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Bolsonaro repete mentira sobre Coronavac e questiona 'foco' em vacinas

O presidente Jair Bolsonaro - Alan Santos/PR
O presidente Jair Bolsonaro Imagem: Alan Santos/PR

Hanrrikson de Andrade e Antonio Temóteo

Do UOL, em Brasília

04/09/2021 18h55Atualizada em 04/09/2021 19h51

Em discurso durante um fórum conservador em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) repetiu a mentira de que a CoronaVac, vacina contra a covid-19 aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), não tem "comprovação científica". O presidente já havia feito a mesma alegação falsa em uma live em julho. Bolsonaro também questionou o "foco" em vacinas no combate à pandemia provocada pelo coronavírus.

O uso emergencial da CoronaVac foi autorizado pela Anvisa, um órgão do governo federal, em janeiro. Pesquisas têm mostrado que a vacina é eficaz na redução de mortes por covid. O imunizante é fabricado pelo Instituto Butantan, órgão do governo de São Paulo, estado que é governado por João Doria (PSDB) — adversário político do presidente.

"Por que ficarmos apenas focados na vacina? E eu pergunto, fala-se em comprovação científica. A CoronaVac tem alguma comprovação científica?"
Presidente Jair Bolsonaro

Bolsonaro voltou a atacar a CoronaVac no mesmo dia em que a Anvisa determinou a suspensão, de forma cautelar, de ao menos 25 lotes da vacina CoronaVac envasados em local não autorizado pela agência. A decisão afeta 21 milhões de doses. O Ministério da Saúde orienta que as doses já distribuídas aos Estados não sejam aplicadas. Os lotes impactados podem ser consultados no site da agência.

O presidente ainda chamou de "protótipos de ditadores" prefeitos e governadores de cidades e estados que exigem o passaporte da vacina. Nas cidades do Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo, será obrigatório tomar vacina contra a covid-19 para entrar nos estabelecimentos. As prefeituras lançaram passaportes de vacinação que deverão ser exigidos no comércio, serviços e eventos em geral.

"Alguns protótipos de ditadores no Brasil, que são alguns governadores e prefeitos, ainda querem o passaporte da vacina. É uma irresponsabilidade. O governo fez sua parte. Lamentavelmente, a política do 'fica em casa' e da truculência para destruir empregos e renda continuava forte no meio de alguns governadores, em especial os de esquerda e do 'calcinha apertada' também [em referência ao governador de São Paulo, João Doria]", declarou.

Defesa de suposto 'tratamento precoce'

Além de criticar as vacinas, Bolsonaro voltou a defender o suposto "tratamento precoce" contra a covid, com uso de cloroquina e ivermectina. Segundo ele, "foram inventados" efeitos colaterais relativos ao uso desses medicamentos. Os estudos feitos até agora mostram que não há comprovação científica sobre a eventual eficácia no tratamento precoce defendido por Bolsonaro.

A cloroquina e a hidroxicloroquina têm, sim, efeitos colaterais. Porém, variam de acordo com o organismo de cada pessoa.

Os medicamentos podem causar problemas como:

  • Distúrbios de visão;
  • Irritação gastrointestinal;
  • Alterações cardiovasculares e neurológicas;
  • Cefaleia;
  • Fadiga;
  • Nervosismo;
  • Quem tem psoríase ou porfiria pode ter ataque agudo da doença, prurido, queda de cabelo e exantema cutâneo.

Essas drogas, de uso controlado, são usadas para tratar doenças como lúpus eritematoso sistêmico e discoide, artrite reumatoide e juvenil, doenças fotossensíveis e malária.

Devido à "publicidade" de Bolsonaro, as pessoas que realmente precisavam das drogas, como pacientes com lúpus, tiveram dificuldade para comprar, já que os estoques das farmácias esvaziaram, em meados de abril do ano passado.

A hidroxicloroquina também tem contraindicações de uso para quem: retinopatias preexistentes; alérgicos a cloroquina (raro); diagnóstico de porfiria, miastenia gravis ou arritmia; pacientes em uso de digoxina, amiodarona, verapamil ou metoprolol; hipersensibilidade conhecida aos derivados da 4-aminoquinolina e menos de seis anos de idade.