Saúde virou 'papagaio de pirata' do Bolsonaro, diz presidente do Conass
O presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), Carlos Lula, criticou, em entrevista ao jornal O Globo, a postura do Ministério da Saúde durante a pandemia de covid-19 e chamou a pasta de "papagaio de pirata" do presidente Jair Bolsonaro (PL), por repetir o que o mandatário diz.
"Ele diz que é contra o carnaval, eles repetem. O presidente é contra o passaporte vacinal e o ministério se diz contra também. Não tem sentido. Temos que agir numa conduta só e ter coerência no que falamos", avaliou.
Lula afirmou ainda que o atual chefe da Saúde, Marcelo Queiroga, "mudou muito" nos últimos meses e que, atualmente, "a gente não consegue mais sequer conversar com ele".
Não sei se o Queiroga de meses atrás reconhece o Queiroga de hoje, não sei se ele sequer acreditaria no que o Queiroga de dezembro de 2021 fala. Ele foi o ministro que conseguiu ter pouco diálogo com as instituições. Não é afeito a divergências e se fechou. A gente não consegue mais sequer conversar com ele. Isso revela muito sobre a concepção dele de mundo, autoritária e elitista. Política não se faz dessa forma Carlos Lula
Ele classificou ainda a postura do ministério como "muito ruim", citando a questão do passaporte sanitário. O governo publicou ontem uma portaria que estabelece regras para a entrada de viajantes no Brasil em relação à pandemia, após decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), que determinou a obrigatoriedade do passaporte da vacina.
"A postura do ministério é muito ruim, como no caso da frase "é melhor perder a vida do que a liberdade", sobre o passaporte sanitário. Depois, a adoção dele ter sido decidida pelo Supremo é muito ruim. O ministério poderia ser uma engrenagem para facilitar a vigilância e o cuidado, e acaba sendo alguém para criar mais confusão. A gente vê na figura do presidente alguém que potencializa esse problema."
Para ele, vacinar as crianças contra a covid-19 pode ser um fator importante para conter a disseminação da variante ômicron no Brasil e para poder realizar grandes eventos, como o carnaval, com segurança. Na semana passada, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o uso da vacina da Pfizer para crianças, mas Queiroga já disse que não pretende acelerar as decisões sobre o caso.
"É fundamental a gente ampliar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos, e rápido. Um dado que causa preocupação em relação à ômicron é que ela tem transmissão maior entre crianças, exatamente um grupo que a gente não vacinou."
Questionado se acredita que já estamos saindo da pandemia, Lula avaliou que ainda é cedo para dizer isso.
"A epidemia de gripe deixa claro que estamos com cenário favorável para transmissão de vírus respiratórios. Isso não está ocorrendo em razão da vacinação. A gente tem a ômicron, que, em tese, pode ser uma cepa mais transmissível. Temos um cenário de apagamento de dados do Ministério da Saúde. Eu queria muito ter outra resposta, mas não tenho. Ainda existe um fantasma de uma nova onda", disse.
Ele não acredita, no entanto, que a situação tome a mesma proporção que no ano passado, mas vê como "fundamental" ter cautela e suspender festas de Réveillon.
Para ele, o cenário mínimo para realizar o carnaval é continuar diminuindo óbitos e casos, aumentar a cobertura vacinal para atingir de 80% a 90% da sociedade, vacinar crianças e não ter uma variante mais transmissível "aterrorizando" o mundo.
Dados divulgados ontem pelo consórcio de imprensa do qual o UOL faz parte mostram que o Brasil chegou a marca de 141,6 milhões de habitantes que concluíram a vacinação contra a covid-19, o equivalente a 66,39% da população nacional.
"Se a gente mudar tudo isso nesse tempo, a gente tem condições de ter o carnaval com segurança. É simples chegar nessa situação? Não."
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