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Colômbia: explode primeira crise durante trégua com rebeldes do ELN

30/10/2017 19h19

Bogotá, 30 Out 2017 (AFP) - A trégua com o Exército de Libertação Nacional (ELN) enfrenta sua primeira crise na Colômbia. O assassinato de um líder indígena pelas mãos dos rebeldes mina a confiança no cessar-fogo acordado no âmbito dos diálogos de paz em Quito.

O governo decidiu nesta segunda-feira (30) continuar com o cessar-fogo que começou em 1º de outubro, com uma duração inicial de três meses, depois da confissão do crime por parte de uma frente da guerrilha que pediu perdão pelo caso.

"Nenhum incidente por si só será a causa de uma ruptura do cessar-fogo de forma unilateral e automática", esclareceu o escritório do comissário da Paz em um comunicado.

Ainda assim, o caso supõe um "incidente grave" que será avaliado na sexta-feira (3) pela missão de verificação composta pela ONU, pela Igreja Católica e pelas duas partes comprometidas desde fevereiro em uma negociação de paz em Quito, anunciou o chefe negociador do governo, Juan Camilo Restrepo, em sua conta no Twitter.

Somente depois do pronunciamento do mecanismo reunido na capital equatoriana, será definida "a continuidade do cessar-fogo", segundo o governo.

O assassinato que tensionou o acordo com o ELN aconteceu na quarta-feira (25) no departamento de Chocó, em meio a uma série de ataques a líderes sociais e aos direitos humanos que deixam 200 mortos desde janeiro de 2016, de acordo com a Defensoria Pública (ombudsman).

O governador indígena Aulio Isarama Forastero, de 29 anos, havia sido detido por supostas ligações com a Inteligência militar, e morreu depois de se negar a ir com seus captores.

O dirigente "se negou a caminhar e se lançou sobre um de nossos guerrilheiros, com o trágico desfecho conhecido", expressou a Frente de Guerra Ocidental Omar Gómez em comunicado divulgado no domingo (29).

Além do fim das ações militares, o ELN se comprometeu a suspender os sequestros e ataques à infraestrutura petroleira durante a trégua, que acabará em 9 de janeiro.

- Unidade em questão -Embora nenhuma das duas partes tenha reconhecido que se tratou de uma violação do acordado, especialistas em conflito acreditam que essa ação enfraquece a credibilidade na primeira trégua bilateral aceita pelo grupo guevarista desde que pegou em armas em 1964.

"Essa lentidão é que faz com que todo mundo comece a pedir a retirada da mesa" de negociações, assinala Ariel Ávila, da Fundação Paz e Reconciliação, à AFP.

Em sua opinião, embora dificilmente as partes deixem o cessar-fogo por mais "reprovável e doloroso" que seja o crime, o ELN "não entendeu" os "problemas de apoio" nas negociações, e que um crime assim "só faz minar essa confiança com um governo enfraquecido".

A menos de um ano de deixar o poder, Juan Manuel Santos tentar levar à frente os diálogos com o ELN e avança, entre tropeços, na implementação do acordo que levou ao desarme e transformação em partido político da guerrilha marxista Farc.

Santos enfrenta não apenas o rechaço da oposição em seu esforço de paz como a deterioração da coalizão do governo no Congresso, fundamental para a aprovação das leis e reformas que surgem dos acordos.

E pelo lado do ELN, o assassinato supõe novas dúvidas sobre a coesão do grupo.

Ao menos a frente envolvida no crime "não decidiu parar totalmente" sua atividade, assinala Frederic Massé, acadêmico especialista em conflito, que acredita que a direção do ELN será obrigada a dar uma resposta pública para além do perdão já enviado.

Mas uma dura condenação seria "o reconhecimento de que essa frente de guerra ocidental é dissidente", disse à AFP.

Com 1.500 combatentes segundo as autoridades, o ELN é a única guerrilha ativa reconhecida pelo governo, e diferentemente das Farc, tem uma estrutura federada.

"Aqui o que o ELN tem que fazer é ajustar os parafusos e levar alguém da Frente de Guerra Ocidental para as negociações em Quito", acrescenta Ariel Ávila.

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