Morre Ahmed Kathrada, ícone da luta contra o apartheid na África do Sul
O veterano da luta contra o apartheid Ahmed Kathrada, companheiro de cela de Nelson Mandela na prisão de Robben Island, morreu nesta terça-feira em Johannesburgo aos 87 anos, o que provocou uma onda de homenagens.
Ex-deputado e conselheiro do presidente Mandela durante seu único mandato à frente da África do Sul, entre 1994 e 1999, Kathrada integrou o primeiro círculo de dirigentes históricos do Congresso Nacional Africano (ANC).
Conhecido como "Tio Kathy", foi uma figura destacada no final dos anos 1980, durante as negociações entre o ANC e o regime branco que contribuíram - no início dos anos 90 - para o fim do apartheid e a realização das primeiras eleições livres na África do Sul, em 1994.
"A Fundação Ahmed Kathrada anuncia com tristeza a morte do veterano da ANC Ahmed Kathrada, de 87 anos, esta manhã no hospital Donald Gordon de Johannesburgo", informou a organização.
"Morreu em paz", após uma cirurgia no cérebro, completou a fundação em um comunicado.
Uma das últimas figuras vivas da histórica luta contra o apartheid, o ex-arcebispo da Cidade do Cabo Desmond Tutu recordou um "homem de uma gentileza, uma modéstia e uma tenacidade notáveis".
"Um dia escreveu ao presidente (Mandela) para afirmar que não se considerava suficientemente importante para merecer homenagens", afirmou o vencedor do Nobel da Paz, de 85 anos.
Kathrada receberá uma homenagem oficial e as bandeiras do país ficarão a meio mastro até o dia do funeral, informou o governo do presidente Jacob Zuma.
'Uma alma boa'
"É uma grande perda para o ANC e para o movimento de libertação da África do Sul, em geral", declarou o diretor da fundação, Neeshan Balton.
"'Kathy' era uma fonte de inspiração para milhões de pessoas, em todo o mundo".
"O camarada Kathy era uma alma boa, humano e humilde", disse Derek Hanekom, companheiro de armas e membro da fundação.
"Um revolucionário determinado, que dedicou sua vida ao combate pela liberdade em nosso país", completou.
Ahmed Kathrada nasceu em 21 de agosto de 1929 em uma pequena vila da província do Transvaal ocidental, em uma família de imigrantes indianos.
Kathrada abandonou a escola aos 17 anos para ingressar na luta contra as leis do apartheid.
O ativista foi foi preso em 1963 com Nelson Mandela e parte do Estado-Maior do ANC no QG clandestino da organização em Johannesburgo, sob a acusação de sabotagem.
Condenado em 1964 à prisão perpétua, permaneceu na penitenciária de Robben Island durante 26 anos.
"Foi minha força na prisão, meu guia na vida política e o pilar de minha força nos momentos difíceis de minha vida. Agora se foi", lamentou um de seus companheiros na prisão de Robben Island, Laloo "Isu" Chiba, de 86 anos
Desde que se afastou da política em 1999, Ahmed Kathrada dirigia a fundação que tem o seu nome, dedicada a lutar contra a desigualdade.
Mas no ano passado ele saiu rapidamente de sua aposentadoria política para lamentar o rumo tomado pelo ANC sob o comando do atual presidente sul-africano, Jacob Zuma, envolvido em uma série de escândalos de corrupção. Também pediu a renúncia do governante.
"Querido camarada presidente, o senhor não pensa que continuar como presidente vai contribuir para agravar a crise de confiança no governo do país?", questionou em uma carta aberta.
Apesar da opinião polêmica, a morte de Ahmed Kathrada provocou uma homenagem unânime dos políticos sul-africanos.
"Sua vida é uma lição de humildade, de tolerância, de resistência e de compromisso tenaz", afirmou o ANC, partido no poder desde 1994.
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