Topo

Equador definirá o sucessor de Rafael Correia no segundo turno

23/02/2017 13h17

Quito, 23 Fev 2017 (AFP) - O governista Lenín Moreno e o opositor de direita Guillermo Lasso vão se enfrentar no próximo dia 2 de abril no segundo turno das presidenciais equatorianas, o que complica a continuidade do regime socialista do atual presidente Rafael Correa.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) confirmou na noite de quarta a realização do segundo turno.

"Com os resultados obtidos de 99,5% das atas apuradas por parte das juntas eleitorais provinciais, posso informar ao país que, no próximo domingo 2 de abril de 2017, será realizado o segundo turno eleitoral", anunciou o presidente do CNE, Juan Pablo Pozo, por rádio e televisão.

Pozo acrescentou que Moreno, ex-vice-presidente (2007-2013) no governo do socialista Rafael Correa, aparece com 39,3% dos votos válidos contra 28,1% de Lasso, um ex-banqueiro conservador.

Para ganhar no primeiro turno, a lei estabelece que se deve conseguir 40% dos votos e superar em pelo menos dez pontos o segundo colocado.

"Agradeço a todos os equatorianos por seu voto gentil. Vou correspondder com muito coração, com muito trabalho", declarou Moreno ao canal RTS.

Moreno, cujo estilo conciliador contrasta com o temperamental Correa, assinalou que está disposto a realizar um debate com seu adversário.

"Agora somos você e eu. A pessoal que exilou dois milhões de equatorianos e a pessoa que deu às pessoas casa, emprego, dignidade. Essa é a diferença", afirmou ainda.

O governo acusa Lasso de ser um dos responsáveis pela crise bancária de 1999, que resultou na dolarização da economia, no congelamento temporárioa dos depósitos e a migração de milhares de equatorianos.

O ex-banqueiro, partidário de fomentar o investimento estrangeiros e baixar os impostos para estimular o consumo e a produção nacional, considerou o anúncio da CNE "um triunfo".

"Meu compromisso de continuar lutando pela democracia e o direito a prosperar de cada equatoriano em um país solidário", postou no Twitter.

Em entrevista no Palácio de Carondelet, na quarta, Rafael Correa já havia reconhecido a realização de um segundo turno.

"Tudo nos indica que venceremos no segundo turno. De fato, em todos os cenários, o candidato mais fácil de derrotar é Guillermo Lasso", comentou.

Esse cenário faz prever uma duríssima campanha entre dois modelos antagônicos e abre uma frente de incerteza para a enfraquecida esquerda latino-americana, assim como para o asilo de Julian Assange, da plataforma WikiLeaks.

Hoje, o governo conta com maioria de dois terços no Legislativo, o que lhe permite, por exemplo, tramitar reformas constitucionais e julgar um presidente, ou vice-presidente.

- Campanha contra as oligarquias - Analistas advertem há semanas que um segundo turno complicará muito o panorama do correísmo, desgastado pela delicada situação econômica por conta da queda nos preços do petróleo e das crescentes denúncias de corrupção que assombraram a campanha.

Em um segundo turno, a oposição, encarnada por partidos de direita e descontentes com a gestão de Correa, poderia se unir, embora tenha chegado a essas eleições completamente dividida.

"Nem Moreno, nem Lasso ganharão facilmente, mas me parece que Lasso tem mais espaço para crescer e alcançar os 50%. Essa era a análise do Aliança País (governista) e, por isso, queria ganhar no primeiro turno", explicou à AFP o cientista político Santiago Basabe, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

Moreno representa a continuidade de um sistema que combina um grande gasto social com altos impostos e elevado endividamento, contra o modelo de Lasso, ex-presidente e acionista do Banco de Guayaquil, que procura fomentar o investimento estrangeiro e a diminuição dos impostos para estimular o consumo e a produção nacional.

"Os dois vão ter um exercício de abertura política. Moreno vai planejar uma campanha contra as oligarquias, dirigida a questionar a agenda neoliberal de Lasso. E Lasso terá de propor uma agenda social mais ampla", explicou o cientista político Franklin Ramírez.

Tudo dependerá, porém, do comportamento dos eleitores dos outros seis candidatos. Terceira colocada nas eleições com 16,22%, a ex-deputada de direita Cynthia Viteri pediu votos para Lasso.

"Muito claramente quem vai governar serei eu!", disse Moreno, enquanto Lasso agradeceu aos eleitores "pela maior unidade de oposição contra o correísmo".

- 'Direita cavernosa' -Após a guinada à direita no Brasil, na Argentina e no Peru no ano passado, o segundo turno no Equador pode significar um novo golpe para a esquerda latino-americana, que deixaria a Venezuela de Nicolás Maduro e a Bolívia de Evo Morales isoladas.

"Há uma nova direita, mas é cavernosa, totalmente entregue ao norte. Lasso vai se colocar contra a integração regional, vai se enquadrar com os países hegemônicos, disse que vai assinar tratados de livre-comércio", denunciou Correa nesta quarta-feira durante coletiva de imprensa.

O resultado dessa eleição também será decisivo para o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, asilado na embaixada do Equador em Londres desde 2012 para evitar sua extradição para a Suécia. Acusado de ter cometido crimes sexuais, Assange nega.

Moreno é partidário de manter o asilo, mas Lasso disse à AFP que, se chegar ao poder, irá retirá-lo da missão diplomática.

Para Rafael Correa, a postura de Lasso representa um "entreguismo" aos Estados Unidos.

Lasso "disse explicitamente que convidaria o senhor Assange a deixar a embaixada. Assim é o entreguismo da nossa direita para se mostrar para o norte", manifestou em reunião com a imprensa estrangeira, referindo-se aos EUA.

Correa ainda questionou Lasso de não querer "respeitar os compromissos" do Equador com sua posição de retirar o asilo de Assange.

"Quer atentar contra seus direitos humanos, tirá-lo e deixá-lo desprotegido", concluiu.

jm-sp/nn/cb/tt