Na véspera de antecipar 2ª dose, Saúde ainda não publicou orientações
O Ministério da Saúde ainda não publicou as orientações prometidas a estados e municípios para a antecipação da segunda dose da vacina contra a covid-19. Embora a redução do intervalo entre as doses tenha sido anunciada pelo ministro Marcelo Queiroga em 25 de agosto, o documento continua em formulação faltando um dia para o início da mudança.
Na ocasião, o ministro anunciou à coluna da jornalista Mônica Bergamo que a partir do dia 15 de setembro o intervalo entre as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca seria reduzido de 12 para 8 semanas, como acontece no Reino Unido.
Ontem, ele reafirmou a intenção de antecipar as doses. "Eram 12 semanas e agora serão oito. A partir do dia 15 [de setembro] há como assegurar vacinas para isso", afirmou em entrevista coletiva. Se de fato houver a mudança, ela ocorrerá em meio à falta de doses da AstraZeneca em alguns estados.
Diante da necessidade de antecipar a entrega de milhões de vacinas, o ministério prometeu ainda no dia 25 publicar "em breve" uma Nota Técnica "para orientar os gestores locais do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre as novas recomendações".
O documento, no entanto, ainda não foi divulgado. A informação de que a nota ainda está em fase de formulação foi confirmada ao UOL pela pasta, que não respondeu sobre quando as doses extras para antecipação serão enviadas aos estados.
Procurado, o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) informou por meio da assessoria de imprensa "que a medida foi anunciada em coletiva no último mês, mas ainda não recebemos a nota técnica".
Especializada em saúde pública, a professora e pesquisadora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Ligia Bahia, considera "fundamental" a redução do intervalo das doses para acelerar a imunização, mas critica a demora do governo federal em orientar estados e municípios.
Se o governo não toma decisão, não conduz o processo e não estabelece regras, prefeitos e governadores vão decidir. É fundamental acelerar a vacinação, mas o governo não lança a Nota Técnica porque não tem vacina para isso
Ligia Bahia, professora da UFRJ
Para a professora, a demora em publicar a Nota Técnica não passa de "jogo político".
"O governo federal não orienta e aí estados e municípios são obrigados a decidirem por conta própria. Quando fazem isso, são criticados pelo ministério", diz. "Toda a orientação deveria ser do governo federal porque é ele o comprador da vacina."
A decisão de reduzir os intervalos foi tomada para impedir o avanço da variante delta no Brasil, uma vez que estudos demonstram que a primeira dose tem eficácia menor contra a cepa.
Podem faltar 3 milhões de doses
No começo do mês, o UOL publicou reportagem sobre a possibilidade de a antecipação da segunda dose deixar 3 milhões de pessoas sem AstraZeneca em setembro. É que 4,4 milhões de brasileiros que receberiam a segunda dose do imunizante apenas em outubro já poderão pedir a segunda injeção em setembro.
O problema é que 17,8 milhões de brasileiros completam o ciclo de 12 semanas de imunização com a vacina também em setembro e precisarão da segunda dose nos próximos dias.
No último sábado (11), ao menos cinco estados não tinham o imunizante em estoque: São Paulo, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
Ontem, o Conass enviou um ofício ao ministro da Saúde pedindo autorização para a intercambialidade de vacinas já na segunda dose. O argumento é justamente a falta de AstraZeneca.
Ainda na coletiva de ontem, Queiroga refutou essa ideia ao sugerir eventual "intercambialidade (...) se a AstraZeneca faltar". "Agora o critério não é faltou um dia e troca, se não a gente não consegue avançar", disse.
"A ideia é que a vacina seja homóloga, a heteróloga é para reforço ou dose adicional" a idosos acima de 70 anos e paciente com comorbidades, afirmou.
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