Líderes da UE debatem futuro do bloco sem Reino Unido
Bruxelas, 29 Jun 2016 (AFP) - Reunidos sem o Reino Unido pela primeira vez em mais de 40 anos, os líderes da União Europeia (UE) divulgaram nesta quarta-feira (29) em Bruxelas suas linhas vermelhas para o divórcio de Londres, em particular sobre o acesso ao mercado único.
Já a continuação das discussões sobre o futuro da UE foi adiada para a próxima cúpula em 27 de setembro, em Bratislava, capital da Eslováquia. O país assume na sexta-feira (1º) a presidência rotativa do bloco.
Esses dois dias de cúpula não permitiram "tirar as conclusões" necessárias para as orientações do futuro do bloco, afirmou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
"Iniciamos uma reflexão a 27 e vamos nos reunir em 16 de setembro em Bratislava para continuar nossa discussão", acrescentou.
Cinco dias após o referendo que viu 52% dos britânicos optarem pelo Brexit, os europeus alertaram que o Reino Unido não poderá manter os benefícios do mercado único sem contrapartidas.
"Não haverá nenhum mercado único à la carte", resumiu Tusk, rejeitando qualquer indício de Londres de restringir a livre-circulação de pessoas.
Para manter o direito ao comércio sem barreiras com seus vizinhos, crucial para a economia do Reino Unido, Londres deverá "aceitar as quatro liberdades" fundamentais do mercado único, "incluindo a liberdade de movimento", explicou.
Os europeus não vão tolerar "nenhuma exceção" a essa regra, insistiu o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
De acordo com o presidente francês, François Hollande, Londres também vai "contribuir financeiramente" em troca de acesso ao mercado europeu.
O primeiro-ministro conservador britânico, David Cameron, deixou para seu sucessor a responsabilidade de iniciar o procedimento formal de saída do Reino Unido da União Europeia. O novo premiê deve deve ser escolhido em 9 de setembro.
Dois anos são previstos para a negociação. Na terça-feira à noite (28), Cameron havia estimado que uma "reforma da livre-circulação de pessoas" no seio da UE constituía "a chave para permanecer perto" do bloco.
Tentando explicar seu fracasso no referendo de 23 de junho, ele enfatizou o papel da imigração na campanha - particularmente o fluxo procedente do Leste europeu -, usado como um pano vermelho pelos apoiadores do Brexit.
Tormenta política em LondresNesta quarta, os 27 voltaram a afirmar que não vão conduzir "qualquer tipo de negociação", enquanto Londres não ativar a cláusula de saída da UE, o artigo 50 do Tratado de Lisboa, e pediram que esse passo seja dado "o mais rapidamente possível".
Preocupados com o risco de contágio do Brexit a outros países, os europeus pretendem limitar a margem de manobra do próximo primeiro-ministro britânico nas negociações.
A campanha para nomear um sucessor de Cameron em Downing Street começou agitada dentro do Partido Conservador.
As candidaturas estão abertas até quinta-feira à tarde. A provável batalha deverá opor o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, líder da campanha do Brexit; a atual ministra britânica do Interior, Theresa May, uma eurocética que defendeu a manutenção do país na UE.
O Brexit mergulhou o Reino Unido em uma turbulência política sem precedentes e reavivou a hipótese de secessão da Escócia, majoritariamente pró-europeia.
A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, visitou Bruxelas nesta quarta-feira para avaliar as chances de a província garantir seu espaço na UE como uma entidade independente.
De manhã, a premiê se encontrou com o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, antes de uma reunião no final da tarde com Jean-Claude Juncker.
"Não subestimo o desafio, mas me animou o espaço que encontrei" em Bruxelas, declarou Nicola, após os encontros com Schulz e com Juncker.
Ela reconheceu que "não será fácil para a Escócia" proteger seu status na UE, após a saída do Reino Unido.
A Espanha - ela mesma confrontada com a ameaça separatista da Catalunha - atenuou as esperanças da líder separatista. O chefe de governo de Madri, Mariano Rajoy, excluiu a possibilidade de a Escócia se associar a qualquer negociação pós-Brexit com a UE.
"Os tratados (europeus) são contra. Se o Reino Unido vai embora, a Escócia também deixará as instituições da União Europeia", argumentou.
'Evitar o rompimento'Os líderes dos 27 também devem trabalhar para "evitar o rompimento", observou François Hollande.
A União, onde os movimentos de extrema-direita e populistas estão em ascensão, já está enfraquecida por uma série de crises, incluindo a migratória, que continua a dividir as opiniões.
No último ano, a fratura se mostrou particularmente profunda com a maioria dos países do leste se recusando a implementar as soluções coletivas de acolhimento de refugiados decididas em Bruxelas.
Pistas sobre o futuro da UE foram lançadas nesta quarta de manhã, e os europeus vão se encontrar em 16 de setembro em Bratislava para tentar encontrar um terreno comum mais concreto.
"A situação é muito grave, mas acreditamos em que os 27 vão conseguir lidar com a questão", afirmou a chanceler alemã, Angela Merkel.
"Estamos comprometidos e determinados a permanecer unidos para enfrentar os desafios", ressaltou.
"Nada seria pior do que o status quo (explorado pelos) populistas. Nada deve impedir a Europa de avançar, especialmente a decisão britânica", defendeu Hollande.
O secretário de Estado americano, John Kerry, jogou lenha na confusão pós-Brexit, afirmando que "há uma série de maneiras" de reverter a decisão britânica de sair da UE.
"Eu não quero, como secretário de Estado, expô-las hoje. Eu acho que seria um erro. Mas existem maneiras", disse Kerry, que se reuniu com Cameron na segunda-feira.
bur-axr/bpi/agr/phv/mr/tt/cc
Já a continuação das discussões sobre o futuro da UE foi adiada para a próxima cúpula em 27 de setembro, em Bratislava, capital da Eslováquia. O país assume na sexta-feira (1º) a presidência rotativa do bloco.
Esses dois dias de cúpula não permitiram "tirar as conclusões" necessárias para as orientações do futuro do bloco, afirmou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
"Iniciamos uma reflexão a 27 e vamos nos reunir em 16 de setembro em Bratislava para continuar nossa discussão", acrescentou.
Cinco dias após o referendo que viu 52% dos britânicos optarem pelo Brexit, os europeus alertaram que o Reino Unido não poderá manter os benefícios do mercado único sem contrapartidas.
"Não haverá nenhum mercado único à la carte", resumiu Tusk, rejeitando qualquer indício de Londres de restringir a livre-circulação de pessoas.
Para manter o direito ao comércio sem barreiras com seus vizinhos, crucial para a economia do Reino Unido, Londres deverá "aceitar as quatro liberdades" fundamentais do mercado único, "incluindo a liberdade de movimento", explicou.
Os europeus não vão tolerar "nenhuma exceção" a essa regra, insistiu o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
De acordo com o presidente francês, François Hollande, Londres também vai "contribuir financeiramente" em troca de acesso ao mercado europeu.
O primeiro-ministro conservador britânico, David Cameron, deixou para seu sucessor a responsabilidade de iniciar o procedimento formal de saída do Reino Unido da União Europeia. O novo premiê deve deve ser escolhido em 9 de setembro.
Dois anos são previstos para a negociação. Na terça-feira à noite (28), Cameron havia estimado que uma "reforma da livre-circulação de pessoas" no seio da UE constituía "a chave para permanecer perto" do bloco.
Tentando explicar seu fracasso no referendo de 23 de junho, ele enfatizou o papel da imigração na campanha - particularmente o fluxo procedente do Leste europeu -, usado como um pano vermelho pelos apoiadores do Brexit.
Tormenta política em LondresNesta quarta, os 27 voltaram a afirmar que não vão conduzir "qualquer tipo de negociação", enquanto Londres não ativar a cláusula de saída da UE, o artigo 50 do Tratado de Lisboa, e pediram que esse passo seja dado "o mais rapidamente possível".
Preocupados com o risco de contágio do Brexit a outros países, os europeus pretendem limitar a margem de manobra do próximo primeiro-ministro britânico nas negociações.
A campanha para nomear um sucessor de Cameron em Downing Street começou agitada dentro do Partido Conservador.
As candidaturas estão abertas até quinta-feira à tarde. A provável batalha deverá opor o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, líder da campanha do Brexit; a atual ministra britânica do Interior, Theresa May, uma eurocética que defendeu a manutenção do país na UE.
O Brexit mergulhou o Reino Unido em uma turbulência política sem precedentes e reavivou a hipótese de secessão da Escócia, majoritariamente pró-europeia.
A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, visitou Bruxelas nesta quarta-feira para avaliar as chances de a província garantir seu espaço na UE como uma entidade independente.
De manhã, a premiê se encontrou com o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, antes de uma reunião no final da tarde com Jean-Claude Juncker.
"Não subestimo o desafio, mas me animou o espaço que encontrei" em Bruxelas, declarou Nicola, após os encontros com Schulz e com Juncker.
Ela reconheceu que "não será fácil para a Escócia" proteger seu status na UE, após a saída do Reino Unido.
A Espanha - ela mesma confrontada com a ameaça separatista da Catalunha - atenuou as esperanças da líder separatista. O chefe de governo de Madri, Mariano Rajoy, excluiu a possibilidade de a Escócia se associar a qualquer negociação pós-Brexit com a UE.
"Os tratados (europeus) são contra. Se o Reino Unido vai embora, a Escócia também deixará as instituições da União Europeia", argumentou.
'Evitar o rompimento'Os líderes dos 27 também devem trabalhar para "evitar o rompimento", observou François Hollande.
A União, onde os movimentos de extrema-direita e populistas estão em ascensão, já está enfraquecida por uma série de crises, incluindo a migratória, que continua a dividir as opiniões.
No último ano, a fratura se mostrou particularmente profunda com a maioria dos países do leste se recusando a implementar as soluções coletivas de acolhimento de refugiados decididas em Bruxelas.
Pistas sobre o futuro da UE foram lançadas nesta quarta de manhã, e os europeus vão se encontrar em 16 de setembro em Bratislava para tentar encontrar um terreno comum mais concreto.
"A situação é muito grave, mas acreditamos em que os 27 vão conseguir lidar com a questão", afirmou a chanceler alemã, Angela Merkel.
"Estamos comprometidos e determinados a permanecer unidos para enfrentar os desafios", ressaltou.
"Nada seria pior do que o status quo (explorado pelos) populistas. Nada deve impedir a Europa de avançar, especialmente a decisão britânica", defendeu Hollande.
O secretário de Estado americano, John Kerry, jogou lenha na confusão pós-Brexit, afirmando que "há uma série de maneiras" de reverter a decisão britânica de sair da UE.
"Eu não quero, como secretário de Estado, expô-las hoje. Eu acho que seria um erro. Mas existem maneiras", disse Kerry, que se reuniu com Cameron na segunda-feira.
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