Com covid, Brasil supera em dez meses recorde de total de mortes de 2020
Faltando dois meses para o final do ano, o número de mortes registradas em 2021 já é maior que em todos os 12 meses de 2020. Ontem à tarde, o sistema de cartórios de registro civil apontava para 1,47 milhão de mortes anotadas neste ano, contra 1,46 milhão no ano anterior.
Os dados estão no portal da transparência da Arpen Brasil (Associação de Registradores de Pessoas Naturais), que computa as mortes registradas pelos cartórios.
No passado, o país já havia batido recorde de óbitos, impulsionado pela primeira onda da pandemia de covid-19. Entretanto, como a doença causou o dobro de mortes neste ano, o recorde já era esperado.
"Na comparação com 2020, são 200 mil óbitos a mais de covid. Então já se esperaria que o número de óbitos no país chegasse a 1,6 milhão no final do ano", afirma o epidemiologista Antônio Lima Neto, da Unifor (Universidade de Fortaleza).
Importante frisar que os dados não são atualizados em tempo real e podem levar até 15 dias para serem incluídos no portal —ou seja, ainda vão sofrer acréscimos.
Devido à segunda onda da covid, o meses de março e abril foram os recordistas de óbitos no país.
Apesar de já superarem 2020, graças à vacinação as mortes vêm apresentando queda desde maio. Em setembro, por exemplo, foram 119 mil óbitos, número menor do que o registrado no mesmo mês em 2020 (126 mil).
Impacto só da covid
Segundo Lima Neto, o excesso de mortes no país neste ano não ocorreu por conta de outros problemas de saúde, como se imaginava anteriormente —já que os hospitais foram reservados, no pico, para tratar pacientes de covid-19.
"A covid induziu à morte precoce em alguns desses casos, por exemplos, em causas cardiovasculares. Foi ela que induziu a essa cascata de eventos que levou às mortes, por isso a covid fica como a causa básica. As demais são secundárias", diz.
Ou seja, os mais frágeis muito provavelmente sucumbiram em uma proporção considerável. No fundo, foi a covid que impactou [nesse número], sobretudo entre os que tinham essas doenças mais descontroladas e viviam em situações de pior condição socioeconômica e estilos de vida menos adequados."
Antônio Lima Neto, epidemiologista
O professor de saúde pública Alcides Miranda, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), afirma que em 2021 deve ter havido uma redução na subnotificação da covid, o que ajuda a entender porque houve menos mortes por outras doenças, proporcionalmente falando.
"Temos uma proporção de subnotificações de casos e óbitos por covid menor em 2021, o que poderia explicar parcialmente a diminuição no mesmo período dos registros dos óbitos classificados como SRAG e outras doenças", afirma.
Para ele, o cenário brasileiro no pico da covid-19 foi de colapso em hospitais, o que impactou no aumento da mortalidade. O resultado não foi ainda pior porque o Brasil tem o atendimento universal de saúde.
Embora o país possua a maior taxa de mortalidade e a segunda pior taxa de prevalência no grupo dos países com mais de 100 milhões de habitantes, ocupa a 7ª posição em se tratando de letalidade. Ou seja, se não fosse o SUS, a situação seria bem mais catastrófica."
Alcides Miranda, professor da UFRGS
Antônio Lima Neto diz que, como a pandemia apresenta números cada vez menores com o avanço da vacinação, a tendência é que os meses finais do ano tenham médias menores do que os mesmos períodos de 2020.
"Você está com um cenário mais ou menos controlado, a tendência é que a gente siga com uma média diária de mortes menor", conclui.
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