podemos teorizar que, talvez, o encontro da Delta com os mesmos hospedeiros que estão ainda sendo infectados pela Gamma —e que estão 'protegidos'— pode explicar, no curtíssimo prazo, porque que ela não se disseminou ainda. Mas isso não vale a longo prazo", diz.
Ele cita que as respostas só virão com o passar das semanas. "Na Índia, a Delta começou a surgir em dezembro [de 2020] e só foi provocar grandes surtos em fevereiro. Foi muito associado às flexibilizações nas rotinas sociais. Então, se nós continuarmos dando chance ao vírus com flexibilizações, a gente pode, sim, ter surtos e a disseminação da variante Delta", explica.
Delta pode dominar o país?
Fernando Spilki afirma que ainda é cedo para dizer que a variante vai dominar o país, como fez em outros países. "A grande pergunta é essa: a variante vai se sobrepor à P.1?."
O processo de sobreposição de variantes é importante para entender a proliferação da doença em um território. Um exemplo foi o avanço da variante Gamma, que começou no Amazonas e rapidamente se espalhou pelo país. Em abril e maio, ela já respondia por mais de 90% dos casos de covid-19 no Brasil.
Veremos isso nas próximas semanas. Se a Gamma continuar o domínio, se essa teoria for realmente verdadeira, a gente não deve enxergar nas próximas semanas esse avanço da Delta.
Fernando Spilki, pesquisador
Mas, se a Delta dominou a Europa, porque seria diferente no Brasil? Spilki explica que outro ponto a ser considerado é o contexto brasileiro, onde vivemos uma explosão de casos há poucos meses.
"Quando entrou a variante Alfa entrou na Europa, tanto a Inglaterra, quanto outros países, tomaram medidas de restrição de aglomeração e intensificação da vacinação. A variante Delta chega e pega uma população que está saindo às ruas. É diferente do caso do Brasil, onde você tem um surto de enormes proporções com a variante Gamma. Temos um grande contingente populacional de infectados em março e abril", afirma.
O pesquisador Felipe Naveca explica ainda que outro ponto tão importante para uma eventual chegada da Delta é saber quantas introduções de variantes haverá no país. "A quais locais ela vai chegar e quantas vezes? Nem sempre haverá muita disseminação; ou seja, poucas introduções diminui a chance de espalhar —e o contrário é verdadeiro", explica.
Vacinação rápida é solução
Diante de um cenário com baixo número de suscetíveis à doença no país, acelerar a vacinação é ainda mais importante. Ou seja: há uma corrida contra o tempo para evitar que a "imunidade natural" do pico da epidemia desapareça sem termos a população vacinada.
Eu espero que a imunidade não caia muito antes de estarmos bem adiantados com a vacinação. É crucial agora acelerar a vacina, que não daria chance também de outras variantes surgirem.
Felipe Naveca, pesquisador da Fiocruz Amazônia
Para a infectologista e professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Vera Magalhães, em meio a um cenário de incertezas e de imunidade temporária, o ideal seria adiantar a vacinação em duas doses.
"Essa variante deve dominar o mundo em breve. E tanto a vacina da Pfizer como a AstraZeneca —ambas aplicadas aqui— têm uma dose ineficaz contra essa variante. Já duas doses aumentam a eficácia, dizem os estudos. É por isso que se deve antecipar esse intervalo de doses de 90 para 60 dias e garantir a proteção", diz.
Ela lembra ainda que só deve haver um controle do novo coronavírus no Brasil quando a maior parte da população estiver imunizada. "O ideal é haver uma vacinação rápida e o mais abrangente possível, já que só quando tivermos 80% da população vacinada é que vai haver uma diminuição da transmissão viral."
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