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ONU apoia plano de paz russo-turco para Síria, onde trégua se mantém

31/12/2016 20h57

Nações Unidas, Estados Unidos, 31 dez 2016 (AFP) - O Conselho de Segurança da ONU deu seu apoio neste sábado a uma iniciativa russo-turca para a paz na Síria, que vivia um segundo dia de calma no front, apesar de algumas violações ao cessar-fogo, uma das quais resultou na morte de duas crianças perto de Aleppo.

O texto de compromisso, aprovado após a realização de consultas a portas fechadas, diz que o Conselho de Segurança "acolhe com satisfação e apoia os esforços da Rússia e da Turquia para por fim à violência na Síria e iniciar um processo político" para solucionar o conflito no país.

Além disso, indica que "toma nota" do acordo alcançado pelos dois países em 29 de dezembro.

O Conselho destaca a necessidade de aplicar "todas as resoluções pertinentes da ONU" sobre a Síria.

A resolução reforça que as negociações previstas para janeiro em Astana "são uma etapa importante na perspectiva da retomada das negociações (entre o governo e a oposição sírios), sob os auspícios da ONU, em 8 de fevereiro de 2017".

O Conselho reivindica, ainda, um "acesso humanitário rápido, seguro e sem obstáculos" para auxiliar a população civil.

Em seus argumentos de votação, os representantes americano, francês e britânico lamentaram que certos detalhes do acordo russo-turco não lhes tenham sido comunicados, entre eles a lista precisa dos grupos armados abrangidos no cessar-fogo.

"O texto do acordo russo-turco apresentado ao Conselho (...) ainda contém zonas de sombra", advertiu o embaixador-adjunto francês, Alexis Lamek.

Diante das reticências de vários membros do Conselho, a Rússia modificou profundamente seu projeto de resolução inicial.

Pela primeira vez desde o início da guerra, em março de 2011, os Estados Unidos, que apoiam a oposição, foram excluídos desta iniciativa de paz. O governo do presidente em fim de mandato, Barack Obama, a qualificou de "evolução positiva", três semanas antes da posse de Donald Trump.

Também é a primeira vez que a Turquia apadrinha um acordo do tipo, graças à sua aproximação da Rússia de Vladimir Putin, que pretende se colocar como um pacificador, após ter se alinhado militarmente às forças do regime de Bashar Al Assad.

Enquanto a resolução era votada nas Nações Unidas, duas crianças morriam na Síria, vítimas de disparos de artilharia do regime contra territórios rebeldes perto de Aleppo, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), ONG sediada em Londres, que monitora a situação do conflito no país.

"Duas crianças morreram [atingidas] por disparos de artilharia do regime contra uma localidade situada em território rebelde a oeste de Aleppo", informou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.

O regime de Damasco tinha anunciado a retomada total de Aleppo em 22 de dezembro, após quatro anos de combates sangrentos com os rebeldes e a evacuação de milhares de combatentes e de civis que viviam nos últimos bairros ocupados pelos insurgentes.

O conflito na Síria, desencadeado em 2011 pela sangrenta repressão às manifestações pacíficas pró-democracia no país, transformou-se em uma guerra complexa que envolve várias potências regionais e internacionais.

Só em 2016, cerca de 60.000 pessoas perderam a vida em combates e bombardeios, e deles, 13.617 eram civis, segundo balanço da ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), sediado em Londres.

Prossegue a calmaO cessar-fogo, do qual estão excluídos os grupos extremistas Estado Islâmico (EI) e Fateh al Sham, deveria ser o prelúdio de negociações de paz previstas no fim de janeiro no Cazaquistão, auspiciadas por Moscou e Teerã, aliados do regime, e por Ancara, que apoia os rebeldes.

Pelo segundo dia consecutivo, "a calma reina na maioria das regiões sírias", respeitando a aplicação de uma trégua, a primeira desde setembro, que entrou em vigor à 00h00 local de sexta-feira (20h00 de quinta, hora de Brasília), informou, mais cedo, o diretor do OSDH, antes dos disparos do regime contra os rebeldes perto de Aleppo.

Além deste ataque, foram registrados, segundo Rahman, alguns enfrentamentos e bombardeios de artilharia do regime na região de Wadi Barada, perto de Damasco e na cidade de Deraa (sul).

Wadi Barada é uma das principais áreas de abastecimento de água potável para os quatro milhões de habitantes da capital síria e seus arredores. O governo acusa os rebeldes de terem "contaminado com diesel" a água que chega a Damasco.

Aproveitando o cessar-fogo, crianças puderam voltar à escola na província de Idleb, controlada pelo Fatah al-Sham (ex-Frente al-Nosra, braço da Al-Qaeda na Síria), um grupo considerado "terrorista" por Washington e Moscou.

Aliança complicadaComo nas tréguas anteriores, que fracassaram poucos dias depois, a aliança de insurgentes com o Fateh al-Sham complica a implementação do cessar-fogo.

Muito debilitados, estes grupos rebeldes não podem se distanciar da formação extremista, que conta com melhores equipamentos e tem um papel militar chave na batalha contra o regime. Nas regiões sob o seu controle, os rebeldes são seus aliados.

"Não se deve excluir nenhum grupo em Idleb, caso contrário a trégua fracassará", afirmou Mohamad, de 28 anos, que espera que este conflito, que já deixou mais de 310.000 mortos e milhões de refugiados desde 2011, seja resolvido.

O EI, por sua vez, atua sozinho nas regiões que controla, no norte da Síria, e continua sendo o alvo dos bombardeios russos, americanos, turcos e sírios.

De acordo com o Pentágono, o seu líder, Abu Bakr al Baghdadi, ainda está vivo, apesar dos esforços da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos para eliminá-lo.

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