Em Mianmar, papa evitar falar diretamente dos rohingyas
Naypyidaw, Mianmar, 28 Nov 2017 (AFP) - O papa Francisco pediu nesta terça-feira (28), em Mianmar, o "respeito a todos os grupos étnicos", mas evitou pronunciar a palavra "rohingya" e não fez menção direta ao êxodo dessa minoria muçulmana vítima de perseguições.
Contrariamente a sua postura habitual, o pontífice evitou falar diretamente da violência no oeste de Mianmar. Desde o final de agosto, mais de 620.000 rohingyas se refugiaram em Bangladesh, fugindo dos abusos, assassinatos e torturas cometidos pelo Exército birmanês e por milícias budistas.
Em um discurso pronunciado diante das autoridades civis do país na capital de Naypyidaw, no segundo dia da primeira visita de um papa a Mianmar, Francisco também pediu um "compromisso pela justiça e respeito aos direitos humanos".
O papa se pronunciou após encontrar a líder birmanesa Aung San Suu Kyi no palácio presidencial, na capital Naypyidaw, para uma reunião de 45 minutos.
No encontro, Suu Kyi se comprometeu a proteger os direitos e promover a tolerância para todos.
"Nosso governo tem como objetivo realçar a beleza de nossa diversidade e reforçá-la, ao incentivar a tolerância e garantira segurança para todos", declarou a Prêmio Nobel da Paz.
A Igreja birmanesa defende a Nobel da Paz diante das múltiplas críticas à sua falta de empatia por esta minoria que vive principalmente no oeste do país.
Sinal da reprovação internacional, a cidade britânica de Oxford, onde Suu Kyi estudou e criou seus filhos, retirou o título honorário entregue a ela em 1997.
"Hoje, tomamos a medida sem precedentes de despojá-la da mais alta honra da cidade por sua falta de ação diante da opressão da minoria dos rohingyas", afirma o texto, aprovado por unanimidade.
- Temores da Igreja local -O discurso do papa era aguardado com ansiedade. Em agosto, ele expressou "toda sua proximidade", ao se referir a seus "irmãos rohingyas".
"Todos nós pedimos ao Senhor que os salve e que inspire homens e mulheres de boa vontade a ajudá-los a ter todos seus direitos respeitados", acrescentou.
Mas a Igreja Católica local havia pedido que não contrariasse uma população predominantemente budista, usando a palavra "rohingya", verdadeiro tabu no país.
O arcebispo de Yangun, Charles Bo, primeiro cardeal do país, recomendou que o pontífice evitasse essa palavra e adotasse a expressão "muçulmanos do estado de Rakine".
Essa terminologia oficial e neutra é a que a líder birmanesa Aung San Suu Kyi gostaria de impor para evitar a guerra semântica entre a denominação "bengali" (usada pela maioria budista de Mianmar) e "rohingya" (usada por esses muçulmanos para se referirem a si mesmos).
O termo "bengali" é devido ao fato de, em Mianmar, serem considerados imigrantes ilegais do vizinho Bangladesh, apesar de muitos deles viverem no país há várias gerações.
"Mesmo sem dizer a palavra, sabemos que se trata dos rohingyas. Devemos apoiar os pobres, aqueles que sofrem", declarou à AFP uma religiosa católica da Tailândia que viajou para Yangun para assistir à grande missa papal na quarta-feira.
"É claro que desejaria que o papa usasse a palavra rohingya", disse à AFP Aung Kyaw Moe, um ativista rohingya.
"Pode ser que não use aqui, mas ao final de seu viagem, quando estiver em Bangladesh", acrescentou.
Segundo as Nações Unidas, o Exército realiza no oeste de Mianmar uma "limpeza étnica" contra os rohingyas.
Isso não impediu o chefe do Exército, general Min Aung Hlaing, de assegurar ao papa na segunda-feira que "não há, de jeito nenhum, discriminação religiosa" no país.
O encontro entre o papa e o general - "de cortesia", segundo o Vaticano - durou apenas 15 minutos.
Desde a promulgação de uma lei em 1982, os rohingyas foram privados da nacionalidade birmanesa e constituem a maior população apátrida do mundo.
São vítimas de múltiplas discriminações: trabalho forçado, extorsão, restrições à liberdade de circulação, regras injustas de casamento e confisco de terras. Também têm acesso limitado à educação e a outros serviços públicos.
tib-cm/dth/roc/mr/tt
Contrariamente a sua postura habitual, o pontífice evitou falar diretamente da violência no oeste de Mianmar. Desde o final de agosto, mais de 620.000 rohingyas se refugiaram em Bangladesh, fugindo dos abusos, assassinatos e torturas cometidos pelo Exército birmanês e por milícias budistas.
Em um discurso pronunciado diante das autoridades civis do país na capital de Naypyidaw, no segundo dia da primeira visita de um papa a Mianmar, Francisco também pediu um "compromisso pela justiça e respeito aos direitos humanos".
O papa se pronunciou após encontrar a líder birmanesa Aung San Suu Kyi no palácio presidencial, na capital Naypyidaw, para uma reunião de 45 minutos.
No encontro, Suu Kyi se comprometeu a proteger os direitos e promover a tolerância para todos.
"Nosso governo tem como objetivo realçar a beleza de nossa diversidade e reforçá-la, ao incentivar a tolerância e garantira segurança para todos", declarou a Prêmio Nobel da Paz.
A Igreja birmanesa defende a Nobel da Paz diante das múltiplas críticas à sua falta de empatia por esta minoria que vive principalmente no oeste do país.
Sinal da reprovação internacional, a cidade britânica de Oxford, onde Suu Kyi estudou e criou seus filhos, retirou o título honorário entregue a ela em 1997.
"Hoje, tomamos a medida sem precedentes de despojá-la da mais alta honra da cidade por sua falta de ação diante da opressão da minoria dos rohingyas", afirma o texto, aprovado por unanimidade.
- Temores da Igreja local -O discurso do papa era aguardado com ansiedade. Em agosto, ele expressou "toda sua proximidade", ao se referir a seus "irmãos rohingyas".
"Todos nós pedimos ao Senhor que os salve e que inspire homens e mulheres de boa vontade a ajudá-los a ter todos seus direitos respeitados", acrescentou.
Mas a Igreja Católica local havia pedido que não contrariasse uma população predominantemente budista, usando a palavra "rohingya", verdadeiro tabu no país.
O arcebispo de Yangun, Charles Bo, primeiro cardeal do país, recomendou que o pontífice evitasse essa palavra e adotasse a expressão "muçulmanos do estado de Rakine".
Essa terminologia oficial e neutra é a que a líder birmanesa Aung San Suu Kyi gostaria de impor para evitar a guerra semântica entre a denominação "bengali" (usada pela maioria budista de Mianmar) e "rohingya" (usada por esses muçulmanos para se referirem a si mesmos).
O termo "bengali" é devido ao fato de, em Mianmar, serem considerados imigrantes ilegais do vizinho Bangladesh, apesar de muitos deles viverem no país há várias gerações.
"Mesmo sem dizer a palavra, sabemos que se trata dos rohingyas. Devemos apoiar os pobres, aqueles que sofrem", declarou à AFP uma religiosa católica da Tailândia que viajou para Yangun para assistir à grande missa papal na quarta-feira.
"É claro que desejaria que o papa usasse a palavra rohingya", disse à AFP Aung Kyaw Moe, um ativista rohingya.
"Pode ser que não use aqui, mas ao final de seu viagem, quando estiver em Bangladesh", acrescentou.
Segundo as Nações Unidas, o Exército realiza no oeste de Mianmar uma "limpeza étnica" contra os rohingyas.
Isso não impediu o chefe do Exército, general Min Aung Hlaing, de assegurar ao papa na segunda-feira que "não há, de jeito nenhum, discriminação religiosa" no país.
O encontro entre o papa e o general - "de cortesia", segundo o Vaticano - durou apenas 15 minutos.
Desde a promulgação de uma lei em 1982, os rohingyas foram privados da nacionalidade birmanesa e constituem a maior população apátrida do mundo.
São vítimas de múltiplas discriminações: trabalho forçado, extorsão, restrições à liberdade de circulação, regras injustas de casamento e confisco de terras. Também têm acesso limitado à educação e a outros serviços públicos.
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