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Peter Madsen, um fanático inventor à beira da megalomania

24/08/2017 12h51

Copenhaga, 24 Ago 2017 (AFP) - Inventor fanático movido por uma voraz ambição que beira a megalomania, o dinamarquês Peter Madsen, suspeito de matar de forma brutal a jornalista sueca Kim Wall, fez de sua vida um permanente desafio às leis terrestres.

"Minha paixão é encontrar meios para viajar para os mundos além do conhecido", escreveu esse inventor autodidata, que adotou o apelido de "Rocket Madsen", na página online de sua associação espacial, o RML Space Lab.

Em 10 de agosto, em Copenhague, embarcou em seu submarino de 18 metros, o "UC3 Nautilus", junto com a jornalista Kim Wall. Ela o acompanhava para escrever uma reportagem sobre o inventor.

O torso da sueca de 30 anos foi encontrado na segunda-feira (21) na baía de Køge, perto de Copenhague, atado a uma peça de metal, sem cabeça e sem membros.

Em um primeiro momento, Madsen declarou que a jornalista havia desembarcado na ilha de Refshaleoen, na noite de 10 de agosto. Depois de ser detido, mudou sua versão e afirmou que Kim havia falecido em um "acidente" e que ele jogou o corpo no mar, nessa mesma baía.

Madsen, de 46, foi resgatado pelas autoridades dinamarquesas em Öresund, entre a costa da Dinamarca e da Suécia, antes do naufrágio do submarino.

A polícia suspeita de que o inventor tenha provocado o naufrágio do "Nautilus" de modo deliberado para ocultar provas. A embarcação foi erguida à superfície e examinada pela perícia. Oficialmente, Madsen é acusado de "homicídio culposo por negligência".

- Infância -Peter Langkjær Madsen cresceu na pequena cidade de Saeby, a cerca de 100 quilômetros da capital. Sua mãe era 36 anos mais nova do que seu pai, dono de um restaurante. Ambos se separaram quando Peter tinha apenas seis anos, e ele foi criado pelo pai, um homem autoritário.

"Quando penso no meu pai, penso nas crianças, na Alemanha, cujo pai era comandante de um campo de concentração", contou ao jornalista Thomas Djursing, autor de sua biografia publicada em 2014.

Na companhia desse homem fã de história militar e de epopeias navais e aéreas, o adolescente começou a sonhar com a imensidão espacial.

Aos 15 anos, fundou sua primeira empresa, a Danish Space Academy, com o objetivo de comprar peças para construir um foguete. Após a morte do pai, três anos depois, começou estudos de Engenharia, os quais abandonou quando considerou que já havia aprendido o suficiente.

Em 2008, lançou o "UC3 Nautilus", então um dos maiores submarinos privados do mundo e, em paralelo, levou adiante sua ambição espacial. Em junho de 2011, lançou um foguete de uma plataforma flutuante em frente à ilha de Bornholm, no mar Báltico.

- Temperamento instável -Por alguns, Madsen é descrito como uma pessoa "não violenta", que "não bebe, nem se droga", mas que teria, segundo outros conhecidos, um temperamento errático, não aceitando ser contrariado.

"Está aborrecido com Deus e com os homens", diz Thomas Djursing.

"O fio condutor de sua vida são os conflitos. Tem dificuldade para chegar a um acordo com os demais, tem grandes ambições e quer fazer tudo a sua maneira", completou.

Seus primeiros foguetes lançados ao espaço, a até oito quilômetros de altitude, foram fruto de sua colaboração com um ex-arquiteto da Nasa, Kristian von Bengtson. Os dois romperam relações em 2014, e Madsen criou a RML Space Lab, na esperança de alcançar seu sonho.

Madsen também se desentendeu com aqueles que o ajudaram a construir o "Nautilus". Embora 25 voluntários tenham participado da fabricação do submarino, ficou com a propriedade da embarcação em 2015.

Pouco antes, havia escrito para algumas pessoas que havia uma "maldição" no submarino.

"Essa maldição sou eu. Nunca haverá paz no 'Nautilus', enquanto eu existir", acrescentou.

Madsen justificava sua independência da seguinte maneira: "Sou autoempreendedor, é a força da ditadura".

A liberdade teve um preço para ele. Em abril passado, confessou em seu blog que a associação que o apoiava contava com 15 vezes menos "mecenas" do que nos seus projetos anteriores.

Essa associação anunciou sua dissolução, após a identificação do corpo de Kim Wall.

"O sonho está desfeito", escreveu em sua página on-line.

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