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Partidários de Maduro agridem e impedem saída de deputados do Parlamento

05/07/2017 19h32

Caracas, 5 Jul 2017 (AFP) - Dezenas de partidários do governo do presidente Nicolás Maduro permaneciam nesta quarta-feira diante do Parlamento venezuelano, controlado pela oposição, horas após invadirem o local e ferirem cinco deputados, o que impedia a saída de legisladores e jornalistas.

Diante das duas entradas da Assembleia, os partidários de Maduro gritavam contra os deputados da oposição, chamados de "assassinos" e "terroristas", e prometiam: "não vão sair, terão que comer os tapetes"!

Cinco horas após a invasão, deputados da oposição e jornalistas eram impedidos de sair da Assembleia pelos partidários de Maduro.

O local também está cercado pela Guarda Nacional, que não intervém na ação dos partidários de Maduro, limitando-se a afastar os jornalistas das entradas da Assembleia.

"Estamos sequestrados neste momento", declarou à imprensa o deputado Williams Dávila, membro da comissão de política externa do Parlamento, que qualificou o ataque de "tentativa de homicídio".

Os legisladores mantêm comunicação com vários chanceleres e congressistas da região, e com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, para relatar a situação e pedir apoio, informou Luis Florido, presidente do comitê legislativo.

"Qualquer perda de vida, qualquer agressão física será de responsabilidade do presidente (Maduro), de seus ministros e dos encarregados da ordem pública", declarou Dávila.

O deputado questionou a atitude da Guarda Nacional, que não fez nada para evitar a invasão do Parlamento e a agressão aos deputados.

Os deputados Américo de Grazia, Nora Bracho, Armando Armas, Luis Carlos Padilla e Leonardo Regnault foram agredidos violentamente - três deles na cabeça - e levados a um centro médico.

De Grazia teve convulsões e ferimentos mais graves. "Isso não dói mais do que ver todos os dias como perdemos o país", declarou Armas aos jornalistas ao subir em uma ambulância com curativos na cabeça.

Segurando pedaços de paus, dezenas de pessoas, algumas encapuzadas, forçaram os portões do Palácio Legislativo, onde acontecia uma sessão solene pelo Dia da Independência, e detonaram bombas de efeito moral nos jardins e corredores, gerando caos e pânico. Pelo menos três pessoas estavam armadas, segundo relatos de jornalistas presentes no local.

Em meio à fumaça das bombas, os partidários golpearam deputados e outros funcionários, além de obrigarem jornalistas a abaixar suas câmeras e abandonar o prédio, sem que fossem contidos pela Guarda Nacional.

O país vive uma alta tensão por protestos opositores que exigem a saída de Maduro. Em três meses, 91 pessoas morreram nos protestos.

O cenário é agravado por uma devastadora crise econômica e uma inflação fora de controle no país com as maiores reservas de petróleo do mundo.

"Não vamos nos intimidar com esses atos de violência. Não vamos nos calar sobre a Constituinte comunista", disse o vice-presidente do Parlamento, Freddy Guevara.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, condenou as agressões aos deputados opositores e reiterou o seu chamado ao diálogo para resolver a crise.

"Novamente chegam notícias de violência na Venezuela. Desta vez a violência foi no templo da democracia, que é o recinto da Assembleia Nacional, e como democratas temos que condenar essa violência", declarou durante um ato no departamento fronteiriço de César.

O incidente ocorreu durante um recesso da sessão parlamentar e enquanto Maduro participava de um desfile militar na avenida de Los Próceres, pelo 206º aniversário da independência venezuelana.

"Condeno absolutamente esses fatos, até onde os conheço. Nunca serei cúmplice de qualquer ação de violência", disse Maduro no ato, sem admitir que quem entrou no Legislativo foram seus apoiadores.

Depois, Maduro recriminou a oposição, exigindo que também condene a violência nos protestos e o ataque de 27 de junho, quando um policial lançou quatro granadas de um helicóptero contra a sede do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) em Caracas.

"Eu queria que a direita condenasse o ataque terrorista com bombas e balas, elo criminoso que estamos procurando", afirmou o presidente, que chamou essa ação de "intentona golpista".

- Da pólvora aos votos -Durante o desfile, Maduro ressaltou a lealdade da cúpula militar e pediu às Forças Armadas que se mantenham unidas e que apoiem a revolução e a Constituinte.

"Quando a nova Assembleia Constituinte for instalada, estaremos reeditando nosso desejo de sermos livres, soberanos e independentes", disse mais cedo o chefe das Forças Armadas, general Vladimir Padrino López.

Na sessão do Parlamento, seu presidente, Julio Borges, pediu à instituição castrense que defenda a democracia, depois de lamentar que o "militarismo esteja se impondo" aos civis.

"A Venezuela vive um dilema, uma encruzilhada, queremos passar da soberania da pólvora à soberania dos votos", acrescentou.

Antes da invasão do Parlamento, o vice-presidente, Tareck El Aissami, havia convocado "os excluídos pelo modelo capitalista e por essa classe política apátrida (oposição)" a comparecer à Assembleia para referendar seu compromisso com a revolução.

Depois um grupo de chavistas foi para a frente do edifício legislativo para um "plantão" de seis horas com discursos contra os opositores e contra a procuradora-geral, Luisa Ortega, processada judicialmente pelo governo.

"Traidora", gritaram os partidários sobre Ortega fora do Parlamento.

Apoiada por chavistas críticos de Maduro por se opor à Constituinte, Ortega não compareceu na terça-feira a uma audiência no Tribunal Supremo de Justiça, que decidirá se ela cometeu uma "falta grave" que pode levar à sua destituição. A procuradora alegou que os magistrados são "ilegítimos" e que sua presença "legitimaria um circo".