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Bombardeios deixam dezenas de mortos na Síria, incluindo 12 trabalhadores humanitários

19/09/2016 23h19

Alepo, Síria, 20 Set 2016 (AFP) - Horas após a Síria decretar o final da trégua, vários bombardeios golpearam a província de Aleppo, deixando dezenas de mortos, incluindo 12 trabalhadores de um comboio de ajuda humanitária.

Após a agência de imprensa síria Sana anunciar a decisão de Damasco sobre o fim da trégua, acusando os rebeldes "de não respeitar quaisquer das disposições" do acordo, os bombardeios em Aleppo começaram.

De acordo com a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que cita dezenas de feridos, pelo menos 36 civis morreram em Aleppo e na província homônima, vítimas desses ataques aéreos.

Na metrópole do norte sírio, seis civis morreram, enquanto que outros quatro foram fatalmente atingidos no leste da província. No oeste, 26 civis faleceram, enquanto que outros, entre eles 12 voluntários do Crescente Vermelho e motoristas de caminhão de ajuda humanitária.

O comboio humanitário seguia para Orum al-Kubra, na província de Aleppo, para entregar ajuda a cerca de 78 mil pessoas.

Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), "a situação no local é muito caótica".

"Estamos chocados com que trabalhadores humanitários e das missões voltem a sofrer com a brutalidade deste conflito", disse à AFP a porta-voz da Cruz Vermelha Ingy Sedky.

O porta-voz do departamento americano de Estado John Kirby declarou que os "Estados Unidos estão escandalizados com as informações de que um comboio de ajuda foi bombardeado próximo a Aleppo".

"O regime sírio e a Federação Russa conheciam o destino deste comboio, e ainda assim estes trabalhadores foram assassinados", destacou Kirby.

"Diante da atroz violação do cessar-fogo, reavaliaremos o futuro da nossa cooperação com a Rússia".

O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault, condenou o ataque "com a maior firmeza" e declarou que "a destruição de um comboio de ajuda humanitária que se dirigia a Aleppo ilustra a urgência do fim das hostilidades na Síria".

O chefe das operações humanitárias da ONU, Stephen O'Brien, disse estar "muito preocupado" e apelou a "todas as partes no conflito, mais uma vez, que adotem todas as medidas necessárias para proteger os atores humanitários, os civis e as infraestruturas civis, como exigem as leis humanitárias internacionais".

Acordo violadoEm um comunicado divulgado pela agência Sana, Damasco informou que a suspensão dos combates, anunciada há uma semana, terminou e acusou os grupos rebeldes "de não respeitar nenhuma das disposições" do acordo.

"O Exército sírio anuncia o fim da suspensão dos combates, que começou às 19h (13h de Brasília) de 12 de setembro de 2016, em virtude do acordo russo-americano", indicou.

Menos de uma hora após esse anúncio, os setores de Aleppo controlados pelos rebeldes foram alvo de bombardeios aéreos e de artilharia, constataram jornalistas da AFP.

Os ataques alcançaram os bairros de Sukari e Amiriya, dois setores orientais da cidade, e também no norte da cidade, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A trégua apoiada pelor Rússia e Estados Unidos tinha por objetivo colocar fim a cinco anos de um conflito na Síria, no qual mais de 300.000 pessoas morreram e milhões foram obrigadas a abandonar seus lares.

Depois de vários dias de uma relativa calma, porém, os combates foram retomados progressivamente na maioria das frentes, a ponto de um bombardeio da coalizão liderada pelos Estados Unidos ter atacado no fim de semana uma posição do Exército sírio.

"Acreditava-se que a trégua deveria ser uma verdadeira oportunidade para terminar com esse banho de sangue, mas os grupos terroristas armados descumpriram esse acordo", indicou Damasco em um comunicado.

Já o secretário de Estado americano, John Kerry, que negociou o acordo com o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, declarou que a Rússia falhou em cumprir sua parte da trégua. Kerry garantiu, contudo, que Washington está disposto a continuar trabalhando nela.

O general russo Serguei Rudskoi disse que, "considerando que as condições do cessar-fogo não estão sendo respeitadas pelos rebeldes, acreditamos que não tem sentido para as forças do governo sírio respeitá-la de forma unilateral".

Ele disse ainda que "o principal ponto" é que os rebeldes não se separaram em terra do grupo extremista Frente Fateh al-Sham.

A trégua estava por um fio no domingo, depois que a coalizão liderada pelos Estados Unidos bombardeou no sábado uma colina controlada pelo Exército sírio em Deir Ezzor (leste), onde as tropas de Damasco combatem o grupo Estado Islâmico.

Nesta segunda-feira, o presidente sírio, Bashar al-Assad, acusou Washington de ter cometido "uma agressão flagrante".

Uma conselheira do presidente sírio, Buthaina Shaaban, disse no domingo à AFP que Damasco considera que "esse ataque foi deliberado. Tudo era premeditado".

Em meio à troca de acusações, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Mark Toner, informou que Estados Unidos, Rússia e outros atores relevantes no processo de paz na Síria vão-se reunir nesta terça (19), em Nova York, para discutir o fim do cessar-fogo.

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