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Covid: Zona leste de SP tem maior proporção de mortes na capital em 2020

Vista aérea dos túmulos do cemitério da Vila Formosa, na zona leste, em março (à esquerda) e no começo deste mês, quando o Brasil atingiu a marca de 600 mil mortes de covid-19 - 25.mar.2021 e 4.out.2021 - Lalo de Almeida e Bruno Santos/Folhapress
Vista aérea dos túmulos do cemitério da Vila Formosa, na zona leste, em março (à esquerda) e no começo deste mês, quando o Brasil atingiu a marca de 600 mil mortes de covid-19 Imagem: 25.mar.2021 e 4.out.2021 - Lalo de Almeida e Bruno Santos/Folhapress

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

21/10/2021 10h00

Bairros da zona leste foram os que tiveram a maior proporção de mortes de covid-19 na capital paulista em 2020, de acordo com levantamento da Rede Nossa São Paulo. Segundo a edição deste ano do "Mapa da Desigualdade", divulgado hoje, dos dez piores distritos, sete são da região, principalmente na área mais periférica.

Nesses distritos, ao menos uma em cada cinco mortes foi causada pelo novo coronavírus. De acordo com o boletim da Prefeitura de São Paulo divulgado em 1º de janeiro deste ano, 15.587 pessoas faleceram em decorrência da covid-19 em 2020 na capital.

Mortes de covid entre o total de óbitos no distrito:

  • Parque do Carmo (zona leste): 23,4%
  • Sapopemba (zona leste): 22,7%
  • São Domingos (zona norte): 22,1%
  • Bom Retiro (centro): 21,4%
  • José Bonifácio (zona leste): 21,3%
  • Vila Jacuí (zona leste): 21,2%
  • Vila Prudente (zona leste): 21%
  • Cachoeirinha (zona norte): 20,9%
  • Sé (centro): 20,9%
  • Iguatemi (zona leste): 20,8%
morte - Reprodução - Reprodução
Mapa da Rede Nossa São Paulo mostra o percentual de óbitos por covid nos distritos paulistanos
Imagem: Reprodução

Condições precárias

Em comum, a Rede Nossa São Paulo identifica que essas regiões têm problemas que vão da área social à infraestrutura. Coordenador-geral da rede, Jorge Abrahão cita como exemplos desde habitações precárias até a dificuldade de acesso a equipamentos de saúde, além de problemas de acesso a água e saneamento básico.

"E a necessidade de mobilidade no transporte coletivo, que muitas vezes não teve a condição de isolamento e higiene que eram necessárias. Essa combinação de fatores fez com que a gente tivesse dados em que a periferia aparece pior", diz Abrahão.

Renda mais baixa, informalidade, necessidade de se deslocar utilizando o transporte coletivo por distâncias mais longas. Tudo isso faz com que esses moradores fiquem mais expostos à covid."
Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo

População "invisível"

A situação na maior parte da cidade não fica muito distante das áreas que registraram os piores números. Dos 96 distritos, 47 registraram índice acima da média da cidade. Do total de óbitos da capital em 2020, 18,3% foram de covid-19.

Entre os dez piores, chama a atenção a presença de dois bairros do centro paulistano: o Bom Retiro e a Sé. Ambos possuem infraestrutura, mas têm uma concentração de população vulnerável, em situação de rua ou vivendo em moradias precárias.

"Há uma população pobre muito grande no centro que é invisibilizada, nos cortiços, e isso tem repercussão direta na saúde", diz o doutor em sociologia e políticas públicas Igor Pantoja, assessor de mobilização da Rede Nossa São Paulo.

O compartilhamento de banheiros é muito maior nos cortiços do que nas próprias favelas. Tem uma invisibilidade e uma precariedade habitacional. É como se a gente tivesse várias favelas que a gente não vê."
Igor Pantoja, assessor de mobilização da Rede Nossa São Paulo

Informação poderia ter salvado vidas

Para Pantoja, a falta de detalhamento nas informações passadas pela prefeitura paulistana pode ter contribuído para a disseminação do vírus. No início da pandemia, era feita a divulgação de casos por regiões da cidade, algo que se perdeu ao longo do tempo.

Segundo o assessor, em pesquisa feita pela Rede Nossa São Paulo, as pessoas diziam que, "se soubessem que tinha foco de contaminação na sua região, se cuidariam mais".

"Quanto mais a gente tivesse uma transparência da situação de cada bairro, uma estratégia territorial seria melhor, com muitos menos casos e mortes", diz ele.

De 1º de janeiro até 19 de outubro, a cidade teve quase 25 mil óbitos a mais, totalizando cerca de 38,5 mil desde o início da pandemia.