Surgiu em raves na Europa? Como passa? O que sabemos da varíola dos macacos
A varíola dos macacos, uma doença pouco conhecida por ter uma incidência maior na África, teve seu primeiro caso confirmado fora do continente em 7 de maio e, desde então, já são 219 casos em países onde não é endêmica, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Esta é a pela primeira vez que o vírus está sendo encontrado em pessoas sem histórico de viagem ou ligações com a África Ocidental e Central e não está claro de quem as pessoas estão pegando.
Um evento "superespalhador" —em que um grande número de pessoas se aglomerou e pegou a doença no mesmo lugar e depois a levou para outros países— é uma possível explicação.
A maioria dos 19 países que registraram casos é na Europa, e a doença tem sido identificada mais em jovens "que se identificam como homens que têm relações sexuais com homens", afirmou o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC).
Em entrevista à agência de notícias AP (Associated Press), David Heymann, conselheiro da OMS, afirmou que o surto na Europa pode ter começado devido a relações ocorridas em raves na Espanha e na Bélgica —que informou que três casos foram registrados entre os participantes do festival Darkland. "Parece que o contato sexual agora amplificou essa transmissão", pontuou.
Nesta segunda-feira (23), em sua primeira avaliação de riscos, o ECDC disse que a probabilidade de contágio é "muito fraca", mas "elevada" para pessoas com vários parceiros sexuais.
Mas é importante não estigmatizar qualquer grupo, porque "não há nada biológico no vírus que diga que essa comunidade é mais suscetível do que outras", disse o professor Brian Ferguson, do Departamento de Patologia da Universidade de Cambridge, à BBC.
"Esses estigmas e culpas minam a confiança e a capacidade de responder efetivamente a surtos como este", disse Matthew Kavanagh, vice-diretor do Unaids.
Qualquer pessoa pode pegar. O que acontece é que o contato prolongado e muito direto com fluidos corporais e as lesões na pele durante a relação sexual favorecem a contaminação.
Então, embora não seja um vírus sexualmente transmissível, ele se espalha assim.
Como é a transmissão e os sintomas?
O vírus é transmitido por gotas de saliva, contato com fluidos corporais e lesões cutâneas. Há também a possibilidade de ser transmitido por objetos e materiais contaminados, como talheres, toalhas e roupas de cama.
A varíola costuma ser caracterizada por dores musculares e forte febre que evoluem rapidamente para bolhas na pele com formação de crostas —o que ajuda a detectar a doença rapidamente. Lembra uma catapora, porém é mais grave.
Os sintomas incluem linfonodos inchados, calafrios e fadiga, duram entre 14 e 21 dias e são semelhantes aos da varíola humana, erradicada no mundo desde 1980.
O vírus pode ser mais grave em crianças pequenas, mulheres grávidas e pessoas imunossuprimidas.
O primeiro caso em humanos foi identificado em 1970, na República Democrática do Congo. A varíola dos macacos ganhou esse nome porque o vírus foi descoberto em colônias de símios, em 1958. Mas, hoje, acredita-se que os roedores sejam os principais hospedeiros.
A varíola é uma das doenças mais mortais que já existiu, e estudos sobre múmias egípcias sugerem que ela pode estar circulando entre nós há pelo menos 3 mil anos.
Estamos correndo perigo?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou uma situação "atípica", mas que pode ser contida.
Existem duas variantes: a África Ocidental e África Central. O atual surto de varíola dos macacos tem sido associado à primeira, cuja taxa de letalidade é baixa, em torno de 3% a 6%. Até o momento, não houve mortes. Enquanto a da África Central é mais perigosa e pode matar cerca de 20% dos infectados.
Os primeiros casos aconteceram por contato direto com sangue, fluidos corporais, lesões cutâneas ou mucosas de animais infectados, segundo a OMS.
Ainda não se sabe se o vírus sofreu mutação, porém que o grupo de Orthopoxvirus —ao qual pertence o da varíola dos macacos— não tem essa tendência.
Veja quantos casos têm cada país, no momento:
- Reino Unido (71)
- Espanha (51)
- Portugal (37)
- Canadá (15)
- Estados Unidos (9)
- Austrália (2)
- Dinamarca (2)
- Israel (1)
- Emirados Árabes Unidos (1)
A doença, menos perigosa que a varíola erradicada há cerca de 40 anos, é endêmica em 11 países da África Ocidental e Central.
É possível tomar vacina contra a varíola?
Apesar de a OMS dizer que ainda é cedo para falar na imunização em massa, vários países já estão se preparando para isso.
Atualmente, existem duas vacinas contra a varíola que passaram a ser aplicadas nos EUA depois do 11 de setembro: a ACAM2000, da Sanofi Pasteur, e a Jynneos (também conhecida como Imvamune ou Imvanex), produzida pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic.
Em estudos clínicos, a Jynneos se mostrou 85% eficaz contra a varíola dos macacos. Segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), ela também pode tornar a doença menos grave.
Os EUA, a Dinamarca, o Reino Unidos planejam distribuir vacinas para quem teve contato com infectados, profissionais da saúde e grupos de risco.
A Alemanha já realizou isolamento dos infectados para conter o surto e encomendou 40 mil doses da vacina Imvanex para serem aplicadas, caso as coisas piorem.
Nos países onde a vacina está disponível, é possível que haja uma campanha de vacinação para bloquear surtos.
Nesta semana, Portugal se tornou o primeiro país a sequenciar o genoma do patógeno, o que deve trazer informações importantes para o avanço do tratamento e da prevenção.
Vai chegar ao Brasil? O que eu faço?
Ainda não houve nenhum caso identificado no Brasil, mas especialistas apontam que isso pode acontecer em breve.
Por enquanto, não há como se vacinar contra a varíola humana por aqui. Os imunizantes deixaram de ser oferecidos há mais de 40 anos, quando a doença foi erradicada.
Se você nasceu antes de 1980, pode ser que tenha tomado. Para saber, procure uma marquinha no braço esquerdo que parece um pequeno caroço. É difícil de identificar, mas provavelmente é a marca da vacina contra a varíola.
Alguns remédios que tratam a doença também não estão disponíveis no Brasil, como brincidofovir, tecovirimat e cidofovir, que não possuem autorização da Anvisa.
Mas, também não há motivo para desespero —apenas para vigilância. A medicação e as vacinas já existem e outros surtos foram registrados em diferentes momentos.
"A expectativa é de que o vírus não se espalhe tanto, porque ele não é tão rápido quanto o coronavírus, por exemplo", diz Ana Karolina Barreto Marinho, médica imunologista e membro do departamento científico de imunização da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).
Segundo o secretário estadual de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, o vírus da varíola dos macacos será enviado pela Opas (Organização Pan-americana de Saúde) para o desenvolvimento de um teste PCR rápido.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiu uma nota sobre a necessidade de adoção de medidas "não farmacológicas" para evitar a propagação:
- Distanciamento físico;
- Uso de máscaras de proteção;
- Higienização frequente das mãos, principalmente em aeroportos e aeronaves.
(Com agências internacionais)
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