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Começa eleição presidencial no Quênia, boicotada pela oposição

26/10/2017 08h02

Nairóbi, 26 Out 2017 (AFP) - Os quenianos votavam nesta quinta-feira em um tensa eleição presidencial, boicotada pela oposição, que, sem surpresas, dará um novo mandato ao presidente Uhuru Kenyatta.

Em vários redutos da oposição, a polícia entrou em confronto com manifestantes que tentavam bloquear os acessos aos locais de votação eleitorais.

Em Kibera, nos arredores de Nairóbi, a polícia lançou gás lacrimogêneo e disparou para o ar com o objetivo de dispersar os manifestantes. O mesmo aconteceu em Kisumu, Migori (oeste) e no subúrbio de Mathare, em Nairóbi, redutos do líder opositor Raila Odinga.

Quase 19,6 milhões de eleitores estão registrados para votar nesta quinta-feira, depois que o Supremo Tribunal invalidou os resultados da votação de 8 de agosto por irregularidades.

Após denúncias de fraudes, a Comissão Eleitoral realizou algumas reformas, mas a oposição considera que a instância continua parcial e atuando à mando do partido no poder.

Odinga, de 72 anos, convocou seus partidários a boicotar a eleição, considerando não haver condições para uma eleição transparente e justa.

Em algumas localidades os colégios eleitorais não abriram.

"Não entendo como não organizaram nada, mesmo que tivesse apenas 10 pessoas, os colégios eleitorais deveriam estar abertos", protestou Joshau Nyamori, de 42 anos, partidário de Odinga, que não conseguiu votar em Kisumu, região majoritariamente da etnia luo à qual pertence o rival de Kenyatta.

"Estou preocupado porque as pessoas estão sendo obrigadas a ficar em casa, porque têm medo de serem atacadas", lamentou.

Ao menos 40 pessoas morreram desde 8 de agosto, em sua maioria em razão da repressão da polícia, segundo organizações humanitárias. Desde então, o clima político é de grande tensão.

Em 8 de agosto, Kenyatta venceu com 54,27% dos votos, contra 44,74% para Odinga. Mas a votação foi invalidada após as muitas denúncias de fraudes, e a Constituição prevê a realização de uma nova consulta, algo inédito no continente africano.

O Supremo Tribunal justificou sua decisão pelas irregularidades na transmissão dos resultados, sem culpar nenhuma parte, caindo a responsabilidade sobre a Comissão Eleitoral.

Odinga, que foi candidato à Presidência em 1997, 2007 e 2013, pressionou a Comissão para que realizasse reformas, e, por fim, considerou as medidas adotadas como insuficientes.

O presidente da Comissão Eleitoral, Wafula Chebukati, admitiu recentemente que a instância não era capaz de garantir eleições justas.

Odinga utilizou este pretexto para anunciar em 10 de outubro que se retirava da eleição, um passo que não foi formalizado. Seu nome segue nas cédulas de voto, junto com o de Kenyatta e de seis outros candidatos.

O principal rival de Kenyatta denunciou na quarta-feira uma "ditadura" e cobrou a criação de um "movimento nacional de resistência contra a autoridade ilegítima do governo".

No Quênia o voto é exercido mais em função do pertencimento étnico e geográfico do que em relação a programas de governo. Esta crise política expõe novamente as profundas divisões sociais, geográficas e étnicas que atravessam o país e seus 48 milhões de habitantes.

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