Disputa com chefe antimáfia da ONU encurrala presidente da Guatemala
Cidade da Guatemala, 29 Ago 2017 (AFP) - A tentativa do presidente da Guatemala, Jimmy Morales, de expulsar o chefe de uma comissão antimáfia da ONU gerou nesta segunda-feira uma onda de críticas e protestos, que agravou a crise política que o país vive.
Centenas de indígenas, camponeses e estudantes foram às ruas do centro histórico da capital para exigir a renúncia do presidente, conhecido pela maioria dos guatemaltecos por ter sido comediante, antes de vencer as eleições há dois anos com a promessa de acabar com a corrupção galopante no país.
"O que o presidente pretende é garantir a impunidade ao evitar ser processado criminalmente por financiamento ilícito. É uma vergonha", disse à AFP a ativista do departamento indígena de Totonicapán Andrea Ixchiu.
Quase uma centena de organizações da sociedade civil das Américas e da Espanha condenaram a decisão do presidente e a qualificaram como "uma ruptura grave dos compromissos do governo com a luta contra a impunidade".
Morales ordenou no domingo a expulsão do ex-juiz colombiano Iván Velásquez, titular da Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), uma entidade ligada à ONU que funciona desde 2007, ao acusá-lo de se intrometer nos assuntos internos do Estado e extrapolar as suas funções.
Sua decisão foi tomada dois dias depois de Velásquez ter iniciado, juntamente com a procuradora-geral, Thelma Aldana, o processo para retirar a imunidade do chefe de Estado para investigá-lo por suposta corrupção de fundos de campanha em seu partido, o direitista FCN-Nación, em 2015.
Em abril daquele ano, a Cicig desvendou uma fraude na alfândega que levou à renúncia do então presidente, Otto Pérez (2012-2015) e de sua vice-presidente, Roxana Baldetti. Os dois estão na prisão à espera de julgamento.
- "Não os farei chorar" -A ordem de expulsão não foi cumprida porque a Corte de Constitucionalidade (CC), a máxima instância judicial do país, emitiu três medidas provisórias para detê-la.
Ativistas apresentaram nesta segunda-feira duas ações na Suprema Corte de Justiça para retirar o foro privilegiado de Morales e processá-lo por abuso de autoridade e outros delitos, ao considerar que o pedido de expulsão é ilegal.
O encarregado reuniu-se nesta segunda com líderes indígenas, que "lhe expressaram solidariedade e apoio por seu trabalho à frente" da entidade, reportou a própria Cicig no Twitter.
Uma centena de simpatizantes do presidente foram à sede da comissão para exigir a saída de seu titular.
Os escritórios da ONU na Guatemala fizeram um apelo a diferentes setores para evitar a violência e favorecer o diálogo.
Morales faz parte da história recente dos guatemaltecos por interpretar por mais de duas décadas Neto, uma espécie de caubói ingênuo no programa de TV "Moralejas" (A moral das histórias, em tradução livre), que produzia com seu irmão, Samuel.
Ele e um filho do presidente causaram grande dano ao governo por acabar envolvidos em uma fraude relacionada com um contrato de alimentos.
"Durante 20 anos os fiz rir, lhes prometo que se chegar a ser presidente não os farei chorar", dizia Morales durante a campanha eleitoral.
Quase na metade de seu mandato de quatro anos, os críticos do governo assinalam que não cumpriu com as expectativas pelas quais foi eleito em 2015, em meio a uma crise por escândalos de corrupção no governo de Otto Pérez.
Morales, de 48 anos, direitista e protestante, também assegurou em seu caminho ao poder que não era "nem corrupto, nem ladrão", afirmação pela qual o recriminam nos protestos.
"Tenho que dizer que a decisão de expulsar o comissário da Cicig prejudicou a credibilidade deste governo nesta luta" contra a corrupção, assinalou o embaixador dos Estados Unidos na Guatemala, Todd Robinson.
O congressista americano Ed Royce, presidente da Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara Baixa, exigiu também a Morales para "mudar de curso, respeitar a Corte Constitucional, e permitir a Iván Velásquez continuar seu importante trabalho de apoio às autoridades da Guatemala para combater a corrupção".
- Evitar a investigação -A ordem de expulsão levou à renúncia da cúpula do Ministério da Saúde e um alto funcionário comercial. O chanceler, Carlos Raúl Morales, foi destituído.
Nesta segunda-feira, o governo informou em uma junta de gabinete que os outros ministros e secretários "apoiaram a gestão de Morales". Grupos de direita também expressaram a sua aprovação pela decisão de expulsar o ex-magistrado colombiano.
Velásquez ficou a cargo da Cicig em 2013, mas foi em abril de 2015 que seu nome ficou conhecido ao revelar junto com a Procuradoria uma fraude milionária nas alfândegas que derrubou Pérez, apontado como um chefe de uma rede que cobrava propinas para evadir impostos aduaneiros.
Álvaro Montenegro, integrante do coletivo "Justicia Ya", indicou à AFP que o presidente quer expulsar Velásquez para evitar a investigação de financiamento ilícito de campanha, além de favorecer os seus familiares.
"Todos os que foram acusados por casos de corrupção se aliaram para retirar Iván Velásquez" do país, alertou Montenegro, ativista do movimento surgido em 2015 durante os protestos contra o ex-presidente Pérez.
A Cicig, nas mãos de Velásquez, nos últimos anos revelou outros casos de corrupção envolvendo deputados, prefeitos e empresários.
Centenas de indígenas, camponeses e estudantes foram às ruas do centro histórico da capital para exigir a renúncia do presidente, conhecido pela maioria dos guatemaltecos por ter sido comediante, antes de vencer as eleições há dois anos com a promessa de acabar com a corrupção galopante no país.
"O que o presidente pretende é garantir a impunidade ao evitar ser processado criminalmente por financiamento ilícito. É uma vergonha", disse à AFP a ativista do departamento indígena de Totonicapán Andrea Ixchiu.
Quase uma centena de organizações da sociedade civil das Américas e da Espanha condenaram a decisão do presidente e a qualificaram como "uma ruptura grave dos compromissos do governo com a luta contra a impunidade".
Morales ordenou no domingo a expulsão do ex-juiz colombiano Iván Velásquez, titular da Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala (Cicig), uma entidade ligada à ONU que funciona desde 2007, ao acusá-lo de se intrometer nos assuntos internos do Estado e extrapolar as suas funções.
Sua decisão foi tomada dois dias depois de Velásquez ter iniciado, juntamente com a procuradora-geral, Thelma Aldana, o processo para retirar a imunidade do chefe de Estado para investigá-lo por suposta corrupção de fundos de campanha em seu partido, o direitista FCN-Nación, em 2015.
Em abril daquele ano, a Cicig desvendou uma fraude na alfândega que levou à renúncia do então presidente, Otto Pérez (2012-2015) e de sua vice-presidente, Roxana Baldetti. Os dois estão na prisão à espera de julgamento.
- "Não os farei chorar" -A ordem de expulsão não foi cumprida porque a Corte de Constitucionalidade (CC), a máxima instância judicial do país, emitiu três medidas provisórias para detê-la.
Ativistas apresentaram nesta segunda-feira duas ações na Suprema Corte de Justiça para retirar o foro privilegiado de Morales e processá-lo por abuso de autoridade e outros delitos, ao considerar que o pedido de expulsão é ilegal.
O encarregado reuniu-se nesta segunda com líderes indígenas, que "lhe expressaram solidariedade e apoio por seu trabalho à frente" da entidade, reportou a própria Cicig no Twitter.
Uma centena de simpatizantes do presidente foram à sede da comissão para exigir a saída de seu titular.
Os escritórios da ONU na Guatemala fizeram um apelo a diferentes setores para evitar a violência e favorecer o diálogo.
Morales faz parte da história recente dos guatemaltecos por interpretar por mais de duas décadas Neto, uma espécie de caubói ingênuo no programa de TV "Moralejas" (A moral das histórias, em tradução livre), que produzia com seu irmão, Samuel.
Ele e um filho do presidente causaram grande dano ao governo por acabar envolvidos em uma fraude relacionada com um contrato de alimentos.
"Durante 20 anos os fiz rir, lhes prometo que se chegar a ser presidente não os farei chorar", dizia Morales durante a campanha eleitoral.
Quase na metade de seu mandato de quatro anos, os críticos do governo assinalam que não cumpriu com as expectativas pelas quais foi eleito em 2015, em meio a uma crise por escândalos de corrupção no governo de Otto Pérez.
Morales, de 48 anos, direitista e protestante, também assegurou em seu caminho ao poder que não era "nem corrupto, nem ladrão", afirmação pela qual o recriminam nos protestos.
"Tenho que dizer que a decisão de expulsar o comissário da Cicig prejudicou a credibilidade deste governo nesta luta" contra a corrupção, assinalou o embaixador dos Estados Unidos na Guatemala, Todd Robinson.
O congressista americano Ed Royce, presidente da Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara Baixa, exigiu também a Morales para "mudar de curso, respeitar a Corte Constitucional, e permitir a Iván Velásquez continuar seu importante trabalho de apoio às autoridades da Guatemala para combater a corrupção".
- Evitar a investigação -A ordem de expulsão levou à renúncia da cúpula do Ministério da Saúde e um alto funcionário comercial. O chanceler, Carlos Raúl Morales, foi destituído.
Nesta segunda-feira, o governo informou em uma junta de gabinete que os outros ministros e secretários "apoiaram a gestão de Morales". Grupos de direita também expressaram a sua aprovação pela decisão de expulsar o ex-magistrado colombiano.
Velásquez ficou a cargo da Cicig em 2013, mas foi em abril de 2015 que seu nome ficou conhecido ao revelar junto com a Procuradoria uma fraude milionária nas alfândegas que derrubou Pérez, apontado como um chefe de uma rede que cobrava propinas para evadir impostos aduaneiros.
Álvaro Montenegro, integrante do coletivo "Justicia Ya", indicou à AFP que o presidente quer expulsar Velásquez para evitar a investigação de financiamento ilícito de campanha, além de favorecer os seus familiares.
"Todos os que foram acusados por casos de corrupção se aliaram para retirar Iván Velásquez" do país, alertou Montenegro, ativista do movimento surgido em 2015 durante os protestos contra o ex-presidente Pérez.
A Cicig, nas mãos de Velásquez, nos últimos anos revelou outros casos de corrupção envolvendo deputados, prefeitos e empresários.
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