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Em live, Bolsonaro mente sobre CoronaVac e apuração de votos

22.jul.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em sua live semanal - Reprodução/YouTube Jair Bolsonaro
22.jul.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em sua live semanal Imagem: Reprodução/YouTube Jair Bolsonaro

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

22/07/2021 21h16Atualizada em 20/07/2022 21h13

Em nova defesa do voto impresso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) apresentou, em sua live de hoje, informações falsas sobre o processo de apuração do resultado de eleições pela urna eletrônica. Bolsonaro disse que a apuração é feita por "meia dúzia" de pessoas, quando na verdade a contagem é toda feita por máquinas — inclusive as próprias urnas eletrônicas.

O presidente também voltou a alegar falsamente que a CoronaVac não tem comprovação científica e estaria em "fase experimental". A fala do presidente ignora resultados de pesquisas sobre a eficácia e a efetividade da vacina, além da aprovação para uso emergencial por parte da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Veja abaixo o que o UOL Confere checou:

Que eleição é essa onde meia dúzia de pessoas têm as chaves criptográficas, e mandam em todo o sistema, e apresentam o resultado depois de saírem de uma sala fechada onde meia dúzia apura os votos?"
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

FALSO: Os votos são computados eletronicamente por cada urna e depois enviados a um sistema por meio de uma rede privada de satélite. Este sistema, também informatizado, é o responsável por totalizar os votos — ou seja, fazer a soma dos votos de cada urna.

A urna também imprime, em cinco vias, um documento chamado boletim de urna. O boletim mostra os votos que cada candidato teve naquela urna, além dos brancos e nulos. Uma das vias é afixada no local de votação, e as demais ficam disponíveis para consulta dos partidos políticos. O arquivo que armazena os votos de cada urna, chamado RDV (Registro Digital do Voto), também fica disponível a todos os partidos.

Com os boletins de urna e o RDV, cada partido pode fazer a própria contagem dos votos e comparar com o resultado final computado pelo maquinário do TSE. Todo o processo de apuração foi explicado em reportagem recente do UOL.

A Coronavac não tem comprovação científica, ainda está em fase experimental."
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

FALSO: A Coronavac teve o uso emergencial aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) após testes que demonstraram a eficácia global de 50,38% — isso representa a proporção de pessoas que não foram infectadas após tomarem a vacina.

Desde então, outras pesquisas científicas foram realizadas para avaliar a vacina. Um estudo de efetividade conduzido pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, vacinou cerca de 75% da população adulta e observou quedas de 80% nos casos sintomáticos de covid e de 86% nas internações, além de reduzir as mortes em 95%.

Outra pesquisa, feita no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, mostra que houve queda de 80% nos casos de covid entre 22 mil funcionários vacinados com a Coronavac, mesmo tratando-se de agentes de saúde constantemente expostos ao vírus.

Importante ressaltar que nenhuma vacina garante 100% de imunidade contra uma doença. O propósito delas é tornar o contato do sistema imunológico com o vírus mais seguro e reduzir internações e mortes. Quanto maior a quantidade de pessoas vacinadas, menores as chances de o vírus continuar circulando. O que permite a erradicação de uma doença — ou redução dos casos — é a ampla cobertura vacinal. Ou seja: quanto mais pessoas protegidas, menor a circulação do vírus.

Você sabe quanto custa o gás de cozinha lá na origem? Sai a R$ 44. Você sabe quanto é o imposto federal do gás de cozinha? Zero."
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

SEM CONTEXTO: O governo de fato zerou os tributos federais sobre o gás de cozinha, mas eles representavam apenas 2,6% do preço médio do botijão no país (R$ 2,18). Além disso, a atual política de preços da Petrobras acompanha os mercados internacionais. Isso deixa os preços sujeitos ao câmbio, o que levou a reajustes do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) ainda nas refinarias.

Em maio de 2021, o custo do botijão sem tributos estava próximo ao valor citado pelo presidente: R$ 42,31, segundo levantamento do Sindigás (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo) a partir de dados da ANP.

Com o auxílio emergencial, gastamos o equivalente a dez anos de Bolsa Família"
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

INSUSTENTÁVEL: É difícil fazer uma comparação entre os valores pagos nos dois programas, principalmente porque Bolsonaro não especifica qual seria o intervalo de tempo em que os gastos citados sustentariam sua alegação.

Em um pronunciamento feito no começo de junho, Bolsonaro fez comparação parecida: "Destinamos, em 2020, R$ 320 bilhões para o Auxílio Emergencial para atender aos mais humildes. Esse montante equivale a mais de 10 anos de Bolsa Família."

A comparação fica prejudicada pelo fato de que, no ano passado, as famílias beneficiárias do Bolsa Família receberam o auxílio emergencial, o que reduziu o total pago pelo governo no primeiro programa.

Além disso, os benefícios possuem critérios diferentes e foram criados com propósitos distintos. O Bolsa Família, criado em 2003 para combater a pobreza no país, seleciona seus beneficiários de acordo com a sua renda. Já o auxílio emergencial foi criado na pandemia com principal foco em atender trabalhadores informais.

No ano passado, o governo divulgou a previsão de gastos de R$ 320 bilhões com o auxílio — o valor citado por Bolsonaro no pronunciamento em junho — mas gastou efetivamente R$ 295,2 bilhões, segundo o Portal da Transparência.

Neste caso, o valor previsto corresponde a aproximadamente dez vezes o total gasto com o Bolsa Família em 2019: R$ 31,1 bilhões, segundo dados da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério da Cidadania. Corrigido pela inflação medida pelo índice IPCA, esse valor seria de R$ 32,2 bilhões ao fim de 2020.

[Argentina] é um dos países que mais tem mortes por milhão de habitantes."
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

SEM CONTEXTO: O Brasil tem uma taxa maior de mortes por milhão por covid-19 do que a Argentina. Segundo o painel do Our World In Data, da Universidade de Oxford, o Brasil é o nono no ranking, enquanto a Argentina é o 12º.

Em reportagem do UOL, especialistas explicaram que o cálculo de mortes por milhão — chamado "taxa de mortalidade" — é mais indicado para avaliar acidentes, violência e outros índices. No caso de pandemias, a análise não leva em consideração as particularidades de cada país (como testagens e políticas de combate).

O uso do índice de mortes por milhão deixa o Brasil — com mais de 200 milhões de habitantes — atrás de países como Hungria, San Marino e Montenegro, que possuem bem menos habitantes e também muito menos mortes, em números absolutos, que o Brasil. San Marino, por exemplo, tem apenas 33 mil habitantes e contabilizou 90 mortes. No cálculo de óbitos por milhão de habitantes, no entanto, apresenta taxa superior ao Brasil.

É um sinal [mortes na Argentina] de que esse 'feche tudo, fique em casa' não tem comprovação científica, mas, na prática, nós estamos vendo que não deu certo na Argentina."
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal

FALSO: A Argentina anunciou um endurecimento das restrições no país em maio, um mês depois de um vertiginoso aumento de casos de covid-19. Desde então, os números vêm declinando.

Além disso, a eficácia do isolamento social foi comprovada por diversos estudos científicos. Um deles (Hsiang et al), tratando das medidas de redução de contágio adotadas em 1,7 mil diferentes localidades da Ásia, Europa e EUA, até então, sugeria que mais de 140 milhões de infecções haviam sido "evitadas ou adiadas" graças às restrições. Outro (Flaxman et al), sobre 11 nações europeias, calcula que 3 milhões de vidas haviam sido salvas pelas restrições, até 4 de maio.

Aqui mesmo no Brasil, artigo publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia (Cruz) mostrou resultados positivos de restrições impostas no estado de São Paulo.

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