Tarcísio Meira estava vacinado; imunizados são só 3,7% de mortos por covid
Vítima do novo coronavírus, o ator Tarcísio Meira, 85, engrossa as estatísticas dos mortos pela covid-19 que receberam as duas doses do imunizante. Embora 3,7% dos que morreram pela doença no Brasil já tivessem passado pelo ciclo completo de vacinação, esse percentual chega a 8,8% entre maiores de 70 anos.
O ator estava internado desde o dia 6 de agosto no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, junto com a esposa, a atriz Glória Menezes, 86, também imunizada, mas infectada pelo vírus. Enquanto ela se recupera em um quarto, o marido estava intubado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), passando por "diálise contínua" por problemas nos rins.
Nora do ator, Mocita Fagundes, 57, comentou na semana passada sobre a contaminação do casal: "Estavam isolados e num descuido foram contaminados. Essa doença é traiçoeira".
Aproximadamente 9.878 brasileiros que morreram por covid-19 no Brasil já haviam tomado as duas doses ou a aplicação única do imunizante da Janssen e 28.660 pessoas vacinadas foram internadas no período, segundo pesquisa da Info Tracker, das universidades estaduais USP e Unesp.
Os dados foram colhidos do Ministério da Saúde entre 28 de fevereiro —quando as primeiras pessoas no Brasil concluíram a janela de imunização— e 27 de julho. A plataforma não levou em consideração o tipo de vacina porque o campo com essa informação nem sempre é preenchido.
Apesar dessas mortes por covid-19, a vacinação ainda é a melhor forma de controlar a doença. Nenhum dos imunizantes contra o coronavírus até hoje desenvolvidos garante 100% de proteção, mas todos reduzem drasticamente as chances de internações, casos graves e mortes pela doença.
Idosos são principais vítimas
Os idosos com mais de 70 anos são as principais vítimas, diz a pesquisa: 8.734 pessoas que morreram nessa idade por covid e 23 mil que foram internadas já tinham recebido as duas doses.
Além de possuir imunidade menor, esse público completou primeiro o ciclo de vacinação e, por isso, há mais informações sobre esta faixa etária no site do governo.
A constatação reforça a necessidade de que idosos e pessoas de seu convívio mantenham distanciamento social e usem máscara mesmo após a imunização completa.
"Para respeitar o tempo que o corpo precisa para desenvolver anticorpos após as duas doses ou dose única, nosso cálculo contabilizou as internações e óbitos ocorridos após 18 dias da segunda dose: 15 dias depois da aplicação e mais três para o surgimento dos sintomas", afirma Wallace Casaca, um dos coordenadores da plataforma.
22 mil mortos após 1ª dose
Entre aqueles que receberam apenas a primeira das duas doses necessárias, 65 mil pessoas foram internadas e 22 mil morreram por covid-19.
Diretor clínico do hospital Igesp (Instituto de Gastroenterologia de São Paulo), o infectologista Marco Antonio Cyrillo diz que os imunizantes seguem como "a melhor forma de controlar a doença", e explica as razões para a mortalidade maior entre idosos.
Ele afirma que a produção de anticorpos no ser humano é alta dos 12 aos 45 anos, mas que "depois dos 45 ela começa a cair".
"Além de os idosos produzirem menos anticorpos, eles são menos potentes", diz. "Some-se a isso as doenças de base. Idosos costumam ter problemas de coração, pulmão, diabete, alterações intestinais e no rim, às vezes tumores. Isso tudo reduz a imunidade."
O especialista defende o uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento social a todos que receberam a imunização completa, especialmente os idosos.
"Nenhuma sociedade médica lançou documento dizendo que após a segunda pode-se abrir mão dessas proteções individuais. Temos de continuar seguindo as recomendações, independentemente da idade, mas principalmente entre os idosos", diz.
A vacinação ainda é a melhor forma de controlar a doença e evitar mortes."
Marco Antonio Cyrillo, infectologista
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