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Prevent Senior ocultou mortes em estudo de hidroxicloroquina, diz TV

Do UOL, em São Paulo

16/09/2021 09h51Atualizada em 16/09/2021 13h50

O plano de saúde Prevent Senior ocultou mortes de pacientes que participaram —sem conhecimento —de um estudo para testar a eficácia da hidroxicloroquina e azitromicina contra a covid-19. As informações são da GloboNews, que teve acesso a um dossiê da CPI da Covid.

Os documentos encaminhados aos senadores são de médicos e ex-médicos da Prevent Senior e denuncia uma série de irregularidades. Segundo o dossiê, a disseminação da cloroquina e outros medicamentos é resultado de um acordo entre o plano de saúde e o governo Jair Bolsonaro (sem partido).

Desde o início da pandemia, o presidente defende o tratamento precoce, sem eficácia comprovada contra a doença.

Presidente Jair Bolsonaro com caixa de cloroquina do lado de fora do Palácio da Alvorada - ADRIANO MACHADO - ADRIANO MACHADO
Presidente Jair Bolsonaro com caixa de cloroquina do lado de fora do Palácio da Alvorada
Imagem: ADRIANO MACHADO

Ainda segundo a GloboNews, pacientes e familiares não eram informados sobre os medicamentos usados.

Ao UOL, a Prevent Senior afirmou que pedirá uma investigação ao Ministério Público para apurar as denúncias "infundadas e anônimas por um suposto grupo de médicos". Em nota, a operadora diz que, antes que as acusações chegassem a CPI, uma advogada que representa o grupo de médicos insinuou que o dossiê seria encaminhado se um acordo não fosse celebrado.

"Devido à estranheza da abordagem, a Prevent Senior tomará todas as medidas judiciais cabíveis", informou.

Resultados do estudo

Nove pessoas morreram durante a pesquisa, mas, publicamente, os autores só mencionam duas mortes. Destes:

  • Seis estavam no grupo que tomou hidroxicloroquina e azitromicina;
  • Dois estavam no grupo que não ingeriu os medicamentos;
  • Há um paciente cuja tabela não informa se ingeriu ou não a medicação.

O estudo começou a ser realizado em 25 de março de 2020 e a sua primeira versão, sem revisão de pares, divulgada em 15 de abril. No artigo, o coordenador do estudo, o cardiologista e diretor da Prevent Rodrigo Esper, menciona as duas mortes no grupo que usou as medicações, mas, diz ele, os óbitos foram provocados por outras doenças, sem relação com a covid ou medicamentos.

Não houve efeitos colaterais graves em pacientes tratados com hidroxicloroquina mais azitromicina. Dois pacientes do grupo de tratamento morreram durante o acompanhamento; a primeira morte foi devido à síndrome coronariana aguda e a segunda morte devido a câncer metastático."
Diretor da Prevent Senior diz que mortes no estudo não estão relacionadas ao tratamento precoce ou à covid

Segundo a GloboNews, os documentos da pesquisa não apontam nenhum participante com as doenças mencionadas.

Três dias depois, em 18 de abril, o presidente Bolsonaro fez uma postagem no Twitter sobre o estudo. Citando a Prevent Senior, ele diz que foram registradas cinco mortes entre os pacientes do estudo que não tomaram cloroquina e nenhum óbito entre os que ingeriram as medicações.

Segundo o CEO Fernando Parrillo, a Prevent Senior reduziu de 14 para 7 dias o tempo de uso de respiradores e divulgou hoje, às 1h40 da manhã, o complemento de um levantamento clínico feito: de um grupo de 636 pacientes acompanhados pelos médicos, 224 NÃO fizeram uso da HIDROXICLOROQUINA. Destes, 12 foram hospitalizados e 5 faleceram. Já dos 412 que optaram pelo medicamento, somente 8 foram internados e, além de não serem entubados, o número de óbitos foi ZERO. O estudo completo será publicado em breve."
Tweet do presidente Bolsonaro após divulgação de pesquisa da Prevent Senior, sem revisão de pares

No dia seguinte, Esper enviou aos seus pesquisadores uma mensagem de áudio com orientações para a revisão de dados do estudo. Ele acrescenta que as informações devem ser "assertivas" e "perfeitas" para que não houvesse contestação.

Segundo Esper, a pesquisa vai "mudar o curso da medicina".

Um ex-médico da Prevent Senior ouvido pela GloboNews confirmou que o estudo foi manipulado para comprovar a eficácia da cloroquina.

Testes escondidos

A GloboNews também teve acesso a mensagens enviadas pelo diretor da Prevent, Fernando Oikawa, para médicos. Ao falar sobre o estudo pela primeira vez ele orienta os profissionais a não informar sobre a medicação usada.

Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medicação e nem sobre o programa."
Diretor da Prevent Senior, Fernando Oikawa

Em julho do ano passado, a Prevent Senior contrariou uma orientação da CFM (Conselho Federal de Medicina) ao enviar kit cloroquina para pacientes sem o diagnóstico confirmado da covid.

Leia na íntegra uma segunda nota de posicionamento da Prevent Senior:

A Prevent Senior nega e repudia denúncias sistemáticas, mentirosas e reiteradas que têm sido feitas por supostos médicos que, anonimamente, têm procurado desgastar a imagem da empresa usando primordialmente a Globo News e, posteriormente, a CPI da Pandemia.

Em decorrência disso, está tomando as medidas judiciais cabíveis para investigar todos os responsáveis por denunciação caluniosa (e outros crimes) sejam investigados e punidos.

Os médicos da empresa sempre tiveram a autonomia respeitada e atuam com afinco para salvar milhares de vidas. Importante lembrar que números à disposição da CPI demonstram que a taxa de mortalidade entre pacientes de Covid 19 atendidos pelos nossos profissionais de saúde é 50% inferior às taxas registradas em São Paulo.

Lamentavelmente, a Globo News não revelou detalhes das acusações inclusive quanto ao número de mortes ou quais estudos foram avaliados, de modo que a Prevent pudesse se posicionar de maneira precisa, inclusive para comprovar a falsidade das acusações. E mandou um pedido de outro lado tarde da noite, o que dificultou o levantamento dos dados necessários ao correto posicionamento.