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Assessores de campanha de Trump indicados por conspiração em caso russo

30/10/2017 16h45

Washington, 30 Out 2017 (AFP) - O ex-chefe de campanha de Donald Trump e outros dois assessores foram indicados por conspiração contra os Estados Unidos no âmbito das investigações sobre a interferência da Rússia na corrida presidencial de 2016, que o presidente voltou a negar.

O advogado Paul Manafort e seu sócio, Rick Gates, foram indicados por 12 acusações não relacionadas diretamente com atividades do comitê eleitoral de Trump, mas com delitos cometidos enquanto o influente Manafort dirigia a campanha presidencial.

Manafort, de 68 anos, e Gates, de 45, se declararam não culpados a uma corte de Washington, após terem sido acusados de ocultar milhões de dólares recebidos por trabalhar para o político ucraniano Viktor Yanukovych e seu partido pró-russo.

Em paralelo, George Papadopoulos, assessor de política externa da campanha de Trump, admitiu ter mantido reuniões com funcionários russos para enlamear a candidata democrata Hillary Clinton, e se declarou culpado de ter mentido a respeito.

Estas são as primeiras acusações formais apresentadas pelo procurador especial Robert Mueller, que investiga as relações entre o comitê eleitoral de Trump e a Rússia para influenciar a eleição do ano passado.

O caso se concentra nas movimentações financeiras de Manafort e Gates durante a última década, incluindo o período da campanha eleitoral, quando atuaram "como agentes não registrados da Ucrânia" nos Estados Unidos, segundo o documento de 31 páginas assinado por Mueller.

Para "esconder (...) dezenas de milhões de dólares" de pagamentos recebidos da Ucrânia, Manafort e Gates "lavaram dinheiro mediante um enorme número de corporações americanas e estrangeiras, associações e contas bancárias".

Por isso, Manafort foi indiciado por falso testemunho sobre seu papel como agente estrangeiro e por não apresentar as devidas declarações sobre contas bancárias no exterior e registros financeiros.

Manafort foi nomeado chefe de campanha de Trump em junho de 2016, mas acabou sendo afastado do cargo em agosto quando foram reveladas suas ligações com a Ucrânia.

Após o anúncio dos indiciamentos, Trump negou no Twitter que seu comitê de campanha tenha participado de um complô com a Rússia durante a eleição de 2016, defendendo que as investigações se concentrem em sua rival, a democrata Hillary Clinton.

"Não há CONLUIO!", escreveu o presidente.

Sobre as acusações contra seu ex-chefe de campanha, Trump apontou: "Eu sinto muito, mas isso aconteceu há anos, antes que Paul Manafort fizesse parte da campanha de Trump. Mas por que o foco não está sobre Hillary Clinton e os Democratas?".

- Manafort se apresenta ao FBI -Manafort e Gates "canalizaram milhões de dólares" para contas abertas por eles mesmos, ou por seus "cúmplices" em Chipre, São Vicente e Granadinas e Seychelles, segundo Mueller.

De acordo com o documento judicial, essa atividade ocorreu entre 2008 e 2017 e se manteve quando Manafort chefiava a campanha de Trump.

Segundo com o procurador especial, ambos, "juntamente com outros, conspiraram consciente e intencionalmente para lesar os Estados Unidos".

Desta forma, Mueller deixou aberta a porta a mais indiciamentos relacionados ao caso.

Manafort se apresentou voluntariamente, esta manhã, ao escritório local do FBI (a Polícia Federal americana), em Washington, acompanhado por um homem não identificado, após receber uma ordem para se entregar.

Já Papadopoulos se declarou culpado de ter mentido a agentes do FBI que o interrogaram sobre o suposto conluio com a Rússia.

De acordo com documentos legais divulgados nesta segunda-feira, Papadopoulos admitiu ter dialogado com cidadãos russos que ofereciam informações sujas sobre Hillary Clinton, incluindo milhares de e-mails dela, e buscou conectar estas pessoas com a equipe de campanha de Trump.

Esta acusação contra Papadopoulos é a evidência mais forte de possível conluio entre a campanha e a Rússia para favorecer a eleição de Trump.

- Polêmica interminável -À frente do FBI por 12 anos, Mueller foi escolhido em maio deste ano para conduzir as investigações sobre o papel da Rússia nas eleições presidenciais de 2016.

As suspeitas sobre contatos entre a equipe de Trump e a Rússia durante a campanha e imediatamente após a vitória eleitoral provocaram verdadeiros terremotos políticos no novo governo.

Após sua posse, Trump nomeou o general Michael Flynn como seu conselheiro de Segurança Nacional, mas teve de demiti-lo 20 dias depois, quando foi revelado que ele escondeu os contatos com diplomatas russos.

Na sequência, o novo procurador-geral Jeff Sessions teve de rejeitar qualquer investigação sobre o caso, já que ele também manteve contatos não revelados com diplomatas russos.

Mais tarde, Trump forçou a demissão do diretor do FBI, James Comey, alegando que ele permitiu que as investigações se concentrassem em Flynn.

Neste cenário caótico, Mueller foi nomeado procurador especial. Seu legado e integridade implacáveis são unanimemente reconhecidos em Washington - algo raro.

De acordo com a imprensa local, Mueller solicitou à Casa Branca que fornecesse uma extensa lista de documentos, incluindo detalhes referentes às discussões internas que levaram à demissão da Comey.