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CNE sugere segundo turno no Equador em lenta apuração

21/02/2017 20h43

Quito, 21 Fev 2017 (AFP) - O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador sugeriu nesta terça-feira que haverá segundo turno entre o candidato governista e o opositor de direita, mas não o anunciará oficialmente até completar a lenta e disputada apuração dos votos.

"Temos uma tendência marcada e, se esse for o caso, haverá um segundo turno", previsto para 2 de abril, expressou o presidente do CNE, Juan Pablo Pozo, durante coletiva de imprensa em Quito.

Com 96,3% dos votos apurados, o governista Lenín Moreno alcançava 39,27% dos votos válidos e Guillermo Lasso registrava 28,29%.

Para ganhar no primeiro turno, o candidato governista precisa de 40% dos votos válidos e uma diferença de, pelo menos, dez pontos percentuais sobre o segundo colocado.

Em sua última declaração oficial, num ambiente de impaciência diante da lentidão da apuração, Pozo assegurou que essa tendência "não poderia mudar".

"Mas para dar resultados oficiais (...) temos que dá-lo assim que tivermos resultados definitivos", indicou Pozo que, na segunda-feira, havia dado três dias de prazo.

Também informou que faltam apurar apenas pequenas porcentagens em seis das 24 províncias do país, entre elas as três com mais peso no padrão eleitoral: Guayas, Pichincha e Manabí, nas quais Moreno lidera com folga.

"Nada está decidido. Que contem até o último voto e, se houver segundo turno, iremos derrotá-los de novo", escreveu Correa.

Pozo afirmou que na noite desta terça-feira darão os resultados definitivos das eleições para a Assembleia Nacional, o Parlamento andino e a consulta popular sobre os paraísos fiscais.

O oficialismo tem agora uma maioria de dois terços no Legislativo, o que lhe permite, por exemplo, tramitar reformas constitucionais ou julgar um presidente e um vice-presidente.

Panorama sombrioAnalistas advertem há semanas que um segundo turno complicaria muito o panorama do correísmo, desgastado devido, sobretudo, à delicada situação econômica por conta da queda nos preços do petróleo e das crescentes denúncias de corrupção que assombraram a campanha.

Em um segundo turno, a oposição, encarnada por partidos de direita e descontentes com o correísmo, poderia se unir, embora tenha chegado a essas eleições completamente dividida.

Após saber que não conseguiria chegar ao segundo turno, a deputada de direita Cynthia Viteri, terceiro lugar nas contagens com 16,16%, pediu abertamente o voto para Lasso, enquanto o ex-prefeito de Quito, Paco Moncayo (6,82%), deixou a decisão em aberto.

O cientista político Simón Pachano, professor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), advertiu que os resultados de um segundo turno nas eleições equatorianas poderiam ser surpreendentes.

"Não é inusitado que seja o país onde mais vezes aconteceu uma mudança no resultado do primeiro turno", disse à AFP.

O resultado desta eleição pode ser decisivo para o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, asilado na embaixada do Equador em Londres desde 2012 para evitar sua extradição à Suécia por supostos crimes sexuais, que ele nega.

Moreno é partidário de manter seu asilo, mas Lasso disse à AFP que, se chegar ao poder, vai retirá-lo.

Um triunfo de Lasso seria também um novo revés para a esquerda latino-americana, enfraquecida pela guinada à direita no Brasil, na Argentina e no Peru.

"Em vigília, mas em paz"O anúncio do CNE poderia acalmar os ânimos de Lasso e do resto dos opositores, que desde domingo à noite pedem a seus partidários que "defendam o voto" nas ruas, além de lançarem advertências de que não tolerarão uma fraude.

No Equador, é comum o CNE demorar vários dias para entregar os números definitivos das eleições, mas na votação de 2013, quando Correa repetiu sua vitória no primeiro turno, os resultados foram conhecidos mais rapidamente.

A lei dá um prazo de 10 dias ao CNE para apresentar os resultados das eleições, com a possibilidade de uma prorrogação.

Lasso tinha previsto nesta terça-feira se juntar à concentração que seus partidários (e de outros partidos opositores) mantêm desde domingo em frente ao CNE, no norte de Quito, em uma vigília para exigir transparência na contagem com frases como "resultados já" e "sem mais fraude".

"Demorar 3 dias para dar os resultados finais é uma tentativa de fraude, e isso não vamos permitir", escreveu o ex-banqueiro em seu Twitter.

Militares e policiais fazem a segurança do edifício do CNE - onde colocaram barracas e banheiros químicos - desde que começaram a registrar alguns atritos com os manifestantes, em sua maioria das classes média e alta.

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