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Santos e Timochenko: de inimigos a artífices da paz na Colômbia

26/09/2016 09h37

Bogotá, 26 Set 2016 (AFP) - Durante anos foram inimigos. Mas agora o presidente Juan Manuel Santos e o líder-máximo da guerrilha das Farc, "Timochenko" entrarão para a história pela determinação em alcançar a paz na Colômbia após meio século de confrontos.

Para ambos, a obtenção de um acordo de Havana, o cessar-fogo definitivo, o desarmamento dos rebeldes e o referendamento do pacto final confirmam que "a paz é possível" e está "muito mais próxima do que nunca", como asseguraram em seus respectivos discursos por ocasião do anúncio do pacto de paz.

"Toda a minha vida, desde quando minha mãe me entregou há quase 50 anos um fuzil que representava as armas da República, como segue sendo o costume ao ingressar na Armada Nacional, fui um implacável adversário das Farc", disse Santos, que como ministro da Defesa (2006-2009) comandou uma feroz luta contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, comunistas).

"Mas agora que acertamos a paz (...) defenderei, com igual determinação, seu direito de expressão e que sigam sua luta política por vias legais, mesmo que não estejamos de acordo", acrescentou este ferrenho defensor da pacificação do país desde que foi eleito presidente em 2010 e reeleito em 2014.

Mauricio Rodríguez, cunhado de Santos e um de seus assessores mais próximos, resumiu em uma frase a convicção do mandatário, de 64 anos, pela paz: "Fez da guerra um meio para alcançá-la".

Esse mesmo empenho tem Rodrigo Londoño, mais conhecido por seus nomes de guerra Timoleón Jiménez ou "Timochenko", líder das Farc desde 2011, tornando-se o terceiro comandante dessa guerrilha surgida em 1964 de uma insurreição camponesa.

"O acordo final nos permitirá, por fim, retomar o exercício político legal mediante a via pacífica e democrática", disse nesta quinta.

Planejar isso em 1964 "era absurdo para os poderes e partidos dominantes da época, que decidiram apelar à força e ao extermínio com a convicção de que com bombas e fuzis poderiam calar os clamores populares", acrescentou.

"Timochenko" é "um dos caras mais queridos nas Farc" por sua estreita relação com o falecido líder histórico Manuel Marulanda ("Tirofijo"), disse à AFP o analista Ariel Ávila, da Fundação Paz e Reconciliação.

"É o homem que marcará a história por levar as Farc a um processo de paz", agregou sobre o guerrilheiro de 57 anos.

Uma meta comumSantos nasceu em uma família da elite - seu tio-avô foi chefe de Estado e dono do influente jornal El Tiempo. É um liberal formado na London School of Economics e ocupou diversos cargos públicos em sua carreira política.

Timochenko, de origem oposta e nascido na zona cafeeira da Colômbia, muito próxima da região natal de "Tirofijo", é de orientação marxista, e frequentou cursos de medicina na extinta União Soviética e em Cuba, mas não se formou. Protagonizou uma carreira meteórica nas Farc, chegando a ser parte de seu Secretariado - a cúpula rebelde de sete comandantes - com apenas 26 anos.

No entanto, as metas destes dois homens convergiram em uma só no início de 2012. Após poucas semanas de assumir o comando das Farc, Timochenko escreveu uma carta a Santos propondo "uma hipotética mesa de conversações, de frente para o país", em uma tentativa de retomar o último fracassado processo de paz com o governo de Andrés Pastrana, entre 1999 e 2002.

Dias depois, o chefe-máximo das Farc - que acumula condenações de mais de 150 anos por todo tipo de crime em sua luta revolucionária - se comprometeu a parar com o sequestro de civis com o objetivo de extorsão, contemplando uma das mais insistentes demandas do chefe de Estado.

Santos reconheceu, então, que a guerrilha havia dado um passo até o estabelecimento de um diálogo, ainda que tenha o qualificado de insuficiente. As aproximações, no entanto, se intensificaram e confluíram na preparação de uma mesa de diálogos em novembro de 2012, em Havana, onde nesta quinta foi dado o histórico passo até a paz definitiva.