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'Correção de equívoco': médicos apoiam volta de máscara no transporte em SP

Passageira utiliza máscara dentro de vagão no metrô de São Paulo - 23.mar.2020 - BETE MARQUES/O FOTOGRÁFICO/ESTADÃO CONTEÚDO
Passageira utiliza máscara dentro de vagão no metrô de São Paulo Imagem: 23.mar.2020 - BETE MARQUES/O FOTOGRÁFICO/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

25/11/2022 04h00

Menos de três meses após ter sido liberado pelas autoridades, o uso de máscara no transporte coletivo voltará a ser obrigatório na cidade de São Paulo e recomendado nos demais municípios do estado. A medida, que passará a valer no próximo sábado (26), é elogiada por infectologistas ouvidos pelo UOL Notícias.

Segundo os especialistas, a medida já deveria ter sido implementada não apenas em ônibus e linhas de metrô, devido à alta de recente de casos de covid-19, como também estendida a outros locais fechados e sujeitos a aglomerações. Parte dos profissionais avalia que a medida é a "correção de um equívoco", porque o uso não deveria ter sido relaxado em setembro.

O que decidiram as autoridades? O governo estadual e a prefeitura de São Paulo anunciaram ontem que voltarão a exigir a partir de sábado (26), na capital, o uso de máscaras para usuários de ônibus, trem e metrô. A medida reverte uma decisão do início de setembro, que havia retirado a obrigatoriedade devido à baixa nos casos de covid.

A decisão ocorre em um momento de retomada da obrigatoriedade ou da recomendação do uso de máscaras em várias capitais, devido à alta de casos nas últimas semanas. A partir de hoje, as máscaras também serão exigidas em aviões e aeroportos de todo o país, conforme decisão da Anvisa na última terça (22).

A medida é acertada? Para especialistas consultados pelo UOL Notícias, sim. De acordo com os infectologistas, o uso de máscaras deveria ser obrigatório em todos os locais fechados e com pouca circulação de ar, não apenas no transporte coletivo.

"Eu creio que em nenhum momento nós tínhamos condições de tirar as máscaras do transporte coletivo, porque é um ambiente de muito baixa circulação de ar. Então, quando a obrigatoriedade foi suspensa [em setembro], eu achei temerário. A medida de agora é a correção de um equívoco", avalia Evaldo Stanislau, médico infectologista do Hospital das Clínicas da USP.

Para Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a retomada da obrigatoriedade já deveria ter sido decretada há cerca de duas semanas, quando ficou clara a escalada dos casos.

Nos últimos 14 dias, segundo dados do governo estadual, as internações por covid-19 no estado de São Paulo cresceram 156% em leitos de enfermaria e 97,5% em leitos de UTI.

A decisão é acertada, ainda que um pouco tardia. Há duas semanas, já observávamos o aumento do número de casos de covid quando o estado optou por recomendar [mas não obrigar] uso das máscaras. E muitos de nós já tínhamos feito comentários de que era uma decisão frouxa, que o momento exigiria a obrigatoriedade
Raquel Stucchi, médica infectologista

Qual é a importância da retomada das máscaras? Segundo os infectologistas, o transporte público é um dos locais mais propícios à transmissão do vírus e, dessa forma, deve ser um dos primeiros a disseminar o uso de máscaras nos momentos de alta da contaminação.

"Nos transportes públicos, observam-se aglomerações, especialmente nos horários de pico, e as máscaras de proteção respiratória são instrumentos eficazes para diminuir a transmissão do vírus. Entretanto, nada substitui a vacinação, que é a principal forma de prevenção contra a doença, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo", defende Leonardo Weissmann, médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

Segundo o balanço mais recente do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte, o estado de São Paulo é o mais avançado na vacinação contra a covid, com 88,76% da população com a imunização completa. No país como um todo, 80,08% do público já tomou pelo menos duas doses ou a dose única.

Como lidar com as máscaras? No comunicado em que determinou a volta das máscaras, o governo paulista recomendou que a medida seja adotada por todos os municípios do estado e enfatizou que é "fundamental" que a população esteja com o ciclo vacinal completo.

Para Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas da USP, o ideal é que as máscaras passem a ser encaradas como um conto de segurança, ou seja, que seu uso seja visto como um instrumento de proteção individual independentemente da fiscalização.

"Hoje a gente entra em um carro e coloca o cinto de segurança independentemente de ter alguém fiscalizando ou uma câmera monitorando. A gente usa porque entende que o cinto de segurança diminui as chances de a gente ter uma consequência se sofrer um acidente de carro. Com as máscaras deve haver um raciocínio semelhante", diz.